Thursday, January 24, 2013

Os rostos da República: OLiveira Salazar (3)


O primeiro responsável pela desagregação do regime que ele criou, deixa um país que não agrada a ninguém porque interiorizou que devia à Providência “a graça de ser pobre” (cf. Discurso à União Nacional, no Porto, em 1949).

O Camponês, filho de camponeses que não pode viver ”sem respirar o cheiro da terra”, nasce quando os pais – já com quatro filhas – não esperavam ter um filho varão, a 28 de Abril de 1889.

Os seus pais foram um casal camponês e beirão, típico de Portugal monárquico do último quarto do século XIX, em suportável humildade, perto de Santa Comba Dão.

António Oliveira é feitor de uma distinta família de proprietários rurais – os Perestrelos – com terras e outros bens espalhados entre Viseu e Coimbra.

Os Perestrelos são padrinhos e protectores da família, mas não aparecem ao baptizado e fazem representar-se por um carpinteiro de Santa Comba e esposa.
Como não havia escola primária em Vimieiro, é um funcionário municipal quem inicia as crianças nas primeiras letras. 

O pequeno António é pouco sociável, adora flores e pássaros e desata a chorar quando algum dos pintassilgos foge da gaiola, nos tempos livres entremeados com ajuda ao pai nas ides rurais.

Assim, desenvolve pela mãe um carinho ilimitado e esta responde com afeição interessada na educação do benjamim da família. Os 14 valores conseguidos no exame de quarta classe confirmam o talento do menino que é enviado para Viseu, o Liceu mais próximo mas longe da mãe. 

É uma flor de estufa, indefesa perante as brincadeiras dos colegas. O pároco sugere uma solução, ir para o seminário e formar um futuro sacerdote, porque é metódico, aplicado e cumpridor.

Passa sempre com distinção em várias disciplinas mas não descura o secreto e correspondido amor com Felismina Oliveira, a acabar o liceu e apontada como futura professora.

Felismina dá explicações à irmã mais velha de Salazar, Mata, também a estudar para professora, e ficaram, um dia, na estação do comboio de Viseu, “uns instantes, de olhos nos olhos, estáticos, talvez ávidos de nos conhecermos pessoalmente um ao outro…

Ela e Marta visitam o António no Seminário, muito pálido, moreno, magrinho e alto, que comia pouco. Elas levavam-lhe “castanhas assadas e marmelada”. 

Seguem-se encontros na casa da Felismina onde a Marta estava hospedada ate quem uma carta a vai perturbar: “A vida de um lavrador é a mais bela. Andar a trabalhar nos campos, regressar à tarde a casa e encontrar os braços da esposa à sua espera é… é mudar esta vida num Paraíso e vós podeis mudá-la”. 

Sublinhadas as três últimas palavras, Felismina vive uma paixão hesitante e desorientada por temer a ira divina de andar a desorientar um futuro padre.

Nas férias, Felismina não evitava passeios em que “segurava a minha mão na dele, enlaçava-me pela cintura e seguíamos assim os dois como se fôssemos um par de namorados”.




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