Saturday, February 14, 2009

Franceses em Braga há 200 anos (4)



Já lembramos alguns dos passos históricos que estiveram na origem da segunda invasão francesa em Fevereiro de 1809 e constitui — após a entrada de leão por terras de Vieira e da Póvoa de Lanhoso em direcção ao Porto — uma das maiores derrotas militares do Marechal Soult.

Na crónica passada lembramos a entrada rápida das tropas francesas, até Abrantes (24 de Novembro) e a tomada de Tomar, em que as tropas de Junot seguiram até Santarém, Carregado, Alverca em direcção à capital, onde chegaram no dia 30 de Novembro de 1807, três dias depois do embarque da Família real para o Brasil.

Face à iminência da invasão de Portugal, o príncipe D. João comunica a Napoleão que vai cumprir as disposições do Bloqueio Continental e declara guerra a Inglaterra, prendendo todos os ingleses que se encontravam em Portugal. Era o sinal incluído na Convenção secreta entre Portugal e Inglaterra, assinado oito dias antes. O Embaixador Lord Strangford refugia-se na esquadra inglesa fundeada no Tejo e prepara a fuga da família real, banida por decreto de Napoleão.

Na posse desta informação que confirmava a invasão, D. João retira-se com a família e uma enorme comitiva para terras de Santa Cruz, no momento em que os franceses já se encontravam em Abrantes. O embarque da família real acontece no dia 27 de Novembro, entregando o governo do país a um grupo de pessoas da confiança do príncipe, liderados pelo Marquês de Abrantes,

Junot apercebe-se da fuga real e tenta acelerar a caminhada em direcção a Lisboa para a impedir, uma vez que a fuga era um rude golpe pois o impossibilitava de tomar refém o poder político em Portugal.

Junot, com 1500 homens em situação deplorável, chega a Lisboa na manhã de 30 de Novembro, terminando uma invasão desencadeada com grande risco se existisse em Portugal uma defesa digna desse nome.

Arranjado alojamento para mais de 12 mil homens, organizou o fornecimento de alimentos aos solados e fabrico de sapatos e cartuchos para reorganizar o corpo de polícia, enquanto fechava o porto de Lisboa para impedir novas fugas.

As outras divisões do exército francês, apoiadas por espanhóis ocupavam e instalavam-se nas cidades de Elvas, campo Maior, Alentejo e Algarve, sem qualquer resistência. Outra divisão entrou por Valença e ocupou a faixa litoral até´ao Porto.

Com o porto de Lisboa bloqueado pelos ingleses, Junot teve de servir-se da ligação com Espanha para os abastecimentos à capital, alargando a uma segunda nas margens do Mondego. Em Maio de 1808, o príncipe rasgava todos os acordos com França a quem declarava guerra e reconhecia a amizade fiel de Inglaterra que já tinha ocupado a Madeira e daí apenas sairam quando as tropas portuguesas e inglesas afastaram os franceses do Continente, em 1814.

Entretanto, Junot sonhava ser Rei de Portugal, na altura com três milhões de habitantes dominados pela alta nobreza e alto clero, proprietários de grandes áreas e detentores de altos privilégios sobre a grande massa popular resignada que vivia da agricultura e do artesanato.

A revolução industrial ainda não chegara a Portugal e os portugueses não viram com bons olhos a invasão das tropas de Junot, numa época em que os ideais, o patriotismo e os interesses pessoais se confrontavam com grande violência.
Acresce que ele impôs a Portugal uma contribuição de dois milhões de cruzados para sustentar os soldados franceses, confiscou todos os bens pertencentes a indivíduos vassalos de Inglaterra residentes em Portugal, proibiu o uso de armas de fogo, incluindo as de caça,

Junot depressa decapitou e extinguiu o exército português e as milícias e o povo ficou completamente nas mãos do invasor, enquanto os opositores ao domínio francês eram fuzilados.

A resistência do povo surpreendeu Junot que, a 26 de Junho de 1808 se interroga: " Que delírio é o vosso? Em que abismo de males quereis ficar sepultados? Depois de sete meses de perfeita harmonia, que razão vos faz pegar em armas e contra quem? (...) Vós ficai sosssegados em vossos campos".

O levantamento do povo português estava em marcha e o desembarque inglês tornava-se uma realidade a prazo. Em Espanha surgiam os primeiros sinais de levantamento castelhano contra a ocupação pelos exércitos de Napoleão cuja presença era, falsamente, justificada com a necessidade de apoiar Junot em Lisboa.

O massacre de milhares de madrilenos no dia 2 de Maio de 1808 propaga-se a toda a Espanha e a nação castelhana levanta-se em armas, criando juntas secretas de resistência em todas as cidades, desde a Galiza até Sevilha e Andaluzia. A humilhação do general Dupon pelo oficial espanhol Castaños, na Andaluzia, impertigou os portugueses e Junot começava a ficar isolado, em Lisboa.

A revolta portuguesa começa no Porto, no dia 6 de Junho, alastrando depressa a Trás-os-Montes, Beiras, todo o Minho, colocando todo o Norte de Portugal em estado de insurreição e contamina o Algarve. Mais tarde chega ao Alentejo e a repressão francesa foi violenta, especialmente em Beja onde foram massacradas 1200 pessoas, além de toda a espécie de pilhagens e profanações, um pouco por todas as cidades.

Junot, acossado, concentra todas as forças em Lisboa e facilita o alastramento da revolta patriótica em todo o país e e a perda da comunicação com Espanha. A invasão francesa — a primeira — começa a fraquejar a com a entrada das tropas inglesas que desembarcam a 1 de Agosto, na praia de Lavos, próximo de Buarcos, na Figueira da Foz.

A batalha da Roliça é o primeiro passo da derrota e fuga dos franceses, no dia 17 de Agosto de 1808, entre Óbidos e Bombarral.

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