Com Dom
Manuel começa o segundo fôlego da dinastia de Avis, marcada pelo controlo da
nobreza cujos apetites de riqueza e poder eram insaciáveis.
Ele opôs-se
ferozmente à união da s casas de Viseu e de Bragança, mesmo contra os seus
familiares, como era o seu tio D. Fernando. No seu reinado apenas criou uma
casa titular, o condado de Borba.
Recomposta
a nobreza titular, através da restauração do ducado de Bragança e o condado de
Faro, sediado em Odemira, o rei iniciou uma política de apaziguamento do
território.
Entretanto,
sucediam-se os sucessos marítimos com a descoberta do Caminho Marítimo para a
Índia e do Brasil.
Era tempo
do monarca olhar para dentro. D, Manuel começa a viajar pelo pais, tendo
visitado localidades que nunca tinham recebido o Rei de Portugal, como fora o
caso de Valença do Minho, em 1483.
Damião de
Góis, (cf. Crónica do Felicíssimo rei D. Manuel, Universidade de Coimbra, 1949
a 1955), escreve que o soberano, “em algumas vilas. mandou fazer justiça
rigorosa de pessoas em que até aquele tempo não se pudera fazer execução, pela
muita valia e parentesco que tinham naqueles lugares”.
O rei dava mostras do
seu poder pessoal, aparecendo nas localidades de forma anónima e discreta,
durante uma viagem até Compostela.
O reinado
de D. Manuel caracterizou-se por intensa actividade, ao ponto de Góis afirmar
que o rei, às sextas-feras “ia sempre ouvir os presos e ser presente ao dar das
sentenças, e isto sem nunca faltar”.
O rei
realizava frequentemente audiências públicas em que receba "todos os que lhe
queriam falar”, acompanhado sempre de um escrivão e um vedor da Fazenda.
Acresce que
o monarca trocava correspondência com centenas de súbditos do reino e há provas
de que o rei “acompanhava de perto os assuntos, que lia de facto as cartas que
lhe eram endereçadas e que intervinha, as mais das vezes, na redacção das
respostas” (cf. COSTA, João Paulo Oliveira, D. Manuel I, ed. Círculo de
Leitores, Lisboa, 2005, pp. 100-144).
O rei era
um mouro de trabalho e Damião de Góis refere-se a ele como um homem “de tão
pouco sono que por mui tarde que se lançasse, se alevantava sempre antes do sol
saído se o não estorvava alguma má disposição”.
Entre 1505
e 1509, D. Manuel fez a maior viagem pelo país, quando Lisboa era duramente
fustigada pela peste, com ponto de partida em Almeirim. O rei respondia à
criticas do povo de sedentarização da Corte. A única região que D. Manuel não
terá visitado foi Trás-os-Montes.
No Minho
esteve durante o ano de 1502, aquando da viagem que fez a Santiago, fazendo com
que o rei conhecesse bem o país e o que o povo pensava.
É este
conhecimento que torna D. Manuel I um agente redistribuidor da riqueza,
administrador da justiça e defensor dos seus súbditos, ao assegurar a
convivência harmoniosa entre eles.
Nesse
sentido promoveu a elaboração de novos tombos e cadastros e a reforma das
instituições feudais e assume-se como um príncipe do Renascimento. Ele não
queria ser apenas o rei da especiarias que se consumia em beatarias e em
sumptuosidades.
Por isso,
desencadeia um longo e laborioso trabalho de normalização administrativa dos
forais, grande parte deles desactualizados e desrespeitados, para reformular
instituições concelhias de apoio à saúde e combate à pobreza.
Devido aos
sucessivos queixumes das populações, nas Cortes, Dom Manuel I, monarca inovador
e reformador, procede à reforma dos forais, por ser «couza muy proveitosa».
Para D.
Manuel I, o ofício do Rei “não he outra cousa senão Reger bem e governar seus
subditos em Justiça, e Igualdade”.
Para ele,
os conceitos de Justiça e Igualdade – tão actuais que são, não é? — “não he somente dar ha cada hum ho que
seu for mas ajnda não leixar acquirir nem levar nem tomar ha ninguem senão ho
que a cada direitamente pertence”.
Ao mesmo
tempo que reforçava o seu poder, D. Manuel assumia-se como “governante justo
que procurava assegurar a harmonia social e a prosperidade económica, enquanto
promovia o alargamento da cristandade”.
Aliás, há
historiadores (como Fernando Baptista Pereira) que traçam os limites da sua
ambição: “ser um rei-sacerdote, justo e bom, espelho e Salomão, verdadeiro
Preste João do Ocidente” como incansável construtor de “paços, igrejas e
mosteiros”.
Também não
se pode afirmar que os forais novos tenham pouca importância neste reinado. D.
Manuel, logo que foi entronizado rei, enviou corregedores por todo o país com
alçada até à morte, demonstrando assim a sua intenção de “colocar todos os
súbditos sob a alçada da Justiça, a que não escapavam os próprios magistrados”
até porque “os que achou culpados mandou castigar”.
O rei pretendia
que a Corte tivesse uma imagem tão real quanto possível do reino, com
realização de tombos de todas as capelas, confrarias e Igrejas, atribuindo-lhes
responsabilidades no tratamento de doentes, reforçando as Misericórdias lanças
por D. Leonor. Exemplo desse esforço é a promoção da construção do Hospital em
Braga, em 1508, realizada pelo arcebispo de Braga, que incorporava as rendas
das gafarias, dízimos das igrejas e bens das confrarias (como assegura MARQUES,
A. H., in Nova História de Portugal, Vol. V. Lisboa, Ed. Presença, 1998, pp.
442-443).
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