Thursday, January 24, 2013

Os rostos da República: OLiveira Salazar (6)


Em 1918 ele encontra-se entre o grupo de professores que saúdam Sidónio Pais, na sua visita presidencial a Coimbra, aventando-se a hipótese de ser ministeriável. 

Coincide com o início de uma relação platónica com Glória Castanheira, pianista célebre de Coimbra, mas esta acaba por sofrer também com a tibieza de António. Os colegas acusam-nos de basear a sua atracção pelas mulheres apenas no espírito.

Mas o pior acontece quando é acusado de proselitismo monárquico e acaba suspenso da docência, mas Salazar defende-se de forma arrasadora e o juiz reintegra-o ao fim de um mês por nada se haver provado contra ele.

Fala-se então na sua candidatura pelo Centro Católico Português por Viana do Castelo, mas acaba por ser apontado para representar Guimarães, contra sua vontade.

Provedor da Misericórdia de Coimbra, António Salazar regressa a nova depressão, porque a sua ida para Lisboa era uma “revolução na minha vida, nos meus hábitos e (…) tira-me o relativo sossego do meu viver apagado e a distracção dos meus livros. Começo a sentir que não hei-de ser nada – nem professor, nem deputado, nem provedor da Misericórdia – nada a não ser uma pessoa cuja vontade se violentou”.

Numa carta à pianista, escreve: “não sinto entusiasmo por nada. Estou morto”. Despede-se de Lisboa nas férias de Verão e em 19 de Outubro de 1921 acontece a “Noite sangrenta” que põe fim à experiência parlamentar de Salazar.

A sua reputação como ideólogo do CCP afirma-se em Abril de 1922 quando define como prioridade dos católicos “conquistar no regímen actual as liberdades fundamentais da Igreja” em detrimento da Monarquia ou da República.

Aos 33 anos, Salazar não é um desconhecido, mas um académico respeitado e apontado como detentor da solução para a bancarrota nacional. Sem pressa, o lente de Coimbra dedica-se a palestras para os círculos católicos, como Braga, no Congresso Eucarístico de 1924, e a escrever artigos para jornais refugiando-se no Vimieiro, onde a mãe precisa dos seus cuidados.

Continua a namoriscar, agora com a vizinha, com quem troca cúmplices olhares de janela para janela. É a Júlia Alves Moreno, irmão do seu amigo Guilherme. Manuel Cerejeira reprova o comportamento e ele responde: “que queres? Ela é que me provoca, é que toma a iniciativa, e eu não sou frade”.

A sua carreira política sofre um desaire ao falhar a eleição como deputado por Arganil, em 1925, mas meio ano depois, a revolta militar saída de Braga, em 28 de Maio de 1926, vai mudar toda a vida daquele de quem a mãe disse à sua primeira namorada: “o meu filho é só meu”. 

Obcecada pela ordem, pela poupança e pelo controlo rigoroso da economia doméstica, na sua casa de comes e bebes, ela constitui a principal influência familiar sobre o seu filho António, sendo sua conselheira e orientadora. 

É por obediência a ela – Maria do Resgate - que António segue para o Seminário de Viseu porque, nas aldeias, “ser padre significa promoção social e fuga à endémica miséria nacional”. 

Viseu fecha-lhe o caminho do sacerdócio e abre o caminho para outras ambições. Ele detestava ser o filho do feitor… e por causa disso abandona o primeiro amor e acolhe-se à sombra do amigo Manuel Cerejeira.




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