Monday, May 24, 2010

Cem anos de República no Minho (5)



Entendido como Braga e todo o Minho abraçaram a causa miguelista devido à matriz religiosa do discurso político de D. Miguel, com a sua componente messiânica, contribuindo para a resistência miguelista entre 1836 e 1846 traduzida numa guerra civil que fez fazer sangrar este país, trinta anos depois das invasões francesas... sem lei e sem autoridade.

É exemplar desta situação, a execução de Serafim, da Póvoa de Lanhoso, pelas mortes que tinha feito neste concellho e em Braga. Apesar do arrependimento, as autoridades não lhe perdoaram e condenaram á pena capital, na Senhora-a-Branca, em Braga, a escassos metros do campo de Sant'Ana, onde fora instalada em 1838, uma forca. escreve um habitante de Braga que, "apesar de ser um dia de chuva concorreu muita gente" para ver a execução da pena" (cf. Lembranças do Gusmão, 1826-1846).

Os miguelistas, no estrangeiro, não perdoavam aos liberais a perda do Brasil,, os graves problemas económicos do reinado de D. Pedro, que encontravam o terreno fértil da guerra civil no descontentamento e desilusão geral dos rurais e dos soldados enquanto os liberais se fragmentavam.

A vida política portuguesa não estabilizou com a vitória liberal em 1834. Dois anos depois, surge a Setembrada perpetrada por Liberais radicais.

Em Braga, por exemplo, em Julho de 1838, o povo levantava-se contra as Fintas (um imposto lançado sobre o rendimento de cada cidadão - espécie de IRS moderno — para aplicar a obras públicas, como melhoramento de fontes, de estradas e de pontes.

Lá por fora, no Congresso das Nações do Norte, falava-se a favor do rei D. Miguel e o Governo liberal decretava pena de morte a quem falasse nesse congresso a favor do rei exilado.

Em Braga, começava a fabricar-se uma forca, na actual Avenida central (Campo de Sant'Ana), para executar uma pena de morte de um tal Jejum, rodeado de cinco padres, no dia 6 de Setembro de 1838.

Braga resistia e elegia os mesmos vereadores que dias antes tinham sido demitidos por infâmia pelo Governo liberal em Lisboa, gerando-se uma disputa entre dois executivos, um fiel aos liberais (Chamorros) e outro eleito pelas forças vivas de Braga (Mijados).

Em Fevereiro de 1939, há nova contestação à Câmara de Braga por ter aumentado as décimas em algumas freguesias das aldeias. As décimas eram um tributo civil semelhante à dízima (décima parte) sobre as rendas recebidas pelos proprietários.
Em Maio deste ano, surge boato em Braga de um golpe miguelista e a rua de S. João foi cercada para prender alguns "grandes" de Braga comprometidos ainda com o rei D. Miguel, quando chegava a água pública à rua da Cruz de Pedra pela primeira vez. O facto foi assinalado com foguetes.

Neste clima de instabilidade, prosseguiam os assaltos a Igrejas (como a de Arcos) em Agosto, onde eram roubados sacrários, cálices, vasos e toalhas, ao passo que em Esporões o povo se opunha ao pároco por razões políticas, tendo sido enviado mais de vinte militares para aquela aldeia que se alojaram em casas de lavoura durante alguns dias.

No ano de 1840, o Areal é palco de uma enorme desordem entre homens vindos de Amares e bracarenses, tendo o conflito resultado na morte de um sapateiro e em ferimentos em vários soldados que para ali foram deslocados para serenar os ânimos.

A ausência de autoridade e respeito pela lei possibilita que, por exemplo, em Dume, dois homens tenham sido mortos, em 1842, por terem roubado algumas pêras. Em 24 de Agosto desse ano, um tumulto se registou em S. Vítor e terminou com quinze mortos. Em plena rua do Carvalhal, no centro de Braga, em fevereiro do ano seguinte, uma mulher apareceu roubada e morta pelos ladrões. No dia 5 de Dezembro desse ano, na Rua das Águas, actual Avenida da Liberdade, mataram um cabo da ronda, barbeiro.

Estávamos nas vésperas da conspiração entre Mijados e Chamorros, em Fevereiro de 1844. A tropa procedia à detenção de muitos Mijados em Braga, Viana, Barcelos e outras partes. A maior parte dos presos em Braga eram transferidos para o Porto onde eram julgados e as condenações eram executadas em Braga, para servirem de exemplo ao povo.

A desordem prosseguia noutras vilas como Fafe e Póvoa de Lanhoso ainda no mês de Maio e em Braga era notícia a prisão do Servo(sacristão) da Misericórdia por roubar a Igreja que lhe estava confiada. A criminalidade violenta prossegui em finais de 1844, como aconteceu na Ponte dos Falcões, em Maximinos, onde mataram uma viúva a facadas e abandonaram no Monte de S. Gregório. A morte deu origem à prisão de um homem e várias mulheres.

Em Julho de 1845, para travar esta insegurança, Braga era patrulhada durante o dia e durante a noite: "está tudo muito em perigo" (cf. Lembranças do Gusmão), quando os Mijados recebem ordens para se retirarem de Braga, quando começava a ser construída, a partir dos Granjinhos, a estrada para Guimarães.

Já em 1846, apesar de todos os constrangimentos, a rua da Boavista (Cónega) celebrava a Páscoa com todo o fulgor: "começou a festa do povo na Cónega. Veio acoçar (perseguir) a tropa, porém retirou-se ferindo alguns soldados. estes mataram algumas pessoas que não entraram no barulho. Os paisanos sustentaram-se algum tempo ao pé de S. Brás do Carmo (Merelim). Às quatro da tarde começou o barulho nas Palhotas. Vieram até à fonte da esquina que é seca; porém, retiraram-se os paisanos para o fim da rua e aí sustentaram o fogo durante algumas horas, ferindo soldados. estes feriram um rapaz" (cf. Lembranças do Gusmão).

O Arcebispo teve de intervir apelando à calma e à obediência às autoridades liberais, mas o barulho prossegue em Prado, numa retirada estratégica integrada num plano acicatado por nova revolta no Porto.

No comments: