Saturday, April 23, 2011

Canto della Risurrezione

Cónego Eduardo Melo: Braga é boa madrasta e má mãe?



"Está na hora dos bracarenses acordarem para um gesto de gratidão para com um dos filhos mais ilustres de Braga" — apelou José Pinto Cardoso, concordando com quem diz que "Braga é Mãe para os que vêm até ela e é madrasta para com os seus. Eu começo a acreditar que é verdade".
Este empresário bracarense falava no final dos actos que lembraram o terceiro aniversário do falecimento do antigo Deão do Cabido da Sé de Braga, no passado dia 19 de Abril.

O Cónego Eduardo Melo viveu e testemunhou a Palavra de Deus e a sua vida e obra devem continuar a ser um ponto de referência para cada um de nós — sustentou D. Jorge Ortiga, na Basílica dos Congregados, repleta de fiéis.
O Arcebispo de Braga falava na Eucaristia concelebrada por uma dezena de sacerdotes no terceiro ano do falecimento do antigo Deão da Sé de Braga e Vigário Geral da Arquidiocese.

Após a Eucaristia, com uma guarda de honra proporcionada por uma secção dos Bombeiros Voluntários de Braga, um grupo de amigos dirigiu-se ao Cemitério de Monte d'Arcos para colocar uma coroa de flores no jazigo de Mons. Eduardo Melo Peixoto, num "gesto de coragem daqueles que não sentem vergonha em afirmar-se como amigos do Cónego Melo".

Entre os padres concelebrantes estavam alguns arciprestes de vários concelhos do distrito de Braga.

O terceiro aniversário do seu falecimento foi oportunidade para serem relembrados os contributos do Cónego Eduardo Melo para o progresso de Braga seja no desporto, como presidente do Conselho Geral do Sp. Braga, seja na religião, pelo contributo para a recuperação da Sé e seu Tesouro Museu, seja nos Cursos de Cristandade ou ao serviço dos Escuteiros.

D. Eurico Nogueira, arcebispo Emérito de Braga, presidiu ao almoço de homenagem que decorreu no Centro Apostólico do Sameiro, recordando que sentiu "muito a sua morte. Era mais novo que eu e cheio de vida. Quando ele faleceu, foi um choque muito grande para mim".

"Éramos, fomos e somos amigos dele e quem deixou de ser amigo é porque nunca o foi. A cada ano que passa nós sentimos a saudade e o pesar deles nos ter faltado tão cedo.

Associo-me inteiramente à homenagem ao cónego Melo. Ele merece a nossa amizade" — rematou D. Eurico Nogueira.
António Machado, presidente da Direcção dos Bombeiros Voluntários de Braga, recordou os tempos em que era "um jovem que morava na rua de S. Geraldo quando conheceu o padre Eduardo Melo, acabado de chegar da Índia e foi colocado no Seminário de S. Tiago onde ele deixava os rapazes andar de patins nos claustros do Seminário".

"Guardo com muito carinho o entusiasmo e a paciência que ele tinha connosco que éramos rapazotes. Foi sempre um homem da Juventude e sempre foi meu amigo.



Foi um grande amigo dos bombeiros e sempre nos ajudou" — concluiu António Machado, na breve alocução durante o almoço de amigos de Mons. Eduardo Melo.

Este grupo de amigos reunia-se uma vez por mês, recordou José Pinto Cardoso, lembrando a todos que "cada um é que sabe quanto deve ao Cónego Melo. Para Mim foi o segundo pai, um conselheiro" desde o momento em que "o encontrei numa altura difícil da minha vida".

Lembrando as palavras de D, Jorge Ortiga, na Eucaristia, José Pinto Cardoso, este empresário assegurou: "quando falo sobre o Cónego Melo, não me ardem os lábios, arde-me o coração" uma vez que "nos ensinou e viveu os bons propósitos e era um homem sério".

Quanto ao resto, "os grandes homens da História sempre tiveram inimigos" — prosseguiu José Pinto Cardoso agradecendo a presença de D. Eurico Nogueira, um dos homens da Igreja que nunca tiveram vergonha de ser amigo do cónego Melo".

José Pinto Cardoso agradeceu a presença de D. Eurico, recordando o momento em que ele se ofereceu para vestir de novo a toga de advogado para defender o Cónego Eduardo Melo, ao contrário de outros bracarenses — na política e na Igreja — que se acobardam quando se fala do Cónego Eduardo Melo".

"Na Igreja, na política, no desporto, ao serviço de Braga ele nunca deixou de ser padre nem de ser homem" — continuou José Pinto Cardoso, concluindo que "ele fez muita falta a todos nós, deixando-nos tão cedo" e "é com grande prazer que me associa a todos aqueles que merecem a sua amizade".

"Aqui, recordou, todos fomos, somos amigos e não temos vergonha de falar do cónego Melo e lembrar o muito que fez pela sua terra, pois ele é um bracarense nascido e criado em Braga, ficando ligado às suas principais instituições"

"Está na hora dos bracarenses acordarem para um gesto de gratidão para com um dos filhos mais ilustres de Braga" — apelou José Pinto Cardoso, concordando com quem diz

que "Braga é Mãe para os que vêm até ela e é madrasta para com os seus. Eu começo a acreditar que é verdade".

José Pinto Cardoso, falava no final aos jornalistas, abordando o tema incontornável da estátua ao Mons. Eduardo Melo, afirmando a sua colocação numa praça de Braga como um "dever dos bracarenses que beneficiaram da sua amizade" sejam eles da política, sejam da sociedade ou da Igreja de Braga.

Os rostos da República de A a Z: Afonso Costa (04)


Que fazer com o poder nas mãos? – eis a terrível angústia dos vencedores, no dia 5 de Outubro de 1910, porque o país não era republicano e na melhor das hipóteses “não passavam de uns cem mil. (...) Os grandes proprietários, os camponeses, os rendeiros, e os trabalhadores não queriam nem podiam ser igualitários e laicos”.

Pior que esta angústia era a inexistência de “pessoal qualificado suficiente para tomar a máquina do Estado” nas suas diversas funções.

Afonso Costa, o político, revela-se como verdadeiro estadista e criador de uma república laica. É uma proeza individual que leva a Igreja a vitimizar-se enquanto a sociedade se resignava... e o Governo se tornava um “ninho de víboras” que Costa contornava, ao apanhar a pasta da Justiça, tornando este ministério a base do novo regime.

Vasta e diversa legislação mostram que Afonso Costa, aos 39 anos, tinha eleito o inimigo principal. Primeiro limpa o seu ministério de “juízes indesejáveis”, usando o limite de idade e criando uma Relação em Goa para onde envia alguns desses magistrados, “sem brincadeiras nem concessões”.

Ordenando a expulsão dos Jesuítas e encerrando conventos, Afonso Costa apenas cumpra decretos pombalinos e no dia 18 de Outubro acabava o julgamento religioso nos tribunais e outros actos oficiais. Para Costa, os jesuítas eram como “membros de uma associação de malfeitores” e “delinquentes” de que o bispo de Beja era o primeiro cartaz.

Afonso Costa mostra-se imparável a legislar, reformando a magistratura, fazendo regressar a liberdade de imprensa e a Lei de Separação entre a Igreja e o Estado mas a lei do divórcio ficava para mais tarde.

Na separação, Afonso Costa esvaziou as competências sociais da Igreja, dando início a uma das mais rudes batalhas entre a República e a Igreja Católica, ao retirar a esta a competência do registo civil (nascimento, casamento e outros), em Fevereiro de 1911.

Os grandes proprietários vêem alterada a lei das rendas, uma medida que fez Afonso Costa captar a simpatia da pequena e média burguesia.
Com o apoio de Teófilo Braga, de Bernardino machado e António Correia Barreto, Afonso Costa impunha a via radical, mas em Dezembro ainda nada estava ganho e o novo ano abria com centena e meia de padres presos e a vandalização de alguns jornais monárquicos.

Afonso Costa apostava tudo de si para conquistar também a liderança do Partido Republicano, quando se falava na divisão do partido em três, os afonsistas, os almeidistas e os camachistas.

As eleições aproximavam-se mas as mulheres não podiam votar e o voto analfabeto perigoso é interdito
Nesta viagem sem regresso da República, Afonso Costa não pode recuar com a lei da Separação, num momento tenso para os católicos, com a publicação da célebre Pastoral Colectiva do episcopado português ao clero e fiéis de Portugal”. Esta Pastoral devia ser lida a 26 de Fevereiro e ia começar o braço de ferro.

Afonso Costa proíbe a leitura do documento dos bispos nas igrejas: o barcelense bispo do Porto, D. António Barroso ousa enfrentar Afonso Costa e pagou caríssimo por esta desobediência.

Chamado a Lisboa é insultado nas ruas pelos apaniguados de Afonso Costa e o encontro com o ministro salda-se pela “destituição do prelado”. Afonso Costa serviu-se de D. António Barroso para mostrar quem mandam em Portugal e que o gesto servisse de lição exemplar para outros. Mas o Bispo barcelense não era um bispo qualquer...

A Lei da Separação é publicada a 20 de Abril, - fez cem anos anteontem - como consumação da profecia de Afonso Costa em 27 de Março: “em duas gerações Portugal terá eliminado completamente o catolicismo” (cf. jornal O tempo, 27.03.1911).

Foi uma autêntica “declaração de guerra” à Igreja Católica” que ficava expropriada de tudo e sujeita financeiramente ao Estado.

Conhecendo o anti-clericalismo popular, num primeiro momento, a Lei da Separação é acolhida com entusiasmo em Porto e Braga que recebe Afonso Costa em triunfo.

Só a Igreja reagiu. E com alguma violência. A luta era agora às claras; em Braga rebentavam distúrbios com as juventudes católicas e parecia o fim dos republicanos... mas era o primeiro passo do percurso de vitória em vitória até ao colapso de 1926.

Os rostos da República de A a Z: Afonso Costa (03)


Em Abril de 1907, João Franco instala a ditadura que dá novo fôlego aos republicanos, numa altura em que Afonso Costa está doente “depois de tantas asneiras, doenças, operações, melhores, enfim me chapei” (cf. Correspondência política...p. 210).

Afonso Costa volta a ser notícia em 28 de Janeiro do ano seguinte quando é preso por envolvimento num golpe revolucionário, juntamente com outros republicanos e progressistas. Três dias depois, o rei assinava a expulsão ou deportação para as colónias por crimes contra os interesses do Estado.

O decreto é “revogado” pelo regicídio no dia seguinte. Um atentado à bala, por republicanos fanáticos, mata o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro, D. Luís Filipe. Cinco dias depois, com a monarquia moribunda, Afonso Costa sai da cadeia com muito trabalho pela frente.

Estava disposto a tudo, inclusivamente um duelo com o Conde de Penha Garcia, d onde sai ferido num braço, mas aureolado de coragem e audácia, apesar do duelo estar proibido desde 1886, exprimindo a forma “apaixonada como Costa vivia o debate politico” e em defesa da honra ofendida.

Era “sempre o primeiro, no parlamento, no tribunal e ao soco” — escreveu José de Castro, futuro ministro da República.
Na companhia de Bernardino Machado (na foto), mais distinto, sóbrio e conciliador, procuram adaptar o PRP (Partido Republicano Português) ao reinado de D. Manuel II que tentava renegar a politica do pai sem estender a mão aos republicanos. Os partidos monárquicos não ajudavam à tarefa do jovem rei, devido à sua desagregação responsável pela instabilidade governativa que favorecia os ventos revolucionários.

Costa era o parlamentar que os republicanos precisavam e em 1909, a destruição por dentro, da monarquia correia sobre rodas, ao mesmo tempo que se robustecia o movimento republicano que, em 1910 possuía 130 comissões concelhias, 12 comissões distritais e estava implantado em 238 paróquias.

Os jornais apoiavam as novas ideias estimuladas pela Carbonária Portuguesa que se infiltra no exército e na Armada, apesar da falta de consenso entre os altos dirigentes do PRP.

Afonso Costa começa a inclinar-se para a via revolucionária, afastando-se de Bernardino Machado e aproximando-se da Carbonária que precisava das armas que Bernardino Machado (financeiro do PRP) se recusava a comprar.

Bernardino é destituído das finanças do PRP e a Carbonária consegue as primeiras 600 espingardas e pistolas, na Primavera de 1910.

Um escândalo sexual em Beja, com o bispo, o caso de corrupção Hinton dão a Afonso Costa os temas que inflamam discursos contra a Monarquia e seus apoiantes. Todavia, a revolução não andava com a vertigem que Costa desejava, por causa do desinteresse dos oficiais militares. Cândido dos Reis pressiona Costa a abandonar a aventura revolucionária, com perigo de intervenção estrangeira (inglesa) de apoio à monarquia, mas a Carbonária não desiste.

Afonso Costa vê-se atirado para a via moderada através de uma maior representação dos republicanos no Parlamento num momento em que fica “assustado” com inchaço na laringe.

Regressado de França, curado, Afonso Costa vive intensamente a contagem decrescente da Monarquia, defendendo a integridade física do rei.

Com a revolução em curso, Costa distribui as pastas do Governo provisório, fincando com a da Justiça, entrega os Negócios Estrangeiros a Bernardino Machado e retira o Interior à Maçonaria. Torna-se indiscutível a capacidade de se impor no meio da indefinição dos revolucionários que pegaram em armas sem ter ministros para o Governo. A Revolução do 5 de Outubro não foi obra de Afonso Costa, porque a sua concretizara-se dois dias antes do soar do canhão militar.