Monday, March 24, 2008

A festa da Paz(coa)



Os povos de Cristelo Côvo, em Valença, e de Sobrado, na Galiza, atravessam hoje o rio Minho, de barco, para dar a beijar a cruz na outra margem do rio.

A meio da tarde, o pároco de Cristelo Covo embarca até à outra margem, levando a cruz a beijar à população de Sobrado; depois a viagem é retribuída pelo pároco da aldeia galega, que cumpre idêntico ritual em solo português.

Os povos das duas margens acabam por se reunir em Cristelo Côvo, transformando o compasso pascal num arraial improvisado.

O rio enche-se de pequenas embarcações e na margem portuguesa os bombos misturam-se com as gaitas de foles e os viras com as "muinheiras", numa pura romaria luso-galaica.

Enquanto dura o "intercâmbio" de cruzes, os pescadores lançam as redes benzidas ao rio, e todo o peixe recolhido é entregue ao pároco português.

O "Lanço da Cruz" é o ponto alto dos tradicionais festejos em honra da Senhora da Cabeça, que decorrem em Cristelo Côvo amanhã.

Do programa da festa, destaca-se a missa para os galegos, celebrada em galego pelo pároco de Sobrado, na Capela da Senhora da Cabeça, a que se segue outra missa, mas desta vez em português.

Os peregrinos comem, depois, as suas merendas nas sombras do parque de Nossa Senhora da Cabeça, mandando a tradição que o farnel seja constituído sobretudo pelo que sobrou do carneiro da Páscoa.

Encontramos nesta festa um conjunto de sinais que nos despertam para uma forma de vida diferente: o dialogo entre os povos, com as suas melodias da sua alma espiritual através de línguas diferentes que anulam as barreiras das fronteiras que dividem e constroem a união.

A partilha do resultado do nosso trabalho abençoado, seja a pesca seja a festa, entre povos de aldeias diferentes com almas diversas é outra das lições destas duas terras de países diferentes.

Tudo isto para concluir mais uma vez que a festa da páscoa é a celebração da paz.

Cristo ressuscitado, quando aparece pela primeira vez aos seus apóstolos, ainda atônitos e desconsolados com a morte na Cruz, não se apresenta como o que está Vivo, mas saúda-os: a Paz esteja convosco.

A vida sem paz, dentro e fora de nós, não é Páscoa. Ao ressuscitar, Cristo torna-se assim a fonte de onde brota a verdadeira paz.

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