Wednesday, March 25, 2009

Franceses em Braga há 200 anos (8)




Depois da fantástica resistência de povoenses e bracarenses na Batalha de Braga, a 20 de Março de 1809, onde morreram cerca de cinco mil pessoas — dois mil na batalha do Carvalho d'Este mais três mil na Falperra — as tropas de Soult dirigiram-se para o Porto, onde chegaram há 200 anos, a 27 de Março.

Atrás dos combatentes que integravam as três divisões de Laborde, Heudelet e Mermet, seguia a reserva de dez mil homens que semeavam o saque, destruição, incêndios e todo o género de atrocidades por Ponte de Lima, Barcelos, Famalicão e outras localidades, como pode ler nas páginas 16 e 17 deste edição. Com a saída de Soult em Direcção ao Porto, começava a grande façanha do Brigadeiro Francisco da Silveira, que, ao recuar de Chaves para Vila Pouca de Aguiar, contribui decisivamente para a derrota dos franceses no Porto e o desastre desta incursão francesa por terras do Norte de Portugal.

Apressados em chegar ao porto, os franceses deixaram Chaves desguarnecida, abrindo caminho à reconquista desta cidade estratégica pelos soldados de Silveira. Num ataque em força, antes de Soult ter chegado ao Porto já a cidade de Chaves voltava a estar nas mãos dos portugueses (25 de Março de 1809). Os franceses renderam-se e 1400 foram feitos prisioneiros.

Em Braga permaneciam entre dois mil a três mil militares franceses e tornava-se presa fácil para os militares de Silveira que marcham em sua direcção até ao Barroso, onde chegam no dia 26 de Março. Os regimentos de milícias e os caçadores de Montalegre colocam-se entre Salamonde e Ruivães.

A rectaguarda dos franceses estava controlada e cortada a comunicação de Soult com Espanha. O Brigadeiro Silveira coloca mais dois regimentos de milícias em Cavês, Cabeceiras de Basto, protegendo o rio Tâmega. A reconquista de Braga estava programada para o dia 2 de Abril mas o Porto cai nas mãos dos franceses no dia 30 de Março e os planos de Silveira são revistos e, obedecendo ao comandante inglês Beresford recua para Vila real, com as suas tropas.

Beresford começava a reorganizar as tropas portuguesas cujos frutos se hão-de ver na batalha do Buçaco, no ano seguinte, trazendo milhares de soldados e oficiais de Inglaterra.

Quando o general Bernardim Freire de Andrade deixou o Porto e partiu para o Minho, para coordenar a defesa do rio Minho, a defesa do Porto ficou entregue ao Bispo que era o presidente da Junta Governativa.

Os cerca de vinte mil homens que defendiam o Porto traduziam a fragilidade da defesa da cidade. Soult reconheceu-a e enviou uma embaixada de paz ao Bispo do Porto intimando-o a render-se mas, como acontecera em Braga, os emissários foram assassinados pelos portuenses e a reconciliação foi impossível.

Na Ponte das barcas, milhares atropelavam-se para fugir em direcção a Lisboa — entre eles centenas de bracarenses — ou para uma última defesa do lado de Gaia, porque os alçapões da improvisada ponte cederam. Foi uma carnificina horrorosa e a cidade caiu nas mãos dos franceses sendo saqueada e alvo de toda a espécie de violências sobre os seus residentes, desde roubos a assassinatos.

O Marechal Soult, com escassez de abastecimentos, repensa a estratégia de marchar sobre Lisboa, depois de passado o rio Douro. Cortada a comunicação com Espanha, os seus mais de 30 mil soldados ficaram sem abastecimento na rectaguarda, e prepara-se para ficar no Porto e instituir o reino da Lusitânia Setentrional.

No dia 25 de Abril, Soult recebe uma embaixada de Braga a pedir que faça chegar a Napoleão a nomeação de um príncipe francês uma vez que os da Casa de Bragança os tinham abandonado, fugindo para o Brasil. Soult começa a pensar em ser nomeado Príncipe ou Rei.

Esta embaixada de Braga é a prova de que o Entre Douro e Minho estava completamente subjugado até ao rio Tâmega. Todavia, o desejo das elites encontrou forte oposição no povo. Com a coordenação do Clero, foi notável a resistência nas regiões do Minho e Trás-os-Montes, apesar de Soult ter tentado captar as simpatias populares.

Silveira manda reforçar a ponte de Marco de Canaveses, guarda a ponte de Mondim de Basto e reforça a defesa de Amarante que ataca os franceses na primeira investida sobre aquela cidade.

Silveira toma posição na margem esquerda do rio Tâmega, para não ser atacado pelo Lado de Felgueiras, com tropas idas de Guimarães, travando um duro comabte entre 18 e 22 de Abril. Os franceses tentaram atravessar a ponte de Amarante três vezes, até que, numa atitude de desespero, decidiram lançar fogo às casas da vila. As tropas de Silveira defenderam durante 14 dias aquela passagem de forma heróica.

Era um tempo precioso para os franceses que tentavam a todo o custo reactivar os abastecimentos que vinham de Espanha. As povoações de Amarante estavam desertas e os recursos faltavam aos soldados. Só no dia 2 de Maio conseguiram destruir um arco da ponte e fazer a travessia.

Cinco dias depois começava o contra-ataque de Wellesley, a partir de Lisboa, com apoio de vinte mil militares ingleses e portugueses e na noite de 11 para 12 de Maio, as tropas atravessavam o Douro em barcas e os franceses ficavam numa situação crítica. Restava uma saída ao que ainda sobrava dos 35 mil homens e cinco mil cavalos da armada de Soult, sair para Espanha, por Guimarães ou Braga em direcção a Montalegre. Os franceses esperavam ter livre a estrada por Amarante, como veremos na próxima crónica.

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