Saturday, January 31, 2009

Poder mágico (desperdiçado) de Compostela e Braga



As velhas pedras e os valores a elas associados podem ser factores de riqueza hoje se Braga e Santiago de Compostela unirem esforços na criação de um produto turístico e esquecerem posturas de desconfiança empobrecedoras. O Caminho Português de Santiago — que liga as duas cidades — pode ser a inspiração para um produto turístico de excelência que beneficia ambas.

Esta é a convicção do Director geral de Turismo da Galiza, no âmbito da proposta de um produto turístico centrado no património cultural e religioso proposto por Varico da Costa Pereira e publicado em livro patrocinado pela Xunta de Galicia.
Estas duas cidades têm esse poder mágico de evocar e transmitir pegadas e emoções nas suas ruas, praças e santuários com a sua marca original de comércio, religião e história política ao longo dos séculos timbrados na saída do seu casco histórico para se desenvolverem em harmonia sem perder os traços do seu carácter.

O presente pode fazer-se com um retorno ao passado da Galécia — actual Galiza e Norte de Portugal — em que a capital histórica era Braga, que deu origem ao Reino Suevo, com capital em Braga, até ao século X. A fronteira apenas começou com o Tratado de Tui, em 1137, quando se geram as disputas entre Compostela e Braga pela Primacia, contribuindo para sentimentos opostos entre os povos dos dois lados da raia. A fronteira de Tui foi ignorada durante séculos até às guerras da Restauração que transformaram a Galiza e o Alto Minho em cenários de combates.

Recentemente, muitos resistentes galegos refugiaram-se em Portugal, comtando com a ajuda dos minhotos, apesar de Portugal apoiar o regime de Franco.

O contrabando foi uma realidade presente até à abertura das fronteiras em 1986. Por isso, já se perderam duas décadas num distanciamento económico e social, entre Braga e Compostela, apesar de esta ser a primeira Euro-região.

Hoje ninguém pode negar a importância económica que o turismo religioso e cultural e os números não enganam quando afirmam Braga e Compostela como "cidades com maior relevância para o enraizamento e desenvolvimento de actividades turísticas" ligadas à Fé e ao Saber.

Ambas possuem um inegável património, diversidade de recurso turísticos a começar na qualidade ambiental e paisagística dos espaços rurais, a prosseguir na religiosidade e hospitalidade das suas gentes e a terminar num cenário único para a procura do saber, vivência da Fé e da espiritualidade.

Num tempo de globalização, os destinos turístico fortalecem-se em parcerias, mais urgentes quando estamos a falar de uma euro-região periférica que tarda em perceber que a cooperação trans-fronteiriça traz força às duas cidades.

A viagem e a estadia de pessoas que se deslocam a um determinado santuário ou outro local de culto implicam sempre o consumo de bens e serviços que são fornecidos por empresas e outras instituições ligadas ao turismo. Estamos a falar de um universo de mais de seis milhões de pessoas (cinco milhões em Santiago de Compostela e mais de um milhão em Braga).

Estes números são suficientemente atractivos para a criação de um produto conjunto de turismo cultural e religioso, através da criação de sinergias que ambas as margens do rio Minho possuem em catadupa.

As duas cidades ostentam um património religioso atractivo, associado ao catolicismo, capaz de as diferenciar das restantes cidades do Noroeste Ibérico e — se houver vontade — capazes de ser ponto de partida ou chegada de um roteiro turístico excelente.

Varico da Costa Pereira desenvolveu um trabalho de campo, através de entrevistas aos que visitam as duas cidades, recolhendo dados macro-económicos, culturais e sociais e concluiu que Braga e Santiago de Compostela só retiram vantagens de vária ordem se deitarem os pés ao caminho para criar esse produto turístico de excelência europeia e mundial.

Nesse trabalho, Braga e Santiago de Compostela lideram a importância ao nível religioso e elevada importância ao nível cultural e mais de 94% aceita participar num roteiro turísitico entre as duas cidades, sendo cultural a primeira motivação.

A CIDADE DOS ARCEBISPOS

Não é preciso definir Braga, terceira cidade do país, com mais de dois mil anos, densamente povoada, a partir de um Centro histórico em renovação, com um desenvolvimento acentuado económico, cultural, social e científico. O seu conhecido "triângulo turístico" é célebre mas é uma gota no oceano, de modo a deixar que se limite a
ser apenas um ponto de passagem entre Fátima e Santiago.

Pontos fortes

Bom Jesus — os restaurantes, os hotéis, o elevador movido a água, o lado dos barcos, os recintos de lazer e desporto e belas vistas sobre Braga desafiam ao passeio e ao repouso.

Sameiro — a seguir a Fátima, maior centro de devoção mariana de Portugal, palco de grandes peregrinações, colóquios e congressos, com toda a envolvente de jardins, fontes de água, lago.

A Sé — ex-libris de Braga com o seu inigualável tesouro é um compêndio de história da arte ao vivo.

Tibães — Casa mãe dos beneditinos e "obra prima absoluta do Barroco português" que permite um contacto íntimo com a riqueza de umas das mais prestigiadas ordens religiosas do Cristianismo e a sua influência cultural no Norte de Portugal.

S. Frutuoso e Dume — pólos incontornáveis para perceber o monaquismo e a implantação do cristianismo no Noroeste Peninsular.

Centro histórico — com monumentos religiosos, capelas e museus marcados aqui e ali por obras da arquitectura civil como Casa dos Crivos, Casa dos Coimbras, Teatro Circo, Estádio Municipal ou Palácio do Raio.

Festas — Semana Santa e S. João.

Gastronomia e o vinho verde, complementados com proximidade ao Parque Nacional da Peneda-Gerês, termas de Caldelas e Gerês (complementos do produto centrado em Braga) e Palácio de Exposições e Desportos.

Aspectos atractivos

De acordo com o inquérito feito a 400 pessoas que visitaram Braga, os aspectos mais atractivos desta cidade são:
Monumentos religiosos 63%
Monumentos 53%
Semana Santa 45%
Gastronomia 48%
Centro Histórico 36%
Museus (sacros) 33%
S. João 21%

Que se faz em Braga

Quando se pergunta aos turistas o que fazem em Braga, as respostas são estas:

Passear no Centro histórico 94,3%
Visitar monumentos 90,5%
Visita á Sé 85,5%
Visita ao Bom Jesus 63,3%
Visita ao Sameiro 60%
Comprar recordações 55%
Comer prato típico 48,5%
Actividade cultural 26%
Visitar museus 27,5%
Semana Santa 19,9%

Grau de satisfação

Os restaurantes, o alojamento, os monumentos e os eventos culturais estão à frente no nível de satisfação dos turistas que visitam Braga em contraponto ao transporte, sinalização e informação turística. Mais de 72% dos turistas quer fazer segunda visita, ao passo que 99 por cento recomenda Braga a um amigo, o que é o melhor promotor da cidade.

Fragilidades

Ponto de passagem rápida — mais de 64% por cento dos turistas diz que está de passagem, em média permanece cinco horas na cidade de Braga, para visitar 2/3 monumentos e fazer uma refeição.
Apenas 36% pernoitam em Braga ou na periferia. Destes, apenas 16% pernoitam em hotéis.

Imagem associada

Braga está intimamente relacionada com a religião e é para a maioria dos turistas a "cidade dos arcebispos" (28%), das Igrejas (18%), cidade barroca (14%), "cidade da porta aberta" (5,5%) e dos jovens e estudantes .



CIDADE DO APÓSTOLO

Santiago de Compostela é a capital da Galiza, onde serviços, universidade e turismo são as principais fontes de dinamismo. Conta com um centro histórico medieval de excelência (Património da Humanidade), em torno da Catedral, Palácio Raxoi e um dos principais centros de peregrinação do mundo, depois de Jerusalém e Roma. Como Braga, além da Universidade, possui 46 igrejas, 288 altares e 36 congregações que lhe conferem um cariz cultural e religioso destacável.

Pontos fortes

Programação cultural permanente — no auditório Galiza e nos teatros Principal e Santiago, Orquestra Filarmónica da Galiza, inúmeros concertos musicais, rede de museus e Palácio de Exposições e Congressos.

Centro de peregrinação — de 900 mil em 1954, são mais de dez milhões os que peregrinam até Compostela, com reabertura de velhos albergues, edição de roteiros e mapas afirmando-se como Primeiro Itinerário Cultural Europeu pelo Conselho da Europa, desde 1987.

Caminhos portugueses para Santiago — aposta essencial no diálogo cultural e religioso do Noroeste Peninsular.

Empresa municipal responde às necessidades e promoção da cidade e dialoga permanentemente com agentes do sector.

Semelhanças e diferenças

Férias e lazer são motivação para visitar Braga ao passo que a peregrinação ocupa o primeiro lugar na razão de visitar Compostela mas centra-se nos monumentos e religiosidade, gastronomia e passeio pelo centro histórico.

A publicidade boca a boca é o meio mais eficaz para chegar aos turistas mas o índice de recomendação a um amigo é maior entre os que visitam Braga que tem mais fragilidades nos transportes, sinalização e informação.

O número de turistas que pernoita é mais elevado em Santiago e o mercado interno constitui a maior procedência de turistas. Quanto a estrangeiros, os portugueses são os primeiros em Compostela e os espanhóis são os primeiros em Braga.

A imagem que os turistas têm das duas cidades é semelhante, ambas associadas à religião: Braga ligada aos Arcebispos e Compostela ao Apóstolo. São as mais importantes do Noroeste Peninsular a nível religioso. Os turistas são mais jovens em Santiago que em Braga e os de Santiago t~em um poder de compra mais elevado que os que visitam Braga.

FUTURO EIXO SANTIAGO-BRAGA

Braga só tem a ganhar se unir a Santiago numa estratégia de turismo envolvendo o espaço da antiga Galécia. No entanto, ao contrário da Galiza, o Plano Estratégico Nacional de Turismo (2006-2015) identificou dez produtos estratégicos e atractivos e não inclui o Turismo religioso. Ou Braga fica à espera de 2016, a marcar passo, ou assume o seu próprio destino como pólo turístico ou com um produto específico em associação com Compostela.

Esse produto — Um destino duas cidades, por exemplo — , possui cinco componentes:

1. as atracções naturais, construídas, culturais, sociais e religiosas;
2. instalações e serviços (alojamento, restauração, transportes, actividades desportivas, artesanato;
3. acessibilidade ao destino, sinalização e informação turística;
4. a imagem da cidade e percepção dos destinos;
5. preço da viagem, alojamento e participação nas atracções e actividades diversas.

Prioridades

1. Mais que estar associado a este ou outro organismo, são importantes as capacidades culturais, monumentais, gastronómicas, alojamento e comunicações instaladas em cada cidade.

2. Mais importante que a pertença a este ou outro organismo de promoção, é essencial ter um produto bom para oferecer e seduzir o peregrino ou turista que se encarrega de divulgar aos seus amigos e familiares.

3. Braga e Compostela tem as riquezas essenciais para um um produto turístico religioso-cultural e sedutor.

4. Criar rede interna (associando em cada cidade os pólos de interesse cultural e religioso) e externa (unido-se num trajecto e produto comum com a cidade "gémea").

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