Thursday, January 24, 2013

Os rostos da República: OLiveira Salazar (5)

O Jovem entra na universidade alguns dias apos a revolução de Outubro, começando por se matricular em Letras mas depressa se muda para Direito, aproveitando-se de algumas facilidades concedias pelos republicanos para completar cadeiras mais depressa que o normal. 

Recuperava tempo perdido de forma merecida a avaliar pelos prémios que recebe por decisão unânime de jurados catedráticos.

A luta ideológica em Coimbra é intensa e não deixa ninguém indiferente, fazendo com que Salazar alinhe pelo seu campo de sempre, o conservador, através da militância no Centro Académico da Democracia Cristã. 

Ao lado dele está o famalicense Manuel Gonçalves Cerejeira, um ano mais velho. A emotividade de Cerejeira mistura-se com a serenidade de Salazar e à exuberância daquele este responde com discrição e se Manuel é discreto, o António é impenetrável. Encaixam-se em tudo o resto, tornando-se companheiros de combate e amigos íntimos.

Cerejeira dirige o “Imparcial”, um aguerrido jornal de combate contra o anticlericalismo republicano, mas Salazar prefere não se misturar nessa dicotomia república/monarquia, escrevendo dezenas de artigos para o jornal sobre o ensino e questões universitárias.

As elevadas notas de Salazar – entre o18 e o 19 – fazem sensação em Coimbra e a fama atrai muitas atenções femininas que o acompanham nas férias de Verão, para desespero de Felismina, em perda de terreno, porque ele lhes “correspondia com bastante satisfação”.

Para reforçar a sua magra mesada, dava explicações e entre as explicandas encontra-se Júlia Perestrello, filha da sua madrinha, a frequentar um colégio de freiras.

Doutrinador respeitado nas fileiras do catolicismo militante, Salazar compõem em 1912 a tetralogia dos seus sagrados valores: “Deus, Pátria, Liberdade e Família”. 

Um ano depois, em Braga, aborda a relação entre democracia e Igreja, esquecendo a Liberdade que celebrara antes. “Deve mandar quem sabe e quem pode”, dentro da livre opção da sociedade civil pelo sistema político que considere mais apropriado porque “não nos é possível, em nome do Evangelho, aclamar a Monarquia ou detestar a República”. Alexis de Tocqueville ou Charles Maurras não fariam melhor discurso para o combate nacionalista contra o cosmopolitismo republicano.

O ano de 1914 marca a viragem definitiva na vida de António Salazar, com um feito notável na nota final da licenciatura de “muito bom, com distinção e dezanove valores”.

O sucesso escolar não o livra da recorrente depressão que o obriga a refugiar-se no seu quarto sem ver a luz do dia, até aceitar o conselho do amigo Manuel Cerejeira para se recolher num convento, com ele.

Inicia-se então uma fulgurante carreira académica como professor de Ciências económicas e financeiras, tornando-se figura influente do partido do Centro Católico Português (CCP), fundado em 1917, de modo a permitir aos católicos uma intervenção política. 

Está a chegar o sidonismo…

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