Monday, May 24, 2010

Cem anos de República no Minho (6)


Na quinzena passada, estávamos em plena conspiração entre Mijados e Chamorros, em Fevereiro de 1844. A desordem alastrava a vilas como Fafe e Póvoa de Lanhoso ainda no mês de Maio eram frequentes as notícias de crimes. Eram os primeiros momentos do germinar da Revolta da Maria da Fonte em que "muitas mulheres foram dadas como sendo as autoras do despoletar da revolução, portanto muitas Marias da Fonte existiram".

Na Póvoa de Lanhoso, davam-se as primeiras escaramuças daquela que é conhecida como a revolução da Maria da Fonte — à qual voltaremos com pormenor, nas próximas edições — mas já tinha "tomado um carácter assustador" — descrevia a imprensa da época.

"Depois dos primeiros acontecimentos de Braga e de Guimarães, tinham-se sublevado a Barca, Arcos, Ponte de Lima e Barcelos" — escrevia o jornal "Coalisão", em 21 de Abril de 1846, dando conta de que "de diversas partes marchava povo armado em auxílio dos sublevados de Braga, por saberem que para ali tinha marchado a força que saiu desta cidade".

Em Guimarães travava-se uma luta entre o povo e as autoridades, tendo de ir uma força de Braga para serenar os ânimos e pela primeira vez eram dadas instruções para tocar os sinos a rebate quando houvesse incêndio.

O Arcebispo teve de intervir apelando à calma e à obediência às autoridades liberais, mas o barulho prossegue em Prado, numa retirada estratégica integrada num plano acicatado por nova revolta no Porto.

Em Maio de 1846, o Regimento de Braga foi para a Falperra, tendo pernoitado em Sande. Eram momentos de grande intranquilidade de tal forma que ao toque das trindades, fechavam-se as portas da rua e dos quintais em Braga.

Numa pequena vila, como a dos Arcos de Valdevez, "entraram pela ponte 300 a 400 homens armados de chuços, fouces encabadas, machados e algumas espingardas e choupas, dando vivas à rainha e morras aos ministros" para depois queimarem os "impressos da décima" e o mesmo aconteceu em Ponte da Barca, como dava conta o jornal "Notícias do Minho", a 23 de Abril de 1846.

Em Barcelos, a "vila era invadida por uma coorte de bárbaros em número de mil e tantos" que tudo queimaram e seguiram para Braga onde obrigaram a Câmara a dar as "papeletas da décima" que queimaram por entre "morras aos Cabrais".

O Minho estava em alvoroço contra a "impossibilidade de pagar, a lei da saúde que compreende os mortos e que arma contra ela as mulheres, é a lei que varre para o fisco a travesseira e a tigela do defunto, que esmaga todo o vivente debaixo das suas garras destruidoras".

Antevia-se já que os acontecimentos do Minho se alargassem a todo o país "como o trovão segue o relâmpago" neste protesto contra as leis de saúde, especialmente a que proíbe o enterro dos mortos nas igrejas.

A 18 de Maio desse ano, corre o boato de que querem matar um padre. O padre Casimiro pede ajuda da Junta da Câmara mas à tarde, vindos do Bom Jesus, os paisanos armados com machados e armas que são afrontados por outros vindos de outras localidades de Braga. O Campo de Sant'Ana (Avenida Central) é protegido pelas sentinelas da tropa. Nos confrontos morreram quatro paisanos e soldados "morreram bastantes com três oficiais" — recorda o autor de "Lembranças de Gusmão", acrescentando que "a tropa fez bastantes prisioneiros que foram para o quartel e no dia imediato para a cadeia. Jamais se viu traição maior".

Era a reacção ao cabralismo, no seu auge, como resposta à bandeira da ordem e do desenvolvimento económico imposta por Costa Cabral. Estava montado um regime de repressão e violência, muitas vezes comparável ao despotismo dos miguelistas, com uma diferença: Costa Cabral não queria o regresso ao passado.

Em consequência, como escreve Oliveira Marques, "o despotismo impudente de Costa Cabral, (...) de levar a violência aos seus últimos limites e de desembaraçar de toda a oposição, resultaram na mais terrível e mais longa guerra civil que se registou entre os liberais".

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