Thursday, September 29, 2011

Os rostos da República de A a Z: Sidónio Pais (3)



A morte consagrou Sidónio mas não significou o seu fim: transfigurou-o, como figura indelével na memoria e na História, porque foi amado e odiado, de santo passou a tirano e louco déspota. Que papel cabe ao Presidente-Rei na História de Portugal? — perguntávamos na última crónica.

Para o perceber, temos de regressar a Caminha, onde nasceu a 1 de Maio de 1872 naquela que ele descreve como “vila alvejante, sorridente e bela”, numa família burguesa e com tradições liberais.

O apelido de Marrocos pertence ao pai embora tenha sido aproveitado pelos seus adversários para o assemelhar a “pretóide”, bem como a demência de dois irmãos, para encontrar nele uma loucura herdada de um tio pregador no Brasil que teria morrido no Brasil atacado de demência.

Considerado um “celta do Minho”, possuía um feitio "amoroso, sedutor e bondoso, herdando as características do povo minhoto como a lealdade e a sinceridade” (cf. SILVA, Armando Barreiros Malheiro, Sidónio e Sidonismo, História e mito, Braga, 1997, cit. por SAMARA, Maria Alice, Sidónio Pais, Círculo de Leitores, Lisboa, 2002).

Aos sete anos, surge a primeira adversidade na vida de Sidónio, quando o pai é demitido da função Pública e mudam-se de Coimbra para Pedrógão.

No ano em que fazia 37 anos, morre o pai de pneumonia. Sidónio vê-se órfão e passa a ser o “homem da casa”, regressando a Caminha. Era urgente encontrar novo rumo para a vida que passava pela incorporação como voluntário no Regimento de Infantaria de Coimbra, enquanto as irmãs procuravam um bom casamento. A condição militar traz Sidónio para Amarante e aqui conhece e casa com Maria dos Prazeres Bessa, em 1895.

Chegara o momento de Sidónio formar a sua família enquanto um tio da esposa promovia a carreira universitária de Sidónio que foi tão fulgurante e eficaz como o nascimento de três filhos, mais uma em 1907, que só foi reconhecida mais tarde, filha de uma colega que Sidónio conhecera em Coimbra, num envolvimento “assumido contra tudo e contra todos que desafiava as conveniências sociais”.

É uma “paixão intensa” que revela uma das facetas do “celta do Minho” que era apaixonado, conquistador e sedutor. “Aos dez anos comecei a namorar” — há-de confidenciar mais tarde, mesmo que os críticos aproveitem este lado de “pinga-amor” para desbaratar a sua figura pública a quem “tudo se pode confiar, menos a mulher” (cf. ALBUQURQUE, António, Sidónio na lenda, Lúmen, 1922).

Uma das imagens de marca de Sidónio é a de militar mas a carreira académica é muito mais importante e foi possível graças aos privilégios que a condição castrense lhe proporcionava.

No entanto, é na Escola do Exército que Sidónio conhece Óscar Carmona e depois Manuel Brito Camacho, um dos homens que ajuda Sidónio na carreira enquanto politico e diplomata. São estes protectores que o livram de ir para uma missão em Moçambique, em 1898, impedindo-o de continuar a sua carreira académica como Mestre de Matemática.

Como se vê, só quando foi presidente assumiu a imagem marcial, surgindo como garantia da ordem, porque ele dava prioridade a outros centros d e interesse, como a Matemática, falar várias línguas e tocar violino sem saber música.
A sua carreira académica começou no Seminário de Coimbra, sob protecção da madrinha, D. Claudina, depois de ter feito exame a três disciplinas no Liceu de Viana do Castelo, matricula-se em Matemática, licenciatura que abria caminho para as Escolas do Exército e da Marinha.

É em Coimbra que se amadurece a formação política de Sidónio, no seio da “geração combativa de republicanos”.

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