Thursday, September 29, 2011

Os rostos da República de A a Z: Sidónio Pais (1)



Com esta crónica, iniciamos uma síntese da vida daquele que foi um “meteoro de formiga preta que sucedeu à Branca”: Sidónio Pais, a face de um combatente contra o analfabetismo, a politiquice, a desorientação, a ganância e a petulância, males a que os críticos de Afonso Costa chamaram os “piolhos” que infestavam a República nascida oito anos antes.

A vida de um Homem não cabe em meia dúzia de crónicas, muito menos quando estamos perante uma personalidade tão rica que, apesar de ter ocupado o poder apenas um ano, como Presidente da República, foi, é e será, pela sua controversa passagem pela política nacional, objecto de várias apreciações e estudos. Existe um largo número de obres sobre este filho de Caminha, ora tecendo elogios a raiar a idolatria, ora denegrindo a imagem deste minhoto, sem dó nem piedade.

Por isso, não é exagero afirmar que estamos perante uma figura central da história da I República, a avaliar também pelas palavras de Egas Moniz, primeiro Nobel português, na medicina, que o definiu como “personalidade marcante que passou como um meteoro através da política portuguesa”.

Foi consagrado com a honra de os seus restos mortais terem sido depositados no Mosteiro do Jerónimos, ao lado de Teófilo Braga e Óscar Carmona, sendo para os portugueses o único que ostenta título de “presidente-rei”, beneficiando do apreço dos republicanos e monárquicos, mesmo depois de 1926. Com o apoio do Estado Novo, Sidónio Pais beneficia da imagem de Homem bondoso e mártir que ainda povoa o imaginário dos portugueses mais idosos.

De facto, a figura de Sidónio Pais é um caso ímpar na nossa história: a sua imensa popularidade está na razão inversa da sua permanência no poder. É comparável. Em tempos mais recentes, a Francisco Sá Carneiro ou Adelino Amaro da Costa. Foi o primeiro Presidenta da República eleito por sufrágio universal (masculino) e só esteve à frente do país entre 5 de Dezembro de 1917 e 14 de Dezembro do ano seguinte, data do seu assassínio. Este ano colocava-o na galeria dos memoráveis, apesar de não ter sido governante, ou importante chefe partidário ou singular tribuno parlamentar, como os referidos Sá Carneiro ou Amaro da Costa.

Com apoio de Brito Camacho, a carreira política do caminhense começa discretamente em 1910, porque até Antão persegue com brilhantismo uma carreira académica como professor de Matemática em Coimbra, além de ser oficial do Exército e director da escola Industrial Brotero, em Coimbra.

Nada fazia prever que, sete anos depois, explodisse na política nacional como um verdadeiro meteoro cuja popularidade atravessou e conquistou Portugal inteiro.

Não estamos perante um homem que nasce depois de ter feito cair o poder hegemonizado por Afonso Costa e o Partido Democrático, radical e jacobino.

O altominhoto tinha uma linha, uma figura distinta, sabia estar e era um líder simpático a que poucos pareciam estar indiferentes, desde a sua pose à sobriedade das suas maneiras passando por um olhar vivo e humanista (cf. SAMARA, Maria Alice, Sidónio Pais, Círculo de Leitores, Lisboa, 2002, pp.9-20).

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