Friday, January 25, 2013

Os rostos da República: Fernando Pessoa (1)


Almada Negreiros é a ponte simples que utilizamos para começar a falar dos quatro maiores poetas portugueses do século XX: Fernando António Nogueira Pessoa, nascido em Lisboa, a 13 de Junho de 1888, mais conhecido como Fernando Pessoa.

Os quatro maiores poetas portugueses são um, afinal? Sim e só é estranho este sim para quem não conheça este fenómeno literário, mais insólito ainda se soubermos que Fernando Pessoa apenas publicou um livro de versos em português: Mensagem, com 44 poemas, em 1934.

Pessoa, já na sepultura surpreendeu o mundo não só por ter deixado muita poesia inédita mas também por ser o criador de vários poetas desconhecidos, e ainda de vários prosadores.

Os três nomes de poetas, juntamente com o nome que recebeu no baptismo, formam um quarteto assombroso que transformou a literatura portuguesa, europeia e mesmo mundial. Álvaro de Campos, foi revelado em 1915, Ricardo Reis aparece nove anos depois e, por último, Alberto Caeiro, no ano seguinte, em 1925.

É considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, e da Literatura Universal, muitas vezes comparado com Luís de Camões. O crítico literário Harold Bloom considerou a sua obra um "legado da língua portuguesa ao mundo".

Por ter sido educado na África do Sul, para onde foi aos seis anos em virtude do casamento de sua mãe, Pessoa aprendeu perfeitamente o inglês, língua em que escreveu poesia e prosa desde a adolescência. 
 
Das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa. Fernando Pessoa traduziu várias obras inglesas para português e obras portuguesas (nomeadamente de António Botto e Almada Negreiros) para inglês.

Ao longo da vida trabalhou em várias firmas comerciais de Lisboa como correspondente de língua inglesa e francesa. 
 
Foi também empresário, editor, crítico literário, jornalista, comentador político, tradutor, inventor, astrólogo e publicitário, ao mesmo tempo que produzia a sua obra literária em verso e em prosa. 
 
Como poeta, desdobrou-se em múltiplas personalidades conhecidas como heterónimos, objecto da maior parte dos estudos sobre sua vida e sua obra. Centro irradiador da heteronímia, auto-denominou-se um "drama em gente".

Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples. 
Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte. 
Entre uma e outra todos os dias são meus” 
(cf. Alberto Caeiro; Poemas Inconjuntos; in Atena nº 5 de Fevereiro de 1925.

A 13 de Junho de 1888 nasce em Lisboa Fernando Pessoa, numa família da pequena aristocracia, pelos lados paterno e materno; o pai, Joaquim de Seabra Pessoa (38 anos), de Lisboa, era funcionário público do Ministério da Justiça e crítico musical do «Diário de Notícias». A mãe, D. Maria Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa (26 anos), era dos Açores (da Ilha Terceira). Viviam com eles a avó Dionísia, doente mental, e duas criadas velhas, Joana e Emília.

Fernando António foi baptizado em 21 de Julho na Basílica dos Mártires, ao Chiado, tendo por padrinhos a Tia Anica Luísa Pinheiro Nogueira, tia materna, e o General Chaby. A escolha do nome homenageia Santo António: a família reclamava uma ligação genealógica com Fernando de Bulhões, nome de baptismo de Santo António, festejado em Lisboa a 13 de Junho, dia em que Fernando Pessoa nasceu.

As suas infância e adolescência foram marcadas por factos que o influenciariam posteriormente. Às cinco horas da manhã de 24 de Julho de 1893, o pai morreu, com 43 anos, vítima de tuberculose. 

Fernando tinha apenas cinco anos. O irmão Jorge faleceu no ano seguinte, sem completar um ano. A mãe vê-se obrigada a leiloar parte da mobília e muda-se para uma casa mais modesta. 

Foi neste período que surgiu o primeiro heterónimo de Fernando Pessoa, Chevalier de Pas, facto relatado pelo próprio a Adolfo Casais Monteiro, numa carta de 1935, em que fala sobre a origem dos heterónimos. 

Ainda no mesmo ano, escreve o primeiro poema, um verso curto com a infantil epígrafe de À Minha Querida Mamã. A mãe casa-se pela segunda vez em 1895 por procuração, na Igreja de São Mamede, com o comandante João Miguel Rosa, cônsul de Portugal em Durban (África do Sul). 

Em África, onde passa a maior parte da juventude e recebe educação inglesa, Pessoa demonstra desde cedo talento para a literatura.

Faz a instrução primária na escola de freiras irlandesas da West Street, onde fez a primeira comunhão, e percorre em dois anos o equivalente a quatro.

Em 1899 ingressa no Liceu de Durban, onde permanece três anos e será um dos primeiros alunos da turma e cria o pseudónimo Alexander Search, através do qual envia cartas a si mesmo. 

No ano de 1901, escreve os primeiros poemas em inglês. Na mesma altura, morre a irmã Madalena Henriqueta, de dois anos. Em 1901 parte com a família para Portugal, para um ano de férias. No navio em que viajam, o paquete König, vem o corpo da irmã.

Na capital portuguesa, nasce João Maria, quarto filho do segundo casamento da mãe de Pessoa. Viaja com a família à Ilha Terceira, nos Açores, onde vive a família materna.
Mantém contacto com a literatura inglesa através de autores como Shakespeare, Edgar Allan Poe, John Milton, Lord Byron, John Keats, Percy Shelley, Alfred Tennyson, entre outros. 

O Inglês teve grande destaque na sua vida, trabalhando com o idioma quando, mais tarde, se torna correspondente comercial em Lisboa, além de o utilizar em alguns dos seus textos e traduzir trabalhos de poetas ingleses, como O Corvo e Annabel Lee de Edgar Allan Poe. 

Com excepção de Mensagem, os únicos livros publicados em vida são os das colectâneas dos seus poemas ingleses: Antinous e 35 Sonnets e English Poems I - II e III, editados em Lisboa, em 1918 e 1921.

Fernando Pessoa permanece em Lisboa, enquanto todos — mãe, padrasto, irmãos e criada Paciência — regressam a Durban. Volta sozinho para a África e matricula-se na Durban Commercial School, escola comercial de ensino nocturno, e de dia estuda as disciplinas humanísticas para entrar na universidade. 

Em 1903, candidata-se à Universidade do Cabo da Boa Esperança. Na prova de exame de admissão e tira a melhor nota entre os 899 candidatos no ensaio de estilo inglês. Recebe o Queen Victoria Memorial Prize («Prémio Rainha Vitória»). 
 

Deixando a família em Durban, regressa definitivamente à capital portuguesa, sozinho, em 1905. Passa a viver com a avó Dionísia e as duas tias. 
 
Continua a produção de poemas em inglês e, em 1906, matricula-se no Curso Superior de Letras (actual Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), que abandona sem sequer completar o primeiro ano. Interessa-se pela obra de Cesário Verde e pelos sermões do Padre António Vieira.

Em Agosto de 1907, morre a sua avó Dionísia, deixando-lhe uma pequena herança, com a qual monta uma pequena tipografia, «Empreza Ibis — Typographica e Editora — Officinas a Vapor», que vai à falência. 

A partir de 1908, dedica-se à tradução de correspondência comercial, uma ocupação a que poderíamos dar o nome de "correspondente estrangeiro". Nessa actividade trabalha a vida toda, tendo uma modesta vida pública.

Inicia a sua actividade de ensaísta e crítico literário com o artigo «A Nova Poesia Portuguesa Sociologicamente Considerada», a que se seguiriam «Reincidindo…» e «A Nova Poesia Portuguesa no Seu Aspecto Psicológico» publicados em 1912 pela revista A Águia, órgão da Renascença Portuguesa.

Frequenta a tertúlia literária que se formou em torno do seu tio adoptivo, o poeta, general aposentado Henrique Rosa, no Café A Brasileira, no Largo do Chiado em Lisboa. Mais tarde, já nos anos vinte, o seu café foi o Martinho da Arcada, na Praça do Comércio, onde escrevia e se encontrava com amigos e escritores.

Em 1915 participou na revista literária Orpheu, a qual lançou o movimento modernista em Portugal, causando algum escândalo e muita controvérsia. Esta revista publicou apenas dois números, nos quais Pessoa publicou em seu nome, bem como com o heterónimo Álvaro de Campos. No segundo número da Orpheu, Pessoa assume a direcção da revista, juntamente com Mário de Sá-Carneiro.

Em Outubro de 1924, juntamente com o artista plástico Ruy Vaz, Fernando Pessoa lançou a revista Athena, na qual fixou o «drama em gente» dos seus heterónimos, publicando poesias de Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro, bem como do ortónimo Fernando Pessoa.

Morreu no dia 30 de Novembro, com 47 anos de idade. Na véspera escreve em inglês: "I know not what tomorrow will bring" ("Não sei o que o amanhã trará").

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