Monday, December 2, 2013

Os rostos da República de A a Z (15)


Em 1922, publica uma edição aumentada de Canções de António Botto, um livro de versos que celebrizava a beleza masculina. Para promover o livro publica um artigo “António Botto e o ideal de estética em Portugal”. O monárquico Álvaro Maia responde-lhe com “Literatura de Sodoma: o sr. Fernando Pessoa e o ideal estético em Portugal”. Raul Leal contrapõe com “Sodoma divinizada” e surge uma Liga de Acção de Estudantes de Lisboa contra a “literatura de Sodoma”.

O livro de Botto e o artigo de Leal são apreendidos pelo governdor civil de Lisboa enquanto é distribuído um manifesto contra “a inversão da inteligência, da moral e da sensibilidade”.

Pessoa responde, numa folha assinada por Álvaro de Campos: “Ó meninos, estudem, divirtam-se e calem-se”. Enceta depois um combate escrito pela liberdade de expressão que contrasta com o seu sidonismo anterior. Pessoa, após o assassínio de Sidónio Pais, glorificou-o com o poema “À memoria do Presidente-Rei Sidónio Pais”, em 1920, prenúncio do regresso do Desejado D. Sebastião. 

É a primeira manifestação de sebastianismo. Baseado nas profecias do sapateiro de Trancoso (séc. XVI), Pessoa quer afirmar-se como Salvador da literatura de Portugal, o super-Camões, ao mesmo tempo que desejava um super-homem politico, um grande estadista, que pudesse salvar o país do caos em que este se afundara.

Apesar do gosto pelo escândalo, Pessoa já não era visto como um jovem irrequieto, desejoso de dar nas vistas. Tornara-se um homem respeitado, recatado e de hábitos certos,  admitindo, em 1920, a possibilidadde de se casar com Ofélia Queirós, a quem declara um “amor extremo”.

No entanto, nas cartas trocadas entre ambos, Fernando Pessoa falava-lhe de assuntos corriqueiros. Costumavam passear a pé mas Fernando nunca quis ir a casa dela e conhecer os seus familiares. A relação ficou numa caixa, num compartimento, isolada do resto da vida de Pessoa, apesar de ter tido grande importância para ele. 

Guardou as muitas cartas e postais de Ofélia. Ele queria amá-la mas faltava-lhe o essencial: a entrega. Quando o namoro acabou, ele sentiu-se “aliviado e sem vocação" para “outras afeições”.
Com o país em crise, por sete mudanças de governo em 1920, inúmeras greves e manifestações, a vida de Pessoa entra numa fase de estabilidade. 

Vive na casa de Ourique até ao fim da vida, com pequenas viagens ao Alentejo ou ao Estoril, para visitar a sobrinha, filha do irmão Luís, nascida em 1931.

Abandonada a ideia de emigrar para Londres, Fernando Pessoa convenceu-se a ficar em Lisboa para consolidar a sua obra e pros-seguir a sua missão “civilizadora”.

Ele fazia questão de afirmar que “o imperialismo dos gramáticos dura  mais e vai mais fundo que o dos generais” e interiorizava que “a única compensação moral que devo à literatura é a glória futura de ter escrito as minhas obras presentes”, numa década em que a produção de Pessoa diminuía.





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