Friday, March 7, 2008

O charco das rãs

O grande filósofo grego Sócrates imaginava o mundo como uma reunião de rãs à volta de um charco de água.

As rãs eram os cidadãos, pequenas comunidades de homens livres, regidos pela lei e amuralhados nas cidades.

A polis, a cidade era a raíz da política, com códigos de virtude, no ritual do pensamento que crepitava na Praça.
Ao fim de muitos séculos, continuamos a sonhar com mais mente sã que manha mas o que nos é dado pela política é uma multidão de rãs a coachar junto dos charcos das câmaras de televisão e dos holofotes dos comícios.

Quando os cidadãos se tornam audiência e carne para canhão dos índices do share, vemos que a realidade é um simples cenário, completa e minuciosamente decorado. Quando é necessário trocar e contrariar argumentos, responder aos desafios, tudo soa a podre, como a água dos charcos.

Sociedade do espectáculo é a locomotiva dos novos tempos. A imprensa incendeia-se com presentes para os leitores à falta de melhor para lhes oferecer, A internet deita sumo, as radios sangram com as cada vez menos ondas nas águas paradas dos charcos e as televisões aproveitam-se afirmando-se como juízes do charco com arte, mas não deixa de ser um charco…

Ou seja, nas últimas semanas, Sócrates – o nosso primeiro — e Menezes preocupam-se apenas com os media e as rãs — que somos todos nós cidadãos — continuam à espera. Um enrolado na propaganda e o candidato a desfazer-se em contradições.

De ambos jorra uma torrente de verborreia que foram buscar ao feirante que tenta vender o jumento cego ao respeitável aldeão.

É a banalidade inconsistente, a venalidade culpavel, depois de nos terem oferecido direitos sem deveres, propseridade barata, felicidade à custa do Estado.
Agora, ambos nos exigem mais esforço, uma gestão escrupulosa, a conquista do futuro

Menezes — com “este não é o meu PSD” — tenta enterrar anos de trapalhadas e trevas num sepulcro pintado de branco, numa desfaçatez insuperável.
Sócrates – o nosso primeiro — surge a muitos de nós que votaram nele como mais um sapo que temos de digerir.

Agora se percebe por que Filipe Menezes afirmou que “o PS já não merece estar no Governo e o PSD ainda não merece estar".
Vale-nos que sempre é menos mortal que a cicuta do filósofo grego, desesperado por não ter conseguido convencer a sua própria mulher: afinal, o drama dos líderes dos dois maiores partidos portugueses.

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