Saturday, April 18, 2009

Pedralva: 30 anos a alimentar Braga com pão de qualidade




"Como na minha terra, Pedralva, não havia padaria nenhuma, e o pão ia de Braga, comprei um terreno e ali nasceram as padarias Pedralva, há 30 anos" — revela Belarmino Oliveira da Silva, um dos fundadores desta empresa de Panificação que celebra hoje o dia da sua fundação.

Belarmino Silva já era um grande empresário em Moçambique, mas, em Abril de 1978, com aquele país em convulsão social e política, pensa em retomar a vida em Braga, depois de abandonar uma primeira inclinação pelo Brasil.
Por este mês, os clientes das padarias Pedralva vão ter algumas prendas para assinalar os trinta anos da sua fundação.
Depois de andar por Portugal, este antigo armazenista de vendas por grosso e retalho de mercearias na Beira, pensa que esse ramo não era o melhor para Portugal porque ia empregar pouca gente.

"Construí tudo de raíz, com duas moradias e foi um sucesso. Começamos três trabalhadores, um meu irmão Albano, um meu cunhado António e um trabalhador" nos primeiros três anos, até ao regresso definitivo, em 1982, de Belarmino Silva das terras moçambicanas.

A primeira loja que abriu em Braga foi no Centro Comercial Galécia, em Junho de 1983, com pão que vinha da sede e mercearia que, era um bom negócio, pois não havia grandes superfícies.

"Vendíamos muita mercearia e foi um sucesso a abertura dessa loja. Depois abrimos no Centro Lafayette e seguiu-se a primeira loja de pão quente em Braga, na Rua de S. André. Daí continuamos sempre a abrir lojas." —recorda Belarmino Silva.

A Loja da rua de S. André "foi um marco muito importante na nossa empresa. Foi um grande sucesso por ter o pão quente com cafetaria. Foi uma estreia em Braga".

"Pode-se dizer que foi uma mina. Vendeu-se muito pão e ganhou-se muito dinheiro. Foi um dos maiores sucessos da minha vida. Nós chegamos a vender na rua S. André vinte e cinco mil pães por dia".
Seguiram-se lojas (a quarta) na Póvoa de Lanhoso — que ainda hoje é uma grande loja — num total de onze, nove na cidade de Braga, nas novas urbanizações, e a sede em Pedralva e duas na Póvoa de Lanhoso.

A empresa cresceu muito e "eu também já estava um bocado cansado. Chegamos a um acordo e dividimos as lojas pelos sócios, em 2001. Ficamos com quatro lojas e os outros sócios ficaram com elas".

"Tem havido sempre uma boa compreensão entre todos nós" e mesmo os problemas surgidos no final da década de 90 foram internamente ultrapassados" — reconhece Belarmino Silva, ao falar da relação empresarial com os seus antigos sócios. "Todos hoje têm as suas casas e vivem bem".
Dizer que o consumo de pão está a diminuir "não corresponde à verdade. Nós vendemos menos pão porque há mais concorrência e quando começamos havia pouca concorrência. Hoje há muitos sítios com pão quente. Há mais gente a vender pão mas o consumo mantém-se" — assegura Belarmino Silva.

Para este industrial de panificação, "há uma regra para a quantidade de sal no pão e não se pode colocar mais que essa regra. O pão é saudável e é o melhor alimento que nós temos", pelo que não é legítimo dizer que o "pão tem sal a mais em Portugal".

Em crise, desde há alguns anos, está o sector de fabrico de bolos: "este sector diminuiu muito" porque as pessoas "não querem ser gordas" e os custos subiram muito e, por exemplo, nos bolos de aniversário, vende-se muito menos que há uns anos atrás. "Aí a queda foi grande. Nós tínhamos pasteleiros, fazíamos muitos bolos e hoje não temos e preferimos comprar alguns bolos fora e fabricamos poucos".

A abertura de uma nova loja — a sexta das Padarias Pedralva — no centro histórico de Braga foi "um sonho que eu tinha há muitos anos e chegou a altura de concretizar esse sonho. É uma loja com muito boas condições, está muito bem centrada e eu gosto muito dela".

Naquela loja da rua D. Diogo de Sousa, junto à Igreja da Misericórida, "temos todas as qualidades de bolos, o pão quente a toda a hora e estamos muito contentes. Temos toda a variedade de cafetaria e temo um restaurante bom, pequenino mas muito agradável e estamos a trabalhar muito bem com satisfação para os nossos cientes".

Actualmente, com trinta trabalhadores, as padarias Pedralva produzem uma média de 15 mil pães por dia, um "número razoável", sendo a maior parte para as "nossas lojas porque queremos manter uma boa qualidade de pão. Estamos a vender a onze cêntimos e numa dúzia oferecemos dois pães e em meia dúzia oferecemos um pão".

Os empresários do sector têm vindo nos últimos tempos a defender um aumento do preço do pão devido aos custos de produção, posição que é contrariada por Belarmino Silva. "Nós assumimos que não aumentávamos o pão nos nossos seis pontos de venda durante este ano todo".

DE PEDRALVA
PARA MOÇAMBIQUE

Nascido em Pedralva, em 1937, Belarmino Silva teve uma infância difícil e aos "quatro anos já ia com as ovelhas para o monte". Depois da escola, onde "era um bom aluno" a ponto do professor e pai quererem que seguisse os estudos. "Eu gostava de estudar mas também gostava de ganhar dinheiro. O primeiro trabalho foi com o meu pai, aos 10 anos, a trabalhar de carpinteiro e a ganhar cinco escudos por dia, mas fiquei muito triste com o primeiro salário, porque contava ganhar mais".

Continuou algum tempo até arranjar outro emprego, na Venda Nova, a trabalhar na estrada para Paradela do Rio, onde ganhava "muito mais dinheiro. Quando recebi a primeira quinzena, deram-me 25 escudos por dia. Fiquei muito contente porque ganhava tanto como um adulto, embora fosse um rapazito. Andei ali uns poucos de anos".

Como não quis ir para Trás-os Montes, foi para Lisboa que "foi a minha terra de sorte, foi a cidade que eu mais gostei. Ganhei muito dinheiro lá, numa mercearia para levar as mercadorias ás casas das senhoras, mas em pouco tempo já tomava conta da mercearia".

Depois arranjou um emprego nos jardins do parque Eduardo VII, como funcionário municipal, mas nas horas vagas trabalhava como empregado de mesa na feira popular e nos campos de futebol. "No inverno vendia chocolates e rebuçados e no Verão gelados, à porta dos estádios da Luz e de Alvalade" até que chegou a idade do serviço militar e ficou apurado, tendo ficado em Braga na especialidade de transmissões e "foi das coisas mais bonitas que eu tive na minha vida e pedi para continuar" até ir para Moçambique.

A ida para Moçambique, em 1958, fica a dever-se a uma ideia antiga de emigrar "porque Portugal sempre foi um país pobre". na altura namorava para uma rapariga que tinha uns tios em Moçambique. Uma altura esses tios vieram cá, eu pedia a ela para falar com eles e eles"levaram-me para Moçambique", para a cidade da Beira, onde tinha "duas pessoas à minha espera. Ambas queiram que eu fosse com elas, mas eu acabei por ficar na cidade da Beira, com o compadre Correia, ainda vivo que está cá em Braga, que ainda hoje é uma pessoa muito minha amiga".

Depois do primeiro emprego — porque a ideia era trabalhar de carpinteiro na construção civil— no comércio, a partir de 24 de Maio de 1960, numa mercearia. Depois foi para uma pastelaria com restaurante, mas durante oito meses mudou três vezes de emprego, "sempre para melhor, a ganhar mais". Ao fim de oito meses "comecei a trabalhar por minha conta. Comprei uma carrinha e comecei a vender frutas tropicais, bananas, laranjas, tangerinas. O meu sucesso foi muito rápido, casei por procuração e a minha mulher ela foi lá passado algum tempo. Comprei uma casa que era uma peixaria e ela foi trabalhar para essa casa e eu continuava na fruta. depois comprei um terreno, fiz um armazém e em 1968 já era um grande armazenista que importava e exportava e estava cheio de dinheiro".

Até 1979 "foi um sucesso enorme, tinha um grande armazém tinha prédios e depois foi tudo nacionalizado, excepto o armazém e uma casa para viver".

Começou a "não haver nada e os meus filhos tiveram de vir para Portugal. Continuei lá, fui sempre bem tratado. Não tenho que dizer mal excepto a nacionalização de quase tudo o que tinha."

Cónego Eduardo Melo: eram tantos e são tão poucos!


Estou plenamente à vontade porque nunca lhe pedi nenhum favor, não lhe meti nenhuma cunha para familiares ou amigos meus se desenvencilharem deste problema ou daquela dificuldade e, no entanto, ele fez o favor de ser um dos meus amigos.

Está feita a minha declaração de interesses. Conhecia-o de perto, no seu dia-a-dia. nas suas actividades, nas suas lutas e nas suas causas.

Quem não tiver nenhum defeito ou não tiver errado, está desde já — face ao que vou escrever — desafiado a atirar a primeira pedra contra ele ou a apedrejar-me.

Faz amanhã um ano que deixou a cidade de Braga que amou em igual intensidade ao enlevo que dedicou à Igreja que serviu ao longo de mais de cinco décadas, desde a sua ordenação em 1951.

Fizeram-lhe homenagens em vivo mas, face ao silêncio eloquente que alimentam ao longo deste ano, sou levado a crer que, exceptuando os seus verdadeiros amigos (aqueles que não precisaram dele), a imensa maioria participou nessas homenagens porque precisava dele, estava lá por interesse financeiro, económico, social, cultural ou político.

Exceptuando esse punhado de pessoas que apenas precisava da sua amizade e agradável conversa, a imensa maioria dos bracarenses parece envergonhar-se de um dos seus mais ilustres conterrâneos que deu tudo à Igreja, promoveu tudo em prol do progresso da sua terra, apoiou na medida das suas forças e saber as associações, as escolas, os clubes, os movimentos e as forças vivas representativas da velha Bracara Augusta.

É uma atitude estranha de uma terra que — por força da sua hospitalidade e capacidade de bem receber — elege os que vêm de fora, reverencia os forasteiros, curva-se diante dos que aqui alcançam prestígio pela sua capacidade de trabalho e sabedoria, mas parece esquecer os que nasceram dentro dos seus muros, os que cresceram nas suas escolas, fortaleceram as suas agremiações culturais, desportivas, económicas, sociais e religiosas.

Exceptuando um ou outro governador civil, os bracarenses não têm conseguido ocupar os lugares de decisão política, religiosa, académica e cultural em Braga, mas isso não tolera que os seus 'ocupantes' se esqueçam dos enormes bracarenses de gema.

Apetece perguntar se andam tão distraídos os seus alunos da antiga Escola Comercial e Industrial de Braga, onde fundou várias obras de apoio dos estudantes: lares, conferências Vicentinas, salas de jogos e leitura para os tempos livres, jornal, etc.
Por onde andarão também os militantes da Acção Católica e da JOC-JOCF, Assistente da Obra do Soldado, dou os soldados que ele serviu como Capelão Militar em Braga e na Índia e que é feito da capacidade mobilizadora de tantas centenas que frequentaram os Cursos de Cristandade?

Que silêncio se explica de tantos párocos que, através do Centro Social João Paulo II, na Apúlia, puderam realizar serviços sociais e pastorais e actividades de lazer, para os jovens, crianças e adultos ou de tantos irmãos de Confrarias (Sameiro e S. Bento da Porta Aberta) que ele serviu durante tantos anos?



As Solenidades da Semana Santa, os Congresso Nacional Mariano, Eucarístico Nacional, dos 900 anos da Sé, as Semanas Pastorais e de Direito Canónico, que elevaram o nome de Braga enriquecida com as obras de restauro da Sé Catedral e a sua afectuosa ligação ao Sporting de Braga não são argumentos de sobra que justificassem que o seu nome fosse dado a uma rua de Braga?

Sabem de quem estou a falar? É de Monsenhor Eduardo Melo Peixoto, falecido em 19 de Abril do ano passado. Há um ano. Faz hoje e vai haver uma homenagem — com um busto — na... Póvoa de Lanhoso!

Se ninguém anda distraído — muito menos esquecido do que ele fez por muitos e por Braga — será que falta coragem para o fazer? Que estranho pudor é este de quem manda em Braga quando não teve vergonha de receber (ou pedir e ele soube dar) o seu apoio em momentos apertados?

Saturday, April 11, 2009

Franceses em Braga há 200 anos (9)




Coincidindo com a tomada do Porto e o desastre da ponte das Barcas (na foto acima, local do cais), em que morreram cerca de quatro mil pessoas, muitas delas fugidas de Braga, o Marechal Soult começa a tentar captar as boas graças dos portugueses. Com a coordenação do Clero, foi notável a resistência nas regiões do Minho e Trás-os-Montes, apesar da embaixada "traidora" de Braga que vai ao Porto solicitar a Soult um "príncipe" francês para governar a Lusitânia Setentrional.

Soult mostrava que não estava muito afoito em marchar sobre Lisboa e estava mais preocupado em reforçar a linha de comunicação com a Galiza, tarefa que lhe absorvia muitos efectivos e as forças de que dispunha não lhe garantiam com sucesso um movimento sobre Lisboa.

A Defesa de Portugal — apoiado no Litoral com a chegada dos ingleses — reorganizava-se no interior do território, especialmente em Trás-os-Montes e nas Beiras, ao passo que no Minho era a resistência popular quem dava cartas. Brilha nos anais da história a elevada resistência de Ponte de Lima, marcada por inigualável selvajaria dos militares franceses que punia severamente o patriotismo dos seus habitantes.

O Município de Ponte de Lima vai levar a cabo uma Conferência, a realizar na Biblioteca Municipal, no dia 17 de Abril, pelas 21.00h, subordinada ao tema “O Norte de Portugal na Restauração e guerra contra os franceses”, pelo Prof. Doutor Viriato Capela. Esta será uma boa oportunidade para podermos conhecer o papel importante desenvolvido pela população de Ponte de Lima na resistência à passagem dos franceses. Os combates deram-se durante vários dias, em 7 de Abril o mais sangrento.

Durante o período das invasões francesas e inglesas, que devastaram o nosso país (1807-1820), Frei Francisco de S. Luís, mais conhecido como Cardeal saraiva, notável já pelo seu valor intelectual e moral, assume uma posição política de envergadura no movimento libertador do país. De tal modo, que o frade limiano aparece praticamente desligado da ordem beneditina para se consagrar ao movimento de libertação do seu povo e se mostrar decisivamente a favor da causa liberal que levou à revolução de 1820.

A resistência minhota está a ser devidamente divulgada por uma equipa de historiadores da Universidade do Minho, liderada por José Viriato Capela e participada pelos investigadores: Henrique Matos e Rogério Borralheiro, sobre o impacto das invasões francesas, no norte do país.  O I dos volumes previstos acaba de ser publicado com o apoio do Governo Civil de Viana do Castelo e as Câmaras de Barcelos, Braga, Caminha, Carrazeda de Ansiães, Monção, Ponte de Lima, Viana, Vila Nova de Cerveira e Vila Nova de Famalicão.

Mais uma parceria da Casa Museu de Monção e Universidade do Minho deu origem ao livro «O Heróico Patriotismo das Províncias do Norte. Os concelhos na restauração de Portugal de 1808».

Nestes dois volumes são narrados factos e mencionadas personalidades que abonam o «heróico patriotismo das populações dispersas pelas vilas e cidades do Norte de Portugal», dando para ajuizar bem da coragem e estoicismo de aldeia, por aldeia, vila por vila, cidade por cidade, se uniram em torno de uma causa comum: correr à vassourada essa gente invasora que abandonou, sem honra nem glória, a Terra que era (e é) nossa, depois de pilhar, saquear solares e igrejas e matar centenas de pessoas.

Estas publicações podem ajudar-nos a ter uma ideia objectiva da ânsia de poder do exército franco-espanhol, contra um País mais pequeno e menos  equipado com material bélico que aguentou a sua independência com a capacidade de resistência do seu povo.

Militarmente Portugal não poderia resistir ao poderio invasor. Graças ao reforço das tropas aliadas, nomeadamente inglesas, os Portugueses formaram unidades de milícias, sob as ordens dos municípios que se cotizaram para assumir os encargos inerentes a pelotões, companhias,  batalhões, bem como ao armamento indispensável à eficácia dessa  gente que patrioticamente deu aos invasores lições de grande coragem, bravura e sangue frio. Muitos milhares de nomes de antepassados nossos  aparecem mencionados nestas deliberações municipais, ordens de serviço, convocatórias. Como se recorda pelo papel interventivo que tiveram, a importância das vilas e concelhos do Minho e de Trás-os-Montes, como Braga, Póvoa de Lanhoso, Viana do Castelo, Barcelos, Guimarães, Ponte de Lima, Cerveira, Monção, Caminha, Esposende, Vila do Conde. Mas qualquer vila minhota encontra nestes livros nomes de voluntários, de beneméritos, de  patriotas que levaram a sério uma  reacção estóica para expulsar quem se intrometeu em solo Português.

É o caso do Francisco Joaquim de Abreu Maia, como oficial de milícias, fez parte integrante das forças militares que, em Vila Nova de Cerveira, impediram às tropas francesas, comandadas pelo general Soult, a passagem do rio Minho, em meados de Fevereiro de 1809.

São todos eles que cortam a ligação das tropas de Soult com a rectaguarda em Espanha, impedindo o abastecimento dos 35 mil homens e mais de 4500 cavalos franceses, enquanto o Brigadeiro Silveira mandava reforçar a ponte de Marco de Canaveses, guarda a ponte de Mondim de Basto e reforça a defesa de Amarante que ataca os franceses na primeira investida sobre aquela cidade.

Silveira toma posição na margem esquerda do rio Tâmega, para não ser atacado pelo Lado de Felgueiras, com tropas idas de Guimarães, travando um duro comabte entre 18 e 22 de Abril. Os franceses tentaram atravessar a ponte de Amarante três vezes, até que, numa atitude de desespero, decidiram lançar fogo às casas da vila. As tropas de Silveira defenderam durante 14 dias aquela passagem de forma heróica.

Era um tempo precioso para os franceses que tentavam a todo o custo reactivar os abastecimentos que vinham de Espanha. As povoações de Amarante estavam desertas e os recursos faltavam aos soldados. Só no dia 2 de Maio conseguiram destruir um arco da ponte e fazer a travessia.

Cinco dias depois começava o contra-ataque de Wellesley, a partir de Lisboa, com apoio de vinte mil militares ingleses e portugueses e na noite de 11 para 12 de Maio, as tropas atravessavam o Douro em barcas e os franceses ficavam numa situação crítica. Restava uma saída ao que ainda sobrava dos 35 mil homens e cinco mil cavalos da armada de Soult, sair para Espanha, por Guimarães ou Braga em direcção a Montalegre. Os franceses esperavam ter livre a estrada por Amarante, como veremos na próxima crónica.

Braga rentabiliza muito bem recursos financeiros




Braga é o segundo concelho de Portugal na rentabilidade das receitas, em média, por cada um dos seus habitantes, ao passo que Ponte de Lima é o concelho em que os habitantes menos devem per capita.

Braga é o segundo município do país com melhores resultados económicos de Portugal, ou seja, o que traduz a melhor rentabilidade das receitas por habitante. Braga é apenas ultrapassado por Loulé num cálculo semelhante ao rendimento de uma acção numa empresa — lê-se na página 120 do Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses referente a 2007 e divulgado anteontem em Lisboa.

João Baptista da Costa Carvalho, Presidente do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave e Professor Associado na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho é o coordenador do estudo que envolveu Maria José da Silva Fernandes, Pedro Jorge Camões e Susana Margarida Jorge, investigadores da Universidade do Minho.

No distrito de Braga, o segundo concelho com me-lhores resultados económicos é outro concelho com gestão socialista, Guima-rães, e aparece em 30.º lugar do ranking nacional.
No distrito de Viana do Castelo, o melhor lugar pertence a Melgaço que está em 13.º lugar a nível nacional, seguindo-se Monção (17.º), Ponte de Lima (23.º) e Viana do Castelo (24.º)

Braga e Seixal são os únicos municípios de brandes dimensões que não recorreram a empréstimos entre 2005 e 2007 — revela o mesmo documento.

No mesmo item, Vila Ver-de aparece em 13.º lugar como o município com piores resultados económicos, numa tabela em que o pior concelho é Lisboa.

No que se refere à eficiência financeira, o concelho de Braga surge em nono lugar nacional mas é o terceiro entre municípios de gran-des dimensões atrás de Almada e Amadora. O segundo melhor município mi- nhoto é Ponte de Lima, em 30.º lugar, e até ao 45.º lugar não aparece mais ne-nhum município do Minho.

Paredes de Coura é o município do Minho melhor pontuado quanto a despesas com pessoal face às despesas totais, em quinto lugar nacional, com uma taxa de despesa de 15,1 por cento. Em relação a 2006, melhorou a sua posição de forma notória pois ocupava o 14.º lugar.

Arcos de Valdevez aparece em décimo lugar nacional, com 16,2%, e Melgaço em 17.º lugar com uma taxa de 17,7%.
Fafe, entre os municípios de média dimensão, é o me-lhor posicionado entre os concelhos do Minho, com uma taxa de despesas com pessoal da ordem dos 19%.

No extremo oposto, nos primeiros 35 lugares não aparece nenhum município minhoto entre os que gastam mais com pessoal, face à despesa total.

No que se refere ao passivo, Braga aparece em sétimo lugar (com quase 90 milhões de euros, menos seis milhões que em 2005), numa lista liderada por Lisboa com 965 milhões de euros. Gaia, Aveiro, Porto, Gondomar e Maia têm um passivo maior que Braga, em 2007.

Política nebulosa: inocente condenado




Leio e não posso crer que o líder de um partido que é alternativa ao poder em Braga tenha dito que Domingos Névoa "não deixa de ser alguém que foi condenado pelo crime de corrupção" e parta daqui para uma série de considerações de carácter político-partidário.

Depois da primeira surpresa, não me custa a ler que o PCP de Braga — através da sua comissão política concelhia — venha lamentar a nomeação de Domingos Névoa "condenado recentemente por corrupção" e denunciar a promiscuidade existente no Bloco Central (PS e PSD).

Já não me espanta a ligeireza — mais condenável porque é parte no processo em curso — com que o Bloco de Esquerda lança uma petição enganando os subscritores quando pede aos líderes do PS, PSD e CDs que destituam Domingos Névoa e se pronunciem sobre a atitude dos seus autarcas que "votaram num condenado por corrupção".

Por sua vez, o Bloco de Esquerda de Braga afirma que é a " primeira vez que um condenado por corrupção activa afronta a justiça e a democracia" classificando a sua eleição para a presidência da Braval como "uma total falta de vergonha" (cf. Diário do Minho, 02.04.2009, pp. 6-7).

O PSD e o PCP como partidos responsáveis e estruturantes da democracia portuguesa não podem invocar ignorância sobre a lei Fundamental do nosso país, a Constituição, a qual determina que "todo o cidadão se presume inocente enquanto não houver trânsito em julgado da respectiva sentença de condenação".

O BE, por maioria de razão, por ser parte no processo em que foi primeiro a apresentar recurso da sentença em primeira instância, o que desde logo, inviabiliza — à sombra da nossa Constituição — que ele possa ser condenado a ser condenado.

E se assim é, então, das duas uma,
1. ou esse princípio constitucional é aceite e reconhecido como valor fundamental dum Estado que se pretende, verdadeiramente, de Direito, sempre e não apenas quando nos agrada, ou,
2. ao invés, é um mero exercício de retórica, sem valor, em que o Estado deixa de proteger os direitos mais elementares dos cidadãos, ficar sujeitos ao capricho de quem detém o poder de aparecer nos jornais ou das «emoções populares».

Ora, enquanto simples cidadão, quanto mais como jornalista, repugna-me aceitar que este princípio seja violado por quem já não tem os mínimos escrúpulos no exercício da actividade política, em que vale tudo para atingir os seus objectivos.

Porquê, então, ainda na dúvida (dado não haver condenação, muito menos com trânsito em julgado), condenar alguém, exigindo-lhe a demissão das funções por si exercidas, num retrocesso civilizacional?

Decididamente, em Braga, torna-se cada vez mais difícil, preocupantemente, a desejável e democrática discussão de ideias, projectos e valores porque gente muito responsável prefere abandonar a sala, serena e isenta dos Tribunais para o «Pelourinho» da praça pública emocionada.

Todas as justificações deste mundo e do outro nunca podem justificar — não justificam — nunca que se lance aos cães a honra de um homem e, por fim, a sua vida à custa de uma dupla violação criminosa dos seus acusadores em relação às leis fundamentais da nossa República, as que protegem a dignidade e a liberdade de cada um de nós.

Tal como o jornalista cúmplice, um político, seja ele qual for, não está acima da sociedade, mas faz parte dela. A necessidade de apanhar votos — mesmo à custa da ignorância dos simples — ou de vender jornais não pode nem deve ofender a honra, violar a imagem e ofender a dignidade de ninguém. Isso também é crime.

Os políticos de Braga têm de aprender de uma vez por todas que não podem recorrer à Justiça para fazer número ou "show off" e depois agir como se Portugal não fosse um Estado de Direito, com uma Constituição que preserva direitos fundamentais, entre eles, o do bom nome e o da presunção da inocência.

Chegámos ao grau zero (underground) da actividade política: à falta de temas, ideais e projectos, descamba-se para a fulanização da política, desrespeitando totalmente os direitos das pessoas.

Por um minuto, ponham-se no lugar dos enxovalhados. Que faziam? Toleravam? Não. Apresentavam queixa crime, como já o fizeram... todos. E fizeram por menos.