Sunday, January 25, 2009

Franceses em Braga há 200 anos (2)



Já lembramos alguns dos passos históricos que estiveram na origem da segunda invasão francesa em Fevereiro de 1809 e constitui — após a entrada de leão por terras de Vieira e da Póvoa de Lanhoso em direcção ao Porto — uma das maiores derrotas militares do Marechal Soult.

Era um tempo — recordamos na primeira crónica — em que a França ameaçava todos os interesses marítimos dos ingleses e Portugal é colocado perante um dilema: ou aceita a paz com a França, em troca do abandono da aliança com Inglaterra (que escarnecia do seu aliado no Brasil e no Oriente) ou mantinha-se fiel a uma Inglaterra pouco leal e sujeitava-se a invasões francesas por interposta Espanha dominada por Godoy.

Perante este abandono a que Portugal era votado pelos aliados ingleses, restava ao nosso país as negociações para a paz, com os franceses, uma vez que a tese da neutralidade não era aceite pelo Directório gaulês como fora comunicado ao Conde da Barca. António de Araújo e Azevedo comunica ao Governo português as exigências francesas para um acordo de paz que incluíam "o abandono da aliança inglesa, com a consequente exclusão de navios britânicos dos portos portugueses, a livre admissão dos franceses, a indemnização de guerra e liberdade de navegação no Amazonas".

Estas propostas traduziam-se num corte de relações com Inglaterra. Portugal, numa primeira fase, mostrou-se disponível para romper com a aliança britânica mas esta potência opôs-se e o nosso António Araújo é detido em Paris, violando todos os direitos dos diplomatas.

Entalado entre os interesses ingleses e a vontade dos franceses em romper com Portugal que também ficava mal visto diante dos ingleses por negociar com Paris o fim do "casamento" com Londres.
Se Portugal aceitasse a doutrina de França — a paz em troco do abandono da aliança com Inglaterra — expunha o Brasil e o Oriente, as comunicações marítimas e o seu comércio geral.

Assim, face ao abandono dos ingleses, Portugal tenta negociar a paz com Paris. O Conde da Barca era o intermediário da vontade francesa em negociar com Portugal, desde que abríssemos os nossos portos aos franceses e lhes abríssemos as águas do Amazonas. Estas condições significavam a ruptura com Londres mas Portugal chega mesmo a redigir um tratado de Paz com França, os ingleses protestam e os franceses prendem o Conde da Barca, embaixador de Lisboa em Paris.

Entre avanços e recuos — com Londres e Paris — a diplomacia portuguesa, na esperança de que a França (ocupada com outras frentes de batalha) não atacasse Portugal.

O Governo de D. Maria I dedica-se a reorganizar a economia e o exército "sem disciplina nem subordinação alguma e, além disso, mal pago" — como descreve a "História da Guerra Civil e do estabelecimento do Govenro parlamentar em Portugal".
Nos fins de Novembro de 1800, Luciano, irmão de Bonaparte, era designado embaixador de França em Madrid traduzindo a importância que ligava os interesses de Paris e Espanha. Portugal expunha-se a iminente perigo mas confiava que os apertados laços de sangue... de Carlos IV com a corte portuguesa capazes de impedir a invasão. Puro engano quando o monarca de Castela afirmava a vontade de desafronta a muitos ultrajes lusitanos quando diz "venderia a minha coroa e a própria camisa que visto" se não o fizesse.

A Portugal não restava outra saída se não a guerra com França e a 20 de Maio de 1801, o Alentejo era invadido sem que os portugueses se tivessem preparado minimamente para resistir à invasão em qualquer um dos quatro pontos de entrada. Era o resultado de uma política ambígua portuguesa perante a complexidade de interesses e equilíbrios de poderes na Europa de então.

Começava assim uma década de permanentes conflitos militares que destroçaram o país.

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