Wednesday, March 21, 2012

Os rostos da República de A a Z: Bernardino Machado (03)


Bernardino Machado criou um porto franco em Lisboa para os produtos brasileiros, criou novas escolas nas colónias, licenciou a construção do hospital de Braga e referendou a lei da responsabilidade criminal do poder executivo

No Governo de Hintze Ribeiro, em 1893, última tentativa liberal da monarquia, aceita ser ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria para sair “das cadeiras do poder impoluto como entrara”, ao ponto de Rafael Bordalo Pinheiro o descrever como “caniço por fora e aço por dentro”.

Todavia, a sua herança era bem pesada e benéfica para o país como resultado do trabalho de dez meses de gestão.

É dele a ideia de criar o Museu Nacional e Arqueologia e Etnologia, a criação da estação aquícola do Vale do Ave, a primeira adega e o primeiro lagar social, bem como dos sindicatos agrícolas, a par da regulamentação do trabalho das mulheres e dos menores nas fábricas.

Demite-se por discordar da Monarquia e adere à Repúbica na célebre conferência de 31 de Outubro de 1903 no Ateneu Comercial de Lisboa, quando afirma que “não é lícito esperar a salvação dentro da Monarquia” porque essa só é possível com a “massa inteira da Nação, o seu valioso povo, as suas classes trabalhadoras”.

Depois lança um desfio: “organize-as o partido republicano e a Nação salvar-se-á”.
Começa então uma intensa campanha contra o regime monárquico, em comícios e em declarações à imprensa nacional e estrangeira.

A coragem física não é inferior à coragem moral de Bernardino, ao ponto de nas últimas eleições monárquicas de 1910 Bernardino ter obtido uma votação quase consagradora.

È a ele quem é atribuída a missão do reconhecimento internacional do novo regime republicano, renovando a aliança com Inglaterra e resolvendo o litígio coma China por causa de Macau.

Reorganiza o corpo diplomático e consular, cria escolas de português no estrangeiro e promove a defesa dos interesses na difícil negociação com o Brasil, abrindo as portas para a emigração de tantos milhares de portugueses.

Em 1914 preside a um governo supra partidário que se pauta pelos direitos e obrigações de nação livre e aliada de Inglaterra, da qual não se podia alhear a democracia portuguesa.

Prevendo os efeitos da I Guerra, arrolou o trigo para cálculo do que se devia importar, avalizou as compras de algodão para que as nossas fábricas não fechassem, probiu a exportação de géneros alimentares e evitou a especulação cambial.
Criou um porto franco em Lisboa para os produtos brasileiros, criou novas escolas nas colónias, iniciou a construção do hospital de Braga e referendou a lei da responsabilidade criminal do poder executivo.

Norton de Matos há-de reconhecer mais tarde que Bernardino Machado “foi sempre o grande inspirador e orientador e em grande parte o seu executor a grande obra nacional que se fez em Portugal entre Agosto de 1914 e Dezembro de 1917”.

Em Dezembro, resigna à presidência da República e é conduzido ao exílio, fixado residência em França, mas não deixa de lutar pela normalização q vida da República.

Após a tentativa nortenha de restabelecimento da monarquia, Bernardino Machado regressa a Portugal e retoma o seu combate até chefiar o governo em 1921, com a “união das esquerdas” traduzida na amnistia aos adversários, promovendo o soldado Desconhecido no Mosteiro da Batalha.

Prepara-se a candidatura à Presidência da República em 1923 para “arrancar o estado das influências sacrílegas dos aventureiros e dos exploradores que infestam a República” como “défice de soberania popular”.

Mas os seus apelos vão cair em saco roto.

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