Thursday, January 24, 2008

António Lopes: "brasileiro" pouco camiliano



Quatro anos antes de morrer foi contemplado com uma oferta singular — um mosntruoso e admirável exemplar de couve-flor. Oitenta anos após a sua morte, António Ferreira Lopes é o povoense mais ilustre do século XX, pelo que fez em vida e após a morte pela terra da Maria da Fonte, de quem é conterrâneo. Os amigos e admiradores do padre José António Dias podem não gostar, mas António Lopes teve a generosidade de colocar a sua fortuna ao servio da sua terra enquanto o antigo presidente da Câmara Municipal fazia obras com o dinheiro dos munícipes. É uma diferença substancial.

De facto, rezam as crónicas que Delfim José Rodrigues colheu na sua Quinta da Infesta, em Geraz do Minho, um espectacular exemplar de couve flore, por altura das festas de S. José. A singularidade deste pé de couve-flor deu origem a uma exposição no Hotel Central, onde alguns visitantes chegaram a oferecer cem escudos. Recorde-se que estávamos em 1924. A gigantesca couve-flor acabou por ser oferecida a António Ferreira Lopes.

António Lopes é um dos quase milhão e meio de portugueses que emigrou para o Brasil entre 1855 e 1945. A sua vida não se encaixa no perfil "criado" por Camilo Castelo Branco e outros escritores portugueses, mas constitui uma das figuras marcantes da história do concelho de Póvoa de Lanhoso.

CAUSAS
DA EMIGRAÇÃO
PARA O BRASIL

Os camponeses do século passado, quando obtiveram a propriedade plena dos seus campos, viram-se constrangidos por um forte endividamento imposto pela exigência de investimentos domésticos para aquele efeito.
Endividamento que se desenvolveu já no contexto de importantes alterações nas práticas de crédito, com a substituição das tradicionais confrarias que emprestavam pequenas quantias a juros módicos e sem prazo (com dívidas que se arrastavam ao longo de gerações).

Mas as crises agrícolas sucediam-se: primeiro as pragas da vinha, depois a concorrência ultramarina nos cereais e na carne de bovinos, à medida que se revolucionam os transportes e as condições de conservação (situação que eliminou a importante exportação nortenha de gado para os países do Norte, em especial a Inglaterra).

Nestas conjunturas, só com uma sábia gestão se superava o limiar da sobrevivência nas casas a-grícolas, roçando-se a indigência nas unidades mais pobres, com a ameaça hipotecária sempre a pairar. Dessa gestão emergia a necessidade de distribuir os diversos filhos para profissões exteriores à empresa agrícola e nesses destinos o mais provável era o da emigração para o Brasil, pois uma economia em crescimento, como era a brasileira, onde se radicavam familiares e conhecidos, sempre apresentava maiores expectativas de inserção positiva.

Ensinar as primeiras letras aos rapazes, mandá-los tirocinar no comércio do Porto e outras cidades e vilas (Guimarães, Braga, Vila do Conde, Póvoa de Varzim) ou, em alternativa, ensinar-lhes um ofício tradicional vulgarmente ligado à construção — pedreiro, carpinteiro, estucador, marceneiro, etc.), eis preocupações genéricas nas famílias do Minho interior, numa acção pre-paratória e selectiva da emigração. Preocupações desenvolvidas na esperança de uma melhor inserção do emigrante na sociedade brasileira e nos eventuais refluxos monetários que viessem, de algum modo, ajudar a família remanescente em Portugal.

CONTEXTO
HISTÓRICO

O retorno do emigrante com algum pecúlio que pudesse ser investido na exploração agrícola era a situação mais desejada, ainda que o acto de emigrar se configurasse frequentemente como um acto de conflitualidade intra-familiar, acto paternal decidido em tenra idade do emigrante (a moda etária fixava-se nos 13/14 anos no Porto oitocentista) que implicava uma selecção dos mais fortes e activos dos filhos para os "impor" para fora de casa.

Camilo Castelo Branco, conciceu com estas situações. Sempre perspicaz na sua ironia, traduzia melhor que ninguém o sentido desses destinos familiares: "Em geral à grande fecundidade dos casais minhotos presidia a ideia de gerar rapazes para a rua da Quitanda como outrora no tálamo dos lavradores abastados se pensava muito em fazer frades beneditinos."

UMA CARICATURA

A fuga ao serviço militar desempenhava um papel crucial nestas práticas emigratórias: dadas as condições de grande desigualdade na obrigação de prestar recruta (que durava cerca de seis anos), e que, até aos anos 80, podia ser contornada por apresentação de substituto ou pagamento para remissão da obrigação, legitimava socialmente as famílias mais pobres a enviarem cedo os filhos para o Brasil, antes da prestação das primeiras garantias do seu cumprimento (a fiança).

Para nós, a figura do "brasileiro", enquanto emigrante de retorno, também não pode reduzir-se à caricatura literária que nos
ficou dos textos de Camilo Castelo Branco, um labrego do Minho caldeado em adereços tropicais e montes de libras.
Os que cá ficavam, esperam que o filho regresse rico do Brasil. Se ele não tem sucesso não retorna, fazendo-se constar que está muito rico. Se tem o sucesso esperado, regressa à terra para confirmar as expectativas depositadas.
Se se instala na cidade, participa na vereação, é mesário das confrarias, benemérito das instituições, viajante, letrado, capitalista, o que justifica a sua falta de ocupação. Vai ao clube, lê os jornais em lugar público, veste-se de branco, traz um óculo que utiliza em todas as ocasiões, é procurado para dar conselhos, papel em que se insinua e cultiva. É conhecedor dos segredos do sucesso, padrinho dos filhos que tem secretamente.

Faz doações para a igreja, mas diz-se não religioso. Aparece reconhecido na toponímia da cidade e após a morte, faz-se perpetuar em retratos a óleo, na galeria dos doadores e beneméritos da Confraria ou da Misericórdia local.


Em relação à imagem do “brasileiro”, é comum culpar Camilo Castelo Branco pela criação do cliché, o que consiste em produzir um outro injustiçado. Ora, se é verdade que Camilo apregoou aos sete ventos o estereótipo dos brasileiros de torna-viagens, não é menos verdade que ele não os inventou, o que comprova que já havia uma imagem socialmente compartilhada desses personagens. Interessante mencionar que Castelo Branco descreve, no romance A neta do Arcediago, uma mulata brasileira sensual e depravada que, em Portugal, deu à luz o vilão da história. Escrito em 1856, esse romance espelha uma visão já então corrente sobre o Brasil e as brasileiras. Mas Camilo não pára por aí e passa, no romance ‘A corja’, a usar a palavra Brasil como adjectivo negativo em si. A maneira de falar é “abrasileirada”,12 os homens são cheios de brasilei-rismos, e qualquer coisa, quando abrasileirado, significa conduta desonesta e pérfida.

Camilo Castelo Branco tinha uma rivalidade pessoal com um “brasileiro”, Manuel Pinheiro Alves, marido de Ana Plácido, uma paixão que foi literalmente fatal. Devido a essa paixão, Camilo foi levado à prisão por Pinheiro Alves.


PERCURSO DE ANTÓNIO LOPES


António Ferreira Lopes nasceu a 14 de Abril de 1845 no Lugar de Oliveira (outros dizem Várzea), freguesia de Fontarcada, concelho da Póvoa de Lanhoso.

Em 1857, parte para o Brasil, após a morte da mãe. Em terras brasileiras, António Lopes emprega-se numa casa de cereais. «As suas qualidades de trabalho e honestidade são tão apreciáveis que, três anos depois, entra para sócio [da firma Câmara & Gomes] e contrai casamento com a Ex.ma Sr.ª D. Elvira Câmara», filha do patrão, referia no jornal “Maria da Fonte” na sua edição de 29 de Janeiro de 1928. Em 1888, António Lopes voltou à Póvoa de Lanhoso e nessa altura comprou o prédio co-nhecido por Casas Novas, mandando reconstruí-lo «com todos os preceitos da arte e elegância», dividindo o seu tempo entre Vichi e Póvoa de Lanhoso.

ARQUITECTO
DO TEATRO CIRCO

Para dirigir as obras solicitou os serviços de um «reputado arquitecto de Braga, Moura Coutinho que, em Braga projectou, por exemplo, o imponente e fantástico Teatro Circo.

Este constrói a capela à qual encosta um único corpo de edifício, o da direita. Quanto ao da esquerda, a norte, perfeitamente simétrico, esse será edificado alguns anos mais tarde por um mestre-de-obras local. É então destinado a ser habitado por uma sobrinha recém-casada a quem António Lopes dedicava grande afeição. A Norte, abre-se um grande portão para os jardins e para as traseiras da casa.» (...) «A disposição da Capela com as suas duas torres e, de ambos os Lados, os seus e-difícios simétricos, evoca os conventos barrocos e rococó da Alemanha do Sul e da Áustria. E no entanto trata-se de uma casa de Brasileiros, construido na última década do séulo XIX.» (...)

A partir desta altura, António Lopes começa a adquirir os prédios que formavam o antigo Largo da Fonte, hoje chamado Largo António Lopes.

«Ali edificou o teatro, ali se organizou a corporação dos Bombeiros Voluntários, cujo material e fardas foram adquiridas unicamente a expensas suas; ali criou um formoso jardim, com um esplêndido coreto, e mais além essa obra inigualável de caridade — O Hospital», como testemunha o jornal “Maria da Fonte” de então. A sua vida e obra, foram soberbamente descritas por Paulo Freitas no numero sete do boletim “Santa Causa Povoense”, há quase oito anos.

O Director da Casa da Botica, sustenta nesse texto que, para compreender a personalidade e alma de António Lopes, basta ver o seu testamento. No documento, «é possível aferir não apenas a indelével marca que deixa na Póvoa de Lanhoso e nas suas instituições (presentes e futuras), como as sensibilidades da sua personali- dade como homem, como Amigo e sobretudo como Povoense».


Ao falar da Póvoa de Lanhoso, António Ferreira Lopes aparece como o po-voense mais homenageado, dado que foi ogrande benemérito das instituições de maior relevância no concelho, designadamente do Hospital que tem o seu nome, dos Bom-beiros Voluntários locais, do Theatro Club, entre muitas outras.

Ele viveu “O Sonho Brasileiro” mas não foi avarento, deixando marcas profundas no seu concelho mostrando-se sensível aos problemas sociais do seu tempo. Fundou o hospital, que tem o seu nome, organizou a corporação de Bombeiros Voluntários e edificou o Theatro Club.

Além de incentivar a criação da Misericórdia para administrar o hospital, o testamento de António Lopes garante a continui-dade e o funcionamento das estruturas criadas e deixou legados nomeadamente para a edificação de um novo tribunal e Paços do Concelho, de uma nova escola e atribuição de bolsas de estudo, para a Banda Musical, para a cons-trução da estrada do Pilar e donativos para instituições de solidariedade.

Arq. Julieta Azevedo: prisioneira das vitórias

Responsável por uma empresa de serviços na actividade imobiliária, criada por si e à qual deu o seu nome, Julieta Azevedo é uma jovem bracarense que tem conseguido conciliar a actividade empresarial com as tarefas de mãe de quatro filhos e outro sonho: a arquitectura.

É um caso raro de persistência e de acumulação de vitórias num universo de negócios dominado pelos homens, conforme reconheceu no programa “A empresa e o empresário” que a rádio Antena Minho trnasmite às terças-feiras, a partir das 19 horas.

“Prisioneira de vitórias, Julieta Azevedo acredita que “as vitórias atraiem outras vitórias e a vontade de querer novas conquistas e ainda não consegui realizar tudo. “Sinto-me uma mulher realizada mas não vou parar aqui. Tenho vontade de levar a empresa mais longe”.

Para a levar mais longe a sua empresa, Julieta Azevedo está a lançar-se num projecto a concretizar daqui a dois anos: “é um projecto muito grande que vai ser muito imprtante e fazer sair a minha empresa da penumbra em que se encontra”.

“Temos uma quinta e estamos a tentar idealizar um tipo de loteamento inovador que ainda não se vê em Braga, com moradias isoladas, mas ainda não tivemos grandes possibilidades de concretizar e esperemos que esse projecto projecte definitivamente a empresa” — revela a empresária.

“Desde muito cedo defini os meus objectivos para a vida e tentava concretizá-los e um dos grandes objectivos da minha vida era ter a minha empresa, o meu canto, o meu espaço, ser eu a mandar sem ter de dar satisfações a outros” — explica Julieta Azevedo.

O curso de arquitectura estava terminado, era a altura “certa para arrancar com esta empresa de projectos na área imobiliária. Uma empresa é a nossa imagem e por isso dei o meu nome à empresa” — explica a jovem empresária natural de Prado, residente em Braga desde a adolescência, quando veio estudar para o Colégio D. Diogo de Sousa.

Julieta Azevedo é uma empresa que se dedica a elaborar projectos de arquitectura e especialidades de engenharia e também se dedica, “não muito porque não há grandes possibilidades à compra e venda de imóveis” e em parceria “temos feito algumas construções com a empresa Xplano”.

O início da empresa foi voltado para os projectos que depois foram capatando as outras áreas.
O momento mais marcante “é o início, se calhar para todas as empresas” porque é de dificuldade “porque não se sabe onde vai parar”.

O “maior projecto que recebi até hoje surgiu no momento mais delicado, quando eu estava grávida, em fase adiantada, um loteamento com 180 habitações, em Gualtar, dinamizado por uns investidores de Viana. No início, deram só uma parte do loteamento porque receavam que, devido ao meu estado, não conseguisse levar a tarefa a bom porto. No espaço de um mês, entregaram-me a outra parte. Para mim foi um momento extraordinário, estava mais debilitada mas consegui e eles confiaram em mim” — recorda Julieta Azevedo.

Convidada a fazer um balanço dos quase sete anos de actividade, Julieta Azevedo considera que valeu a pena, porque já empresa quatro pessoas e já realizaram 160 projectos.

CONSTRUÇÃO EM BRAGA
TEM MUITA QUALIDADE

Sobre o lugar comum da falta de qualidade de construção em Braga, Julieta Azevedo discorda: “enquanto estudei também trabalhei e observei que houve fases em que se construiu mal, mas hoje não. O construtor constrói melhor, porque o cliente hoje é mais exigente, vê tudo, sabe tudo e o construtor tem de provar que as coisas são cumpridas. Hoje, os consumidores são mais exigentes e são mais esclarecidos. Não são emigrantes no estrangeiro que compram sem ver…Os projectos sem qualidade estão condenados a não ter compradores”.

Hoje, os investidores “procuram mais o arquitecto porque sentem a necessidade de apostar na qualidade e ter um produto diferente daquilo que se fazia há uns anos atrás em que qualquer um fazia um projecto”.

Na sua perspectiva de arquitecta, o mais importante num apartamento ou moradia , “os pormenores/acabamentos são mais importantes porque eles conferem uma diferença de qualidade à habitação. Hoje quem adquire uma casa já conhece os materiais mas pode desconhecer a qualidade de alguns pormenores”.

Recusando o proveito de que os arquitectos encarecem o preço dos projectos — pois da fama não se livram —, Julieta Azevedo refere que “a casa às vezes encarece por culpa do cliente que faz questão de querer este material e não querer o que foi sugerido, quando as coisas já estão feitas”.



Atleta,
empresária,
arquitecta
e mãe de 4 filhos

Como sempre quis seguir arte e design, Julieta Azevedo, opta por concluir o ensino secundário na Escola Carlos Amarante e faz a licenciatura de arquitectura na Universidade Lusíada, em Famalicão.
Para trás ficavam as provas de atletismo na "Francisco Sanches" e as longas horas de canoagem como atleta do Náutico de Prado.

A meio da licenciatura, enquanto trabalhava, “ em algumas aulas, os professores davam-nos uma ideia diferente do que era o futuro. Achava aquilo uma fantochada que não tinha correspondência no mundo em que eu trabalhava. Nessa altura, questionei-se se aquele era o curso certo mas os familiares estimualaram-me a terminar o curso”.

Concluídos os estudos, “já tinha os objectivos bem definidos e um era estabelecer-me”, por isso, cria a empresa em 2001, lançando-se na vida a todo o gás, casando e sendo mãe de quatro filhos no espaço de cinco anos.

“Se me perguntar se hoje me estabelecia, dada a família que tenho, já me questinava muito se o faria. Fi-lo numa altura certa” — reconhece esta mãe de quatro filhos (uma menina e três rapazes).

“Eu tinha a vontade de querer quatro filhos” — explica Julieta Azevedo porque quando traçamos os nossos objectoso e lutamos por eles, eles acabam por se realizar. Graças a Deus, isso tem-me acontecido”.

Oriunda de uma família numerosa, mais seis irmãos, destaca que os melhores momentos da sua Juventude eram o Natal.

“Não deixo de dizer que é uma tarefa muito difícil ser mulher num ramo empresarial masculinizado, saber ultrapassar preconceitos, ser mãe de quatro filhos. Tenho momentos muito difíceis, especialmente de manhã, e depois à noite. Adoro, não sou uma mãe ausente. Não vou negar que há momentos em que preciso de descanso e o meu marido também precisa. Nessa altura, peço ajuda à minha mãe e ao meu pai” — conclui.

Uma questão de ética e confiança

Há dois ou três anos atrás, uma empresa da Galiza enviou a uma empresa bracarense a quem fornecia serviços um fax a comunicar que, por força da baixa de preço de algumas matérias primas no mercado, a próxima factura mensal traduziria a diminuição do custo.

A administração da empresa bracarense ficou admirada, por um lado, e bem impressionada, por outro. Admirada, porque, por aqui, esta postura era impossível. Impressionada, porque uma empresa assim, mesmo estrangeira, merece toda a confiança.

Já passaram vários anos, e em Portugal, esta ética nos negócios continua a ser impossível. É por isso que, muitas vezes, a qualidade das nossas empresas deixa muito a desejar e a única responsabilidade é apenas de empresários sem escrúpulos.

O que se está a ver agora nos ginásios e outros locais de prática de actividade física é inacreditável, depois do Governo, através do orçamento de estado, ter decretado que o IVA, nestes casos, descia dos 21 para os cinco por cento.

Não adianta nada vir agora o vice-presidente da Associação de Empresas de Ginásios e Academias de Portugal desculpar-se ao dizer que "a descida de preços pode não ser automática com a entrada em vigor da descida de IVA", mas que em breve "o mercado se auto-regulará".

Este tema da diminuição do preço dos ginásios, no seguimento do abaixamento da taxa de IVA de 21 para 5 por cento, não era notícia se não tivesse originado queixas por parte dos utentes, uma vez que os ginásios mantiveram, e em certos casos aumentaram, os valores das mensalidades em Janeiro.

Com esta descida de 16 pontos no IVA, o Governo quer estimular objectivamente a prática da actividade física entre a população.

Não baixar a factura mensal em 16 pontos percentuais já é uma obscenidade. Mas, que podemos dizer daqueles que aumentaram, mostrando total falta de respeito pelos seus utentes?


O comportamento de muitos empresários do sector mostra que o Governo não pode fazer tudo para mudar este país para melhor, se cada um de nós não fizer a sua parte, se os empresários não cumprirem os seus deveres.

Como estamos longe da ética empresarial de outros países, a começar pela vizinha Galiza. Muitos empresários portugueses não merecem mesmo nenhuma confiança.

Não há bela sem senão

Hoje quero partilhar convosco a alegria de uma boa notícia. Não tem a ver com o futebol, nem com a política e muito menos com a economia.

É uma excelente notícia saber que o jovem pianista de Guimarães é já considerado um menino prodígio, mais conhecido em Espanha que em Portugal.

Pedro Pereira abriu, no dia 20 de Janeiro, a temporada de piano na Casa da Música com um programa que percorreu um repertório desde Bach até à actualidade.

A boa notícia prossegue porque neste concerto, esgotado há mais de uma semana, o pianista, de 17 anos, natural de Guimarães, dá ainda a conhecer a sua faceta de compositor, interpretando "Quatro canções para piano" da sua autoria.

Pedro Pereira tem participado em numerosos concursos internacionais, tendo sido laureado em todas as competições em que se apresentou.

O pianista vimaranense tem já oito primeiros prémios, tendo os primeiros sido obtidos nas VI e VII edições do concurso nacional de piano "Florinda Santos", em S. João da Madeira, e no IV Concurso Internacional de Piano, cidade do Fundão, em 2005.

Em 2006 venceu o Concurso Internacional de Piano Galaico-Português, em Vigo e no ano seguinte voltou a triunfar na categoria até aos 25 anos.

Em 2007 prosseguiu com mais vitórias em Espanha, nomeadamente nos Concursos Internacionais de Piano de San Sebastián" e "Ricard Vines", em Lleida.

Em virtude destes prémios, o jovem de Guimarães foi convidado recentemente pela União Europeia de competições para músicos Jovens a participar em festivais de música em diferentes cidades europeias.

A má notícia é que Pedro Pereira quer prosseguir a sua formação mas tem de o fazer fora de Portugal, provavelmente nos EUA, ou no Conservatório Tchaichovski, em Moscovo.

Mas esta “bela com um senão” pode fazer do dia de hoje uma melodia mais agradável para a vida de cada um de nós. Afinal, não somos bons apenas no futebol nem a copiar o que a Europa nos dita.

Após Chaves, pode ser Braga

À medida que os anos passam, cresce a dificuldade em entender a nossa relação com o Estado e qual a relação do Estado com cada um de nós.

Nunca se debateu tanto como hoje — à esquerda e à direita — qual é o papel do Estado.

O Estado não faz o que deve na educação, na Justiça, no ambiente e na saúde e anda a meter-se onde não deve.

O espectáculo deprimente da saúde, nos últimos meses, traduz um recuo evidente do Estado nas suas funções básicas, entregues pela Constituição.

Mas esse Estado, não cumpre os seus deveres, manda os seus funcionários e fiscais invadir a intimidade dos cidadãos em nome da segurança e… da saúde pública.

Como escrevia João César das Neves, “enquanto aliena funções fundamentais, a crescente máquina estatal atarefa-se a tratar da violência doméstica, dos galheteiros nos restaurantes, embalagens de brinquedos.

Proíbe o fumo, o ruído e o excesso de velocidade, promove o aborto e facilita o divórcio. Dizemos ser um país livre, mas é impossível a matança do porco, brindes no bolo-rei, ou termómetros de mercúrio”.

É para isto que os portugueses pagam impostos e verem abrir um hospital privado logo a seguir ao fecho de uma unidade pública de saúde?

Em Braga também já estão a construir um novo hospital privado, em Nogueira.

Sobre o que compete ao Estado, está tudo como dantes… Estejam atentos para que não aconteça como em Chaves.

Que está por trás de tantos adiamentos? Pode ser par depois dizerem que já não faz falta.

Só boa vontade não chega

Não sou transmontano, como podem pensar os leitores, por trazer esta questão várias vezes para reflexão. Mas o que aconteceu com o socorro que não existiu a um homem em Alijó, justifica que traga aqui o assunto.

É mais um motivo para nos indignarmos com a falta de respeito pelos direitos das pessoas com que algumas instituições continuam a existir e a receber subsídios do Estado e donativos dos cidadãos.

António Moreira, 44 anos, faleceu na madrugada de terça-feira, na sua casa numa freguesia do concelho de Alijó, depois de uma queda, em que terá batido com a cabeça, e o deixou a sangrar.

A casa da vítima fica a 60 quilómetros de Vila Real e a nove quilómetros de Alijó. Não está, neste caso, em causa o fecho do Serviço de Atendimento Permanente porque o irmão do falecido disse ao INEM que este já estava morto, quando pediu socorro.

O INEM solicita apoio aos bombeiros de Favaios e estes por falta de tripulação obrigam o INEM a tentar segunda via, mas os soldados da paz de Alijó só tinham um elemento no quartel.

Ora, é aqui que está o cerne da questão: a boa vontade de muitas corporações de bombeiros voluntários por esse país fora traduz-se em nada quando as populações precisam deles.

Vivemos num tempo em que a boa vontade só não basta ou quase não serve para nada.

Enquanto a ignorarmos este problema, continuaremos a assistir a desfiles de fanfarras de vaidades e de rivalidades bacocas, a descarregar subsídios do Estado, para ver quem constrói o quartel maior e a permitir que os soldados da paz sejam usados como carne para canhão de lutas partidárias ou políticas.

Estou a caricaturar?

Então, juntem aos casos referidos hoje a falta de meios humanos e viaturas, as quezílias nos tribunais em Braga, as confusões de comando em Amares, a megalomania que endividou em Monção, as lutas de poder em Guimarães e o que está a deflagrar na Póvoa de Lanhoso.

Não é para estes serviços que se gastam dinheiros de todos nós — em impostos e donativos — e os soldados da paz merecem mais respeito.

Os portugueses merecem melhor serviço. O voluntariado apaga mal os fogos por falta de bombeiros e não consegue prestar socorro aos doentes ou feridos.

Para que servem? Portugal merece mais e melhor. Os bombeiros deviam ser notícia por outros feitos e correm o risco de ficarem sem efeito.

Idosos: o silêncio dos inocentes

Muitas famílias recorrerem a lares da terceira idade para dar uma maior protecção ou até mesmo qualidade de vida e companhia para a fase final da vida de uma pessoa, nem todas as instituições são aconselháveis.

Num encontro recente sobre o isolamento das pessoas idosas promovido pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Cruz Vermelha Portuguesa e Associação Coração Amarelo, foi afirmado que existem lares que usam de forma abusiva sedativos em idosos. Quem denunciou estes casos sabia do que falava e para quem falava.

"Muitos idosos são encaminhados para hospitais e lares e é triste ver lares onde os idosos são sedados para não dar trabalho", disse o especialista Paulo Pereira Neves, médico homeopata, acrescentando que esta é uma realidade em muitos lares portugueses que já visitou para tratar de doentes a pedido das famílias.

E muitas deles, a avaliar pelos números, governam-se à sombra de Deus e sob inspiração das obras de Misericórida.

Não estamos a falar de agressão física mas sim de maus tratos psicológicos, negligência por abandono, negligência medicamentosa e de cuidados de saúde que se abatem sobre muitos dos nossos idosos.

Das quase três mil queixas recebidas na PSP em 2006, apenas 139 são respeitantes a violência contra idosos, as restantes, como se está a ver são respeitantes a maus tratos psicológicos, negligência por abandono e a mais generalizada consiste em dar sedativos a mais para eles não serem tão chatos.

Mas há mais sintomas de preocupação. É que "os idosos são vítimas silenciosas, já que não apresentam queixa por medo", garante procurador-geral da República. Se não tivessem medo, o que se saberia por esse país fora.

É por isso que não nos devem espantar os números aterradores de um inquérito elaborado pelo Serviço de Biomédica e Ética Médica da Faculdade de Medicina do Porto (FMP).

Esse estudo revelou que 50% dos idosos admitem a legalização da eutanásia ou suicídio assistido.

De facto, é melhor morrer sem dor do que ser tratado desta maneira: é a nova maneira de encarar o silêncio dos inocentes.

Apesar destes avisos, nada muda nem nos lares nem nos filhos dos idosos que os depositam ali.