Tuesday, January 3, 2012

Os rostos da República de A a Z: Sidónio Pais (8)


Sidónio Pais é reconfortado com o apoio na província, como aconteceu em Braga, em Janeiro de 1918. Do Norte segue para o Sul e as manifestações das multidões foram interpretadas como aclamação do Dezembrismo, um sistema longe da desgastada política tradicional, a Nova República.

Sidónio afirma-se republicano e fiel aos compromissos internacionais, perfilando uma revolução feita contra uma casta de políticos, contra a tirania e a demagogia, acentuando os valores da liberdade, tranqüilidade, ordem e trabalho.

Para isso, recorria da sempre velha e invocada ideia da regeneração e salvação da Pátria. Três meses depois, esclarece o rumo da sua Revolução: “implantar um regimen novo em que monárquicos e republicanos possam viver” ou seja, uma República para todos (cf. Um ano de ditadura, discurso e alocuções de Sidónio Pais, Lisboa, Lusitânia Editora, 1924).

A prioridade económica cede lugar à política e, perante a falência do parlamentarismo, a “nova ideia” é um regime presidencial, criado a partir de Março, com dois decretos. Um, de 11 de Março, estabelece o sufrágio universal (apenas masculino), e outro, 30 de Março, cria uma segunda câmara corporativa com representantes provinciais, das actividades econômicas, serviços, profissões liberais, artes e ciências.

Com a eleição do Presidente por sufrágio universal (e não pela Assembleia, como até então), o Presidente assumia mais poderes sobre o Parlamento e o Governo. Eleito em Abril de 1918, Sidónio Pais tem toda a margem de manobra para impor a “nova idéia”, assumindo-se como Chefe das Força Armadas e mentor do governo cujos ministros nomeava.

O Parlamento torna-se um órgão estéril, em resultado da sua vida atribulada e pouco pacífica, com longas discussões e cenas de violência entre os parlamentares.

As diferentes direitas portuguesas têm aqui o modelo que vão impor no futuro, enquanto o “bom rei” com maus ministros caminhava para o seu isolamento, apesar do fôlego que recebe com o fim da I Guerra Mubndial, em 11 de Novembro.

Sidónio capitaliza a seu favor a lealdade à Inglaterra e à França, destruindo as acusações de germanofilia, mas a tensão política não acalma. Novembro é um mês de greve geral, a 18, e o sidonismo organiza uma manifestação de forma ordeira, como se fosse uma parada de apoio, destinada a “amedrontar” os que querem a “desordem” e “violências bolcheviques”.

Todo o protagonismo é de Sidónio, corporizando a massa de portugueses que “querem viver em paz, trabalhar e progredir” em resposta aos “cidadãos de Lenine”.

O Sidonismo tem a primeira baixa: o mundo do trabalho está contra ele e os velhos republicanos aproveitam a boleia.
Longe ia o ambiente em que Sidónio aparece como depositários das esperanças e regenerador da situação criada pelo partido da Guerra e pela velha República.

Esmagada a primeira rebelião dos marinheiros, em Janeiro de 1918, Sidónio começa a exercer a autoridade capaz de “combater a desordem, garantir a tranqüilidade, condição sine qua non para o progresso, mais ai daquele que levantar um dedo ameaçador” (cf. Um ano de ditadura...).

O poder é encenado, o chefe recriado e as imagens publicitadas, aproveitando as “sopas dos pobres”, da Duquesa de Palmela, que ele faz reverter a seu favor, sendo conhecido pelo “Sidónio das Sopas”.

A partir de Abril de 1918, inaugura 31 cozinhas económicas, até Setembro mas só para alimentarem o “trabalhador honesto e não aquele que se preocupa mais com Kropotkine do que com a ferramenta”, ou seja, aquele que se “mete na política, que faz greves e que perturba a ordem”.

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