Wednesday, March 25, 2009

Victor Aguiar e Silva: "gaudeamus igitur"



A Universidade do Minho exulta de alegria com a atribuição de mais um prémio a um dos seus maiores mestres na literatura e humanismo portugueses: Victor Aguiar e Silva.

O investigador de Literatura Vítor Aguiar e Silva foi distinguido ontem com o Prémio D. Dinis 2009, pela obra “A Lira Dourada e a Tuba Canora: Novos Ensaios Camonianos”.

Instituído pela Fundação Casa de Mateus em 1980, o prémio, no valor de 7.500 euros, foi-lhe atribuído por unanimidade de um júri constituído por Vasco Graça Moura, Nuno Júdice e Fernando Pinto do Amaral.

Patrocinado pela Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas e pela Caixa Geral de Depósitos, o galardão premeia uma obra de poesia, ficção ou ensaio, de preferência publicada no ano anterior ao da sua atribuição.

Vítor Aguiar e Silva, nascido em 1939, tem-se dedicado sobretudo ao estudo da Teoria da Literatura — área em que o seu trabalho como professor e investigador tem sido nacional e internacionalmente reconhecido — bem como da Literatura Portuguesa do Maneirismo, do Barroco e do Modernismo.

A sua obra “Camões: Labirintos e Fascínios” fora já distinguida com o Prémio de Ensaio da Associação Portuguesa de Críticos Literários e da Associação Portuguesa de Escritores. Depois do Prémio Vergílio Ferreira, em 2007, foi-lhe entregue o Prémio Vida Literária, da Associação Portuguesa de Escritores.
Com esse prémio, o professor da Universidade do Minho foi colocado no patamar elevado de Miguel Torga José Saramago, Sophia de Mello Breyner Andressen , Óscar Lopes , José Cardoso Pires , Eugénio de Andrade , Urbano Tavares Rodrigues e Mário Cesariny.

Em 1989 este professor catedrático da Universidade de Coimbra, enriquece a Universidade do Minho, onde foi vice-reitor durante 12 anos.

No seu vasto currículo inclui Vítor Aguiar e Silva na liderança da criação do Instituto Camões. Em 1980, fundou o Centro de Estudos Portugueses, actual Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho, e a revista "Diacrítica", que dirigiu até à sua jubilação, em Julho de 2002.

Vítor Aguiar e Silva é inquestionavelmente um dos mais brilhantes académicos da Universidade Portuguesa na área das Letras e das Humanidades (Teoria da Literatura, Poética, Estética e Crítica Literárias, Estilística, Metodologia Literária, Investigação e Ensino da Literatura Portuguesa Clássica, Maneirista e Barroca, Moderna e Contemporânea, Estudos Camonianos...), com verdadeira dimensão nacional, europeia e planetária.

Por isso, hoje é um dia em que a Universidade do Minho pode cantar, com todo o brio, “Gaudeamus igitur” (Alegremo-nos por isso).

Franceses em Braga há 200 anos (8)




Depois da fantástica resistência de povoenses e bracarenses na Batalha de Braga, a 20 de Março de 1809, onde morreram cerca de cinco mil pessoas — dois mil na batalha do Carvalho d'Este mais três mil na Falperra — as tropas de Soult dirigiram-se para o Porto, onde chegaram há 200 anos, a 27 de Março.

Atrás dos combatentes que integravam as três divisões de Laborde, Heudelet e Mermet, seguia a reserva de dez mil homens que semeavam o saque, destruição, incêndios e todo o género de atrocidades por Ponte de Lima, Barcelos, Famalicão e outras localidades, como pode ler nas páginas 16 e 17 deste edição. Com a saída de Soult em Direcção ao Porto, começava a grande façanha do Brigadeiro Francisco da Silveira, que, ao recuar de Chaves para Vila Pouca de Aguiar, contribui decisivamente para a derrota dos franceses no Porto e o desastre desta incursão francesa por terras do Norte de Portugal.

Apressados em chegar ao porto, os franceses deixaram Chaves desguarnecida, abrindo caminho à reconquista desta cidade estratégica pelos soldados de Silveira. Num ataque em força, antes de Soult ter chegado ao Porto já a cidade de Chaves voltava a estar nas mãos dos portugueses (25 de Março de 1809). Os franceses renderam-se e 1400 foram feitos prisioneiros.

Em Braga permaneciam entre dois mil a três mil militares franceses e tornava-se presa fácil para os militares de Silveira que marcham em sua direcção até ao Barroso, onde chegam no dia 26 de Março. Os regimentos de milícias e os caçadores de Montalegre colocam-se entre Salamonde e Ruivães.

A rectaguarda dos franceses estava controlada e cortada a comunicação de Soult com Espanha. O Brigadeiro Silveira coloca mais dois regimentos de milícias em Cavês, Cabeceiras de Basto, protegendo o rio Tâmega. A reconquista de Braga estava programada para o dia 2 de Abril mas o Porto cai nas mãos dos franceses no dia 30 de Março e os planos de Silveira são revistos e, obedecendo ao comandante inglês Beresford recua para Vila real, com as suas tropas.

Beresford começava a reorganizar as tropas portuguesas cujos frutos se hão-de ver na batalha do Buçaco, no ano seguinte, trazendo milhares de soldados e oficiais de Inglaterra.

Quando o general Bernardim Freire de Andrade deixou o Porto e partiu para o Minho, para coordenar a defesa do rio Minho, a defesa do Porto ficou entregue ao Bispo que era o presidente da Junta Governativa.

Os cerca de vinte mil homens que defendiam o Porto traduziam a fragilidade da defesa da cidade. Soult reconheceu-a e enviou uma embaixada de paz ao Bispo do Porto intimando-o a render-se mas, como acontecera em Braga, os emissários foram assassinados pelos portuenses e a reconciliação foi impossível.

Na Ponte das barcas, milhares atropelavam-se para fugir em direcção a Lisboa — entre eles centenas de bracarenses — ou para uma última defesa do lado de Gaia, porque os alçapões da improvisada ponte cederam. Foi uma carnificina horrorosa e a cidade caiu nas mãos dos franceses sendo saqueada e alvo de toda a espécie de violências sobre os seus residentes, desde roubos a assassinatos.

O Marechal Soult, com escassez de abastecimentos, repensa a estratégia de marchar sobre Lisboa, depois de passado o rio Douro. Cortada a comunicação com Espanha, os seus mais de 30 mil soldados ficaram sem abastecimento na rectaguarda, e prepara-se para ficar no Porto e instituir o reino da Lusitânia Setentrional.

No dia 25 de Abril, Soult recebe uma embaixada de Braga a pedir que faça chegar a Napoleão a nomeação de um príncipe francês uma vez que os da Casa de Bragança os tinham abandonado, fugindo para o Brasil. Soult começa a pensar em ser nomeado Príncipe ou Rei.

Esta embaixada de Braga é a prova de que o Entre Douro e Minho estava completamente subjugado até ao rio Tâmega. Todavia, o desejo das elites encontrou forte oposição no povo. Com a coordenação do Clero, foi notável a resistência nas regiões do Minho e Trás-os-Montes, apesar de Soult ter tentado captar as simpatias populares.

Silveira manda reforçar a ponte de Marco de Canaveses, guarda a ponte de Mondim de Basto e reforça a defesa de Amarante que ataca os franceses na primeira investida sobre aquela cidade.

Silveira toma posição na margem esquerda do rio Tâmega, para não ser atacado pelo Lado de Felgueiras, com tropas idas de Guimarães, travando um duro comabte entre 18 e 22 de Abril. Os franceses tentaram atravessar a ponte de Amarante três vezes, até que, numa atitude de desespero, decidiram lançar fogo às casas da vila. As tropas de Silveira defenderam durante 14 dias aquela passagem de forma heróica.

Era um tempo precioso para os franceses que tentavam a todo o custo reactivar os abastecimentos que vinham de Espanha. As povoações de Amarante estavam desertas e os recursos faltavam aos soldados. Só no dia 2 de Maio conseguiram destruir um arco da ponte e fazer a travessia.

Cinco dias depois começava o contra-ataque de Wellesley, a partir de Lisboa, com apoio de vinte mil militares ingleses e portugueses e na noite de 11 para 12 de Maio, as tropas atravessavam o Douro em barcas e os franceses ficavam numa situação crítica. Restava uma saída ao que ainda sobrava dos 35 mil homens e cinco mil cavalos da armada de Soult, sair para Espanha, por Guimarães ou Braga em direcção a Montalegre. Os franceses esperavam ter livre a estrada por Amarante, como veremos na próxima crónica.

Franceses em Braga há 200 anos (7)




Nesta semana evocamos a entrada triunfal das tropas francesas — escorraçadas de Tui, Caminha e Cerveira — por Chaves em Portugal. Na Galiza, ecoam ainda as batalhas gloriosas pela expulsão total dos franceses das principais cidades, desde Vigo a Ourense, numa íntima colaboração entre os civis, milícias e militares.

O Marcehal Soult tentava cumprir a última ordem de Napoelão: entrar em Portugal, a partir do quartel general instalado em Santiago de Compostela, com o avanço de duas divisões, uma para Tui e outra para Pontevedra, como escrevemos na crónica anterior.

Por cá, o general Bernardim Freire de Andrade assumia o comando das forças na província do Minho de modo a impedir a entrada no inimigo por Trás-os-Montes, de modo a cobrir e defender o Porto. Os 2400 homens postados em Chaves. Eram poucos para fazer face aos 24 mil homens franceses que Napoleão colocou à disposição de Soult, por ordem expressa a 21 de Janeiro de 1809. Com mais de 54 mil franceses preparados para entrar em Portugal, pelo Minho, pelas Beiras e pelo Alentejo, em três frentes, o primeiro dissabor aconteceu com a derrota em Caminha e Cerveira.

A 31 de Janeiro de 1809, o governo militar de braga era entregue a Caetano Vaz Parreiras. De Braga partiu para Ponte de lima e depois para Viana e Caminha. Distribuiu as suas tropas ao longo do rio Minho — em ano de enchente e grande cheia. Os portugueses resistiram galhardamente e afastaram os franceses a 16 de Fevereiro.

Os franceses contornaram a fronteira para entrar por Chaves onde as tropas portuguesas resistiram apenas quatro dias (8 a 12 de Março) e são obrigadas a recuar para Vila Pouca de Aguiar para proteger Vila real mas deixando Braga descoberta e indefesa.
Bernardim Freira deixa o rio Minho e reagrupa as tropas em Braga, em posição muito crítica face ao recuo dos homens de Chaves para Vila real, como veio a acontecer. Bernardim Freire ainda tomou a opção de ocupar uma excelente linha defensiva na Serra da Cabreira, entre Salamonde e Cavês, mas a posição revelou-se débil. Os franceses chegaram a Ruivães (Vieira do Minho) sem dificuldade e forçaram a passagem em Salamonde e na Venda Nova.
As notícias destes fracassos _ defesa na Cabreira e no desfiladeiro de Venda Nova — chegaram rapidamente a Braga. O povo revolta-se contra o general Bernardim Freire e exige-lhe que ele marche em direcção à Serra do carvalho d+Este, cuja defesa estava a ser feita pelo barão de Ebsen. Esta importante posição defensiva era constituída pelos montes do Carvalho, Bom Jesus, Adaúfe, Sameiro, Santo António e Falperra, contornando a bacia do rio Este.

Bernardim Freire conclui ser inútil a defesa e prepara-se para retirar, de modo a salvar o seu exército. O povo de Braga não gostou desta desistência, amotinou-se e assassinou o general Bernardim Freire, sob a acusação de servir os franceses, aclamando o barão de Ebsen, que tomou o comando do Carvalho d''Este, Ponte do Porto (Amares) e Falperra.
No dia 17 de Março de 2009, os franceses atacam Carvalho d'Este "mas nada conseguem contra esta formidável posição"
— como escreve António ventura em "Nova História Militar de Portugal", Volume 3.

Os franceses recorreram a mais duas divisões (de Mermet e Haudelet) que chegam no dia 19 e no dia 20 Soult organiza um ataque com três colunas ( divisões Haudelet, Mermet e Laborde) e saiu vitorioso.
A Divisão de Haudelet entrou pela ponte do porto, passou por Crespos e conquistou o Monte de Adaúfe. A divisão de Laborde, vem pela Póvoa de Lanhoso, conquista a defesa do castelo de Lanhoso, segue pelo Pinheiro e concentra-se em Carvalho d'Este, enquanto a divisão de Mermet conquista o flanco da Falperra e junta-se à de Laborde, no Bom jesus, antes de descer a Braga.

Os franceses conquistaram Braga nesse dia mas, ao contrário do que esperavam, encontraram uma cidade completamente deserta. No dia 22 de Marços, todas as tropas de Soult estavam concentradas em Braga e arredores. De Braga, os franceses deslocaram-se para Guimarães onde encontraram alguma resistência nas Taipas, ao passar o rio Ave, antes de chegarem ao Porto a 27 de Março. Em Braga ficaram cerca de três mil militares gauleses.

Franceses em Braga há 200 anos (6)

Já lembramos alguns dos passos históricos que estiveram na origem da segunda invasão francesa há 200 anos e constitui — após a entrada de leão por terras de Vieira e da Póvoa de Lanhoso em direcção ao Porto, em Março de 1809 — uma das maiores derrotas militares do Marechal Soult.

Na crónica passada lembramos que o levantamento do povo português estava em marcha e o desembarque inglês tornava-se uma realidade a prazo. Em Espanha surgiam os primeiros sinais de levantamento castelhano contra a ocupação pelos exércitos de Napoleão cuja presença era, falsamente, justificada com a necessidade de apoiar Junot em Lisboa.

O massacre de milhares de madrilenos no dia 2 de Maio de 1808 propaga-se a toda a Espanha e a nação castelhana levanta-se em armas, criando juntas secretas de resistência em todas as cidades, desde a Galiza até Sevilha e Andaluzia.

A humilhação do general Dupon pelo oficial espanhol Castaños, na Andaluzia, impertigou os portugueses e Junot começava a ficar isolado, em Lisboa. A revolta portuguesa começa no Porto, no dia 6 de Junho, alastrando depressa a Trás-os-Montes, Beiras, todo o Minho, colocando todo o Norte de Portugal em estado de insurreição e contamina o Algarve. Mais tarde chega ao Alentejo e a repressão francesa foi violenta, especialmente em Beja onde foram massacradas 1200 pessoas, além de toda a espécie de pilhagens e profanações, um pouco por todas as cidades.

Junot, acossado, concentra todas as forças em Lisboa e facilita o alastramento da revolta patriótica em todo o país e e a perda da comunicação com Espanha. A invasão francesa — a primeira — começa a fraquejar a com a entrada das tropas inglesas que desembarcam a 1 de Agosto, na praia de Lavos, próximo de Buarcos, na Figueira da Foz.

A batalha da Roliça é o primeiro passo da derrota e fuga dos franceses, no dia 17 de Agosto de 1808, entre Óbidos e Bombarral.
Na Roliça, a 17 de Agosto de 1808, perto de Óbidos, onde o general Laborde foi ferido, deu-se o primeiro teste contra os franceses que são derrotados em Vimieiro, quatro dias depois, sendo repelidos com perdas consideráveis: um general, muitos oficiais, cerca de 1800 homens, contra 153 mortos ingleses aliados. Com estas duas derrotas, a presença das tropas francesas torna-se insustentável e a Convenção de Sintra, a 30 de Agosto, marca o início da retirada do exército francês de Portugal carregado de objectos roubados.

Foi um acordo que salvou o exército gaulês e não foi bem entendido pelos portugueses. A Legião Lusitana enviada para França não foi contemplada no acordo para regressar a Portugal, deixando o exército português sem cabeça. Napoleão quis condenar Junot pelo fracasso mas desistiu de castigar um velho amigo.

A defesa de Portugal estava entregue aos ingleses enquanto os franceses não desistiam dos seus intentos de invadir Portugal, permitindo que, há duzentos anos, as gentes de Caminha vivessem um dia histórico na defesa das fronteiras de Portugal contra a invasão das tropas francesas comandadas por Soult. Os gauleses preparavam-se para entrar em Portugal, depois da heróica e encarmiçada resistência dos galegos.

Os franceses foram surpreendidos pelas condições climatéricas e pelo patriotismo dos portugueses de Caminha que os impediram de atravessar o rio Minho.

Todos os barcos do rio foram guardados pelos portugueses bem longe das margens do rio e os pequenos barcos confiscados pelos franceses em La Guardia foram insuficientes para atravessar o Minho que, nesse ano, devido a duas semanas de intensa chuva estava muito mais largo na barra que era varrida pela artilharia instalada o Forte da Ínsua.

Foi assim que o general Soult desistiu de invadir Portugal pelo norte, direccionando as suas tropas para Chaves, para encontrar aí nova entrada em Portugal. Os franceses deixavam para trás a forte resistência galega que se fazia sentir em Tui e se alastra depois a Vigo contra a presença dos inimigos da pátria.

Para se ter uma ideia da grandeza da invasão, as tropas de Soult reuniam 24 mil homens. Os franceses apenas conseguiram desembarcar algumas tropas no Camarido que foram rapidamente aprisionadas pelos portugueses. Por volta das 12 horas do dia 16 de Fevereiro, os franceses tentam nova incursão em Cerveira mas as tropas protuguesas resistiram com grande eficácia. Era assim adiada por mais alguns dias a segunda invasão francesa que pretendia passar por Braga e Porto na caminhada em direcção a Lisboa.