Wednesday, December 15, 2010

Cem anos de República no Minho (20)


Naquele dia 18 de Outubro de 1918, Braga teve direito dupla festa: foi inaugurada a tracção eléctrica nos transportes urbanos, numa altura em que o país se preparava para a trágica aventura da I Guerra Mundial, e foram distribuídas mil esmolas de 300 reis aos pobres das freguesias da cidade, vincando o espírito solidário da República, nascida quatro anos antes.

De facto, no dia 5 de Outubro, desde o ano 1911, Braga despertava os seus 400 pobres (que chegaram a ser dois mil em 1919) para receberem o “bodo” (um quilo de arroz, um bacalhau, uma broa de pão e 200reis em dinheiro).
Era o culminar de um longo percurso de reivindicações de Braga que vinham desde o século anterior, dando corpo a um levantamento de Braga contra o centralismo lisboeta.

Braga ansiava que os novos senhores de Lisboa cumprissem promessas feitas nas décadas anteriores, como a ligação até Chaves por caminho de ferro, ao tempo do governador civil Jerónimo Pimentel.

Também a ligação ferroviária entre Braga e Guimarães ficava apenas no papel das promessas, desenvolvendo-se então um esforço para assegurar, pelo menos, que os republicanos construíssem a ligação de comboio entre Braga e Monção, numa altura em que o Governo decidira fazer a ligação entre Guimarães e Fafe.

Braga esperava que o dinheiro “republicano” chegasse para os seus sonhos, transformando-se num novo “entroncamento” ferroviário para todo o Minho. Eram sonhos defendidos pela Liga de Defesa e Propaganda de Braga que obtêm a autorização do rei D. Manuel II, em 1910... mas não se concretizaram até hoje e os bracarenses tiveram de contentar-se com os eléctricos.

Enquanto o país ia assistindo à fragmentação do Partido Republicano no grupo Democrático de Afonso Costa, no Evolucionista de António José de Almeida e na União Republicana de Brito Camacho e a consequente instabilidade governativa, acentuava-se o combate ao “único perigo real”, a Igreja, ao mesmo tempo que surgiam aqui e ali, como em Fafe, as conspirações monárquicas, através do Integralismo Lusitano que valorizava a família e segurava a propriedade privada.

Em Braga, a 1 de Outubro de 1911, na sequência da fracassada revolta monárquica do Porto, era incendiada a residência da Associação Católica. NO ano seguinte. registam-se novas incursões monárquicas em Valença, Basto e Chaves. Ao mesmo tempo abria em Coimbra o Centro Académico da Democracia Cristã, onde hão-de passar Oliveira Salazar e o Cardeal famalicense Manuel Gonçalves Cerejeira (cf. SARAIVA, José António, in O 28 de Maio e o fim do liberalismo — Do advento da República à Revolta de Braga, Bertrand, Lisboa, 1976, pp. 70-91).

A entrada de Portugal na Guerra de 1914-1918 foi o prelúdio do colapso do regime republicano democrático, tão propalado em Braga, após o ultimato inglês, em 1890, pelo jornal “Commercio do Minho”.

Voltavam os tempos difíceis de 1892, quando as notas do Banco de Portugal nada valiam e eram trocadas por células emitidas pelo Ascensor do Bom Jesus, pela Associação Comercial e algumas casas comerciais de topo, como Padarias, Hotéis, mercearias, etc. Eram cédulas que facilitavam os trocos por notas do Banco de Portugal.

Ficavam desiludidos aqueles estudantes do Liceu que alguns anos antes tinham feito uma greve de dez dias pela democracia republicana, desde os tempos de João Penha, com um debate permanente através dos oitos jornais existentes em Braga: seis semanários, um trissemanário e um bissemanário.

É este fervilhar de ideias republicanas que entronca o levantamento de Braga contra o centralismo lisboeta.

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