Thursday, December 4, 2008

Até quando um concelho anão?



Antes de mais nada, devo confessar que sinto pena daquelas pessoas que me catalogam de inteligente e simpático — só para me agradarem — e, passados uns dias ou meses, agem como se eu fosse destituído, cego, surdo e anão de circo.
Não sabem quanto me enojam.

Escrito isto, sublinhamos que até amanhã, está a decorrer a III Semana do Desporto adaptado ou para pessoas com deficiências.

É intenção da Câmara Municipal de Braga quebrar muros, unir energias e motivar os clubes para que a expressão “igualdade de oportunidades” saia dos dicionários e seja realidade concreta todos os dias.

Concursos, exposições com trabalhos — que Mesquita Machado reconhece como notáveis — foram feitos pelas crianças dos ensino básico.

Esta semana incluiu um desfile de atletas prejudicado pelo mau tempo e frio que se fez sentir em Braga, para além de vários torneios como de Basquetebol, Boccia, Goalbal, futebol, além de uma corrida de atletismo, amanhã e uma peça de teatro com que fecha a semana.

É verdade que a Câmara Municipal de Braga leva a dianteira no trabalho de sensibilização para esta minoria que representa pouco mais de sete por cento da população do concelho.

A criação do Fórum Municipal da Pessoa com Deficiência testemunha o pioneirismo que a gestão socialista tem mostrado em outras áreas.

No entanto, é tempo da sociedade civil dar a sua resposta afectiva, efectiva e eficaz, após o trabalho de sensibilização que tem sido feito nos últimos anos, de que é expoente máximo a semana do desporto adaptado.

Como fez em outras áreas, também aqui a maioria que gere o município pode mostrar o seu pioneirismo e dar novo contributo para a efectiva igualdade de oportunidades na prática do desporto.

Os bracarenses, através dos seus impostos, desembolsam dezenas e desenas de milhares de euros para apoio a colectividades desportivas do concelho, com resultados competitivos que não interessa agora avaliar.

No panorama do excelente trabalho que tem sido feito com atletas deficientes e face aos maravilhosos resultados que são obtidos, verifica-se que apenas as IPSS estão a assumir o seu dever e responsabilidade.

Os clubes desportivos primam pela ausência nesta area mas são quem recebe dinheiros públicos para a dinamização e a formação desportiva.

A começar já no próximo ano, a Câmara Municipal devia exigir, numa das alíneas dos contratos programas que vai celebrar que cerca de sete por cento da verba disponibilizada para os clubes devia ficar cativa para o desenvolvimento do desporto para estas pessoas especiais que são os deficientes.


Haja coragem política para o fazer já no próximo orçamento do município para que não se possa continuar a escrever que, em Braga, os clubes desportivos estão cegos porque não vêem a sua obrigação de contribuir para o direito de todos à prática do desporto.

Surdos são os clubes que vivem sempre apressados para o trabalho dos resultados, embrulhados em chicotadas psicológicas, e se esquecem dos direitos das pessoas especiais.

Mudos são os autarcas que não conseguem impor o que dizem ser notável mas depois se escondem por trás da máscara da não interferência na vida dos clubes.

Braga tem aqui uma excelente oportunidade de deixar de ser um concelho anão que não sabe deixar crescer e promover a igualdade das pessoas.

Se nada disto for avante, as pessoas deficientes confessarão pena das pessoas que as catalogam de inteligentes e notáveis — só para agradarem num só dia — e passados umas semanas ou meses agem, todos os dias, como se elas fossem destituídas, cegas, surdas e anãs de circo.
Não sabem quanto as enojam.

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