Monday, March 31, 2008

Economia clandestina fragiliza sector têxtil



Adão Mendes não tem dúvida que “o trabalho infantil está a regressar ao Minho, porque a pobreza no nosso distrito está a aumentar para níveis preocupantes, devido ao desemprego de longa duração”.

Para o Coordenador da União dos Sindicatos de Braga, para além da progressiva perda do direito ao subsídio de desemprego, “as baixas reformas, agravadas com a alteração ao cálculo de reforma lançaram na miséria milhares de trabalhadores do nosso distrito que contavam com reformas de 410 euros e vieram para 360 euros. Os prazos de subsídio de desemprego esgotam-se as pessoas ficam sem nada”.

A prova do que afirma vai buscá-la aos inscritos no Rendimento Social de Inserção que “aumentou quase 20 por cento e há a pobreza envergonhada. Eu vejo aqui em Braga – já não falo do Vale do Ave profundo — algumas pessoas e fico assustado, porque quase não as conheço. São professores e outros que não tem qualquer apoio e estão a entrar numa exclusão social altamente preocupante.

Por isso, o abandono e o insucesso escolar aumentam porque se vêem crianças a fazer tarefas – com menos visibilidade – porque há muitas famílias em que os filhos saíram da escola para serem o único sustento das famílias porque os pais perderam os empregos”.

Estas são algumas das preocupações expressas por Adão Mendes numa entrevista à rádio Antena Minho que transcrevemos hoje, em parte, deixando para próxima edição as suas posições acerca do seu futuro na coordenação da União dos Sindicatos de Braga, ao fim de 19 anos à frente do sindicalismo no distrito de Braga.

PREPARAR
A SUCESSÃO
SEM SOBRESSALTOS

Adão Mendes quer preparar com tranquilidade a sua sucessão na liderança da União dos Sindicatos de Braga (USB), o que pode acontecer ou não no final do mandato, em Outubro.
Adão Mendes considera que deve ser encontrado um novo coordenador já no próximo congresso da USB, marcado para Outubro.

"É minha vontade criar condições para que a alteração seja feita o mais rápido possível, contribuir para isso e não deixar que o processo se arraste até ao limite, podendo depois chegar a um vazio. Por isso, estamos todos a trabalhar para que as coisas se façam com serenidade", adianta.

Eleito no 1.º Congresso da Confederação geral dos Trabalhadores Portugueses para a direcção da estrutura sindical de Braga, Adão Mendes, é natural de Ronfe, Guimarães, operário têxtil na Riopele, com actividade suspensa, é o rosto mais visível do sindicalismo distrital desde há 19 anos.

Numa semana marcada pela descida do IVA em um ponto percentual e a apresentação do Plano estratégico dos Têxteis, Adão Mendes começa por alertar “que boas medidas e bons anúncios nesta região fazem-se muitos”.
Embora sendo “importantes, é bom que depois a gente faça uma retrospectiva àquilo que foram as boas notícias dadas há muitos anos e que se traduziram em pouco mais que nada.

Estas boas notícias trazem-me surpresas negativas. Uma delas é que eu pensava que o dr. Daniel Bessa iria apresentar projectos actualizadíssimos. O que verificamos que quase todas eles assentam em pilares já apresentados em 2002”.

No entender de Adão Mendes, “foi o retomar de um estudo e lembrar caminhos que todos nós já identificamos como necessários. A questão que se coloca é como chegar lá. Que problemas temos de resolver e alguns deles são estruturais que não se querem resolver. São problemas que tem a ver com o sector em si e requerem uma atenção especial. Agora, dizer-se que a chave do sucesso está no design , na moda, na marca e na comercialização, mal de nós se não soubéssemos disso há dez ou quinze anos”.

O problema que se coloca é que o tecido produtivo tradicional, de mono-indústria nos vales do Cavado e do Ave resultou num desemprego elevado. “Se queremos resolver o problema do desemprego temos de começar por estancar os problemas que geram esse desemprego e a destruição do aparelho produtivo”.

E quais são esses problemas? “Se me perguntarem: acentua-se o problema do desemprego na região. Eu digo, acentua-se todos os dias. Quase todas as semanas assistimos a empresas a encerrar e algumas deixam-nos de boca aberta e a perguntar como é que foi possível. Temos trabalhadores que dois dias antes não acreditavam que isso fosse possível .

Outras continuam a emagrecer os seus quadros, de trabalhadores desqualificados mas também trabalhadores qualificados. Normalmente, depois, essas empresas não admitem outros trabalha-dores qualificados para outras actividades de ponta tendo em vista a sua modernização e re-estruturação. É emagrecer, emagrecer mas modernizar muito pouco. A destruição do aparelho produtivo acentua-se com a diminuição da produção.

Quanto ao que há a fazer, perante esta situação, o Coordenador da US aponta medidas.

“É preciso estancar isso, porque se não continuamos a ter desemprego. Depois, o sector vive exclusivamente de mão-de-obra barata e assim não é apetecível para ninguém. Já me convencia que nos próximos 5 ou 7 anos, ou o sector têxtil começa a pagar aos trabalhadores um salário muito acima do salário mínimo nacional, que já é pago noutros sectores, ou vão precisar de trabalha-dores mesmo qualificados e não os tem”.
Para Adão Mendes, “ninguém está disponível neste momento para ter futuro, estabilidade na família, com um salário como este”.
“O que se verifica hoje é que a generalidade dos jovens está a afastar-se dos têxteis” — conclui Adão Mendes para quem o desafio de futuro que se coloca às empresas é este: “as suas exportações estão efectivamente a traduzir mais valia para si, para a região e para o nosso tecido económico?”

A resposta é não, porque, diz, “vamos à vizinha Galiza, temos muitos portugueses a trabalhar nos têxteis e eles trabalham em máquinas iguais às nossas, produzem os mesmos produtos, e chegam ao fim do mês e levam 800 ou 900 euros de salários. Os trabalhadores são os mesmos, as máquinas as mesmas e os produtos os mesmos mas os salários são o dobro”.
Onde está o problema? No entender de Adão Mendes, “está, em primeiro lugar, nas mais valias e para onde elas vão. Se os nossos empresários estão ou não disponíveis para deixarem estas mais valias cá e poderem pagar salários semelhantes aos de Espanha?”

Provando o que disse, prossegue o coordenador da USB: “conheço dois casos de cor, estive com eles na mão. Duas confecções, de Guimarães, produzem diariamente camisas a quatro e cinco euros e já é preciso fazer um sacrifício muito grande nessas pequenas confecções para as venderem a esse preço. As camisas são colocadas no dia seguinte ou passado oito dias a 50 ou 70 euros mas nenhuma mais valia fica naquelas duas empresas. Elas limitam-se a fabricar e alguém fica com todas as mais valias da marca e da etiqueta”.

Por isso, o Adão Mendes não vê com bons olhos a criação daquilo a que chamaram um mega-cluster dos têxteis entre Norte de Portugal e a Galiza e pergunta: “isso reverte para quem? Eles podem fazer tudo o que entenderem mas reverter tudo para Espanha, não. Então façam um contrato de trabalho igual para os trabalhadores do Norte de Portugal àquele que fazem na Galiza”.

ECONOMIA CLANDESTINA
DESTRÓI BOAS EMPRESAS

Grande parte das nossas empresas já estão nas mãos dos espanhóis. Os nomes das nossas empresas familiares, fundadas há 50 anos são quase todas de capital espanhol ou outras e os rendimentos vão todos para lá.

Outro problema é a economia paralela ou clandestina que “funciona na nossa região, com sub-facturação, em alta dimensão. Estamos a falar de 30 a 50 por cento e funciona quase exclusivamente nos têxteis”.

“Eu conheço empresários, não são patrões... — esclarece — que se vêem em dificuldades todos os dias para conseguirem encomendas porque há quem ofereça preços mais baratos mas só querem facturações a meio ou a 30 por cento e por aí fora. Era bom que se chamasse também para esta economia clandestina que funciona no sector e que gera concorrência desleal. Há entidades patronais que tem, quase na clandestinidade, de fazer queixa aos sindicatos ou ao Adão Mendes por causa desta e daquela situação em que são vítimas. Nós temos de actuar porque muitas vezes eles próprios, tendo a sua Associação, tem receio de o fazer sob medo de represálias e por causa do mercado.

Tudo está na questão das mais valias — justifica. Por exemplo, “há uma empresa de Valença que fechou há 6 ou 7 anos, com 600 trabalhadores, e foram quase todos co-locados na Galiza. Muitos deles, dizem ainda bem porque descobrimos uma forma de ganhar o dobro fazendo o mesmo e porque é que a nossa empresa não fechou há mais tempo.

GALIZA EVITA E TRAZ NOVOS PROBLEMAS

A Galiza é desde há alguns anos é uma almofada para o desemprego no Minho, apesar de surgirem aqui e ali alguns problemas.

Primeiro, há uma virtude muito importante: nas parcerias de diálogo do lado da Galiza, com as empresas, o Governo regional e existe uma grande disponibilidade para o diálogo e convidam os minhotos a participar em acções de debate sobre os sectores de actividade.

“A mim surpreende-me o que se passa na Galiza — adverte Adão Mendes que explica: “há quatro anos havia quatro mil trabalhadores. Hoje estão quinze mil registados na Galiza. Dez mil e pouco são do distrito de Braga e se eles vêm por aí abaixo um dia, o que vai ser de nós? Ou se a Galiza não tivesse capacidade para absorver esta mão-de-obra do nosso distrito, o que seria de nós agora?”

MUITOS JOVENS QUALIFICADOS
NA GALIZA

O problema que temos é que a “imensa maioria desta gente que lá está são jovens e são jovens com qualificações superiores aos que ficaram cá. Eles estão lá e quem paga a factura somos nós porque não temos jovens qualificados para trabalhar na nossa região pois os salários não são apetecíveis”.

Na construção civil está sobre a mesa um problema que o preocupa pelas dimensões que pode ter. Um deles é o dumping social que se verifica na Galiza e os problemas que isso pode trazer, embora não seja para já. Mas há outro problema.

“Na Galiza, há um contrato de trabalho, com valores salariais mínimos, à volta dos 900 euros por mês, mas há quem se sujeite a trabalhar mais para ganhar mais do que cá mas ganham menos que os espanhóis que trabalham no mesmo sector. Está a criar um problema para os operários espanhóis e de concorrência desleal entre as empresas que apresentam orçamentos para projectos e depois recorrem a sub-contratação de empreiteiros portugueses que pagam menos. Há gente a ganhar dinheiro no meio deste mercado negro sem fazer nada”.

Daí, o anúncio de de greves na próxima semana pela não aplicação dos contratos.

1 comment:

Pakito96 said...

falem sobre o maximense infantis, seniores ect...
por favor!