Thursday, September 29, 2011

Os rostos da República de A a Z: Sidónio Pais (4)



Antes de terminar o curso, encontra Bernardino Machado, de quem foi aluno. Licencia-se em 1898 e no mesmo ano consegue o doutoramento, com 19 valores.

No ano seguinte, Sidónio já é professor da Faculdade de Matemática, onde rege várias cadeiras de Calculo Diferencial e Integral, definindo-se como “um jardineiro inteligente que ajuda os alunos a crescerem e a educá-los para a investigação, fomentando o gosto pelo trabalho, curiosidade e iniciativa". Em 1903 começava a ascensão fulgurante de Sidónio na vida académica e politica portuguesa.

Como lente de Coimbra, assiste nesse ano à contestação da “revolta do grelo” e à greve académica de 1907 e é no ano seguinte que tem a distinção de proferir a Oração de Sapiência no começo do novo ano lectivo em que aponta os três defeitos fundamentais da Universidade, enraizada numa “estrutura religiosa e clerical” que “anulava a iniciativa do aluno” e estimulava a “estreiteza do círculo em que se projecta a luz da instrução”.

No seu entender, a Universidade devia partilhar o seu saber com o exterior, com o “povo” e as suas palavras colocaram-no “na vanguarda da elite nacional”, conforme escreve Francisco Cunha Leal.

Esta Intervenção dá a Sidónio maior visibilidade dentro e fora do meio académico e abre caminho a relações com vultos republicanos como Bernardino Machado, Afonso Costa, Brito Camacho e António José de Almeida.

Está encontrada a justificação para o seu esplendoroso destaque no novo regime republicano nascido em 1910.
As vidas militar e académica seguem a par, recorrendo na primeira a expedientes para não prejudicar a segunda... quando já se sentiam os efeitos da “rajada impetuosa da revolução” que vai sepultar para “sempre toda a espécie de tirania”, conforme disse em Coimbra logo a seguir ao 5 de Outubro, no qual não teve qualquer intervenção.

No entanto, a data é elevada por Sidónio Pais que a classifica como “um tremor de terra que faz ruir os tronos e leva os reis ao cadafalso, esse vulcão de cuja cratera se precipita a lava candente da justiça dos povos, corrente caudalosa que nos conduz vertiginosamente no caminho do progresso, avalanche que na sua formidável queda sepulta para sempre toda a espécie de tirania”.

Nessa altura, Sidónio Pais era detentor de uma série de cargos que não impedem a sua nomeação como ‘vice’ do Reitor Manuel Arriaga, na Universidade de Coimbra. Eram tempos tumultuosos em que a falange estudantil persegue o “lentes monárquicos e franquistas”.

Neste reitorado de poucos meses, lançam-se as bases das grandes reforma das Universidade, com quatro decretos que extinguem os juramentos de lentes e alunos, anulam as matrículas em teologia, deixa de ser obrigatório andar de capa e batina e acabam os privilégios dos Velhos Estatutos. Sidónio Pais está presente e participa neste processo de modernização com Arriaga.

Há um novo passo, a adesão à maçonaria, porta de ascensão no novo regime, em 1911, que era uma “qualidade” necessária para a vida política, escolhendo o nome de Carlyle, um historiador, crítico da sociedade e filósofo inglês do século XIX.

Deste pensador, Sidónio retira a ideia de que o Homem capaz tem “coração sincero, justo, nobre” para poder ser responsável por um governo perfeito.

É após a entrada na Maçonaria que Sidónio veste, por cima da farda militar e académica, a pele de político. Com a ajuda de amigos republicanos influentes, caminha para Lisboa, sendo eleito deputado em 1911, na Assembleia Constituinte.

Deixava para trás os dias de Coimbra e a sua vida académica mas isso não fazia dele um republicano activo, antes discreto, sendo fiel à sua farda militar. Ele era um entre 299 na Assembleia mas é aí que conhece o pai da República, Machado dos Santos, o homem da Rotunda, e aproxima-se de Brito Camacho.

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