Saturday, December 20, 2008

D. Diogo de Sousa: escola da solidariedade



Os alunos do Colégio D. Diogo de Sousa entregaram sexta-feira, durante a festa de Natal um computador e um cabaz de Natal, mais uma quantia em dinheiro a uma jovem de Vieira do Minho.

Esta jovem, Maria Odete Silva, de 18 anos, sofre de uma doença congénita degenerativa e reside na freguesia de Mosteiro.
Alem do computador que tinha pedido aos alunos dos 2.º e 3.º ciclos, quando estes fizeram uma visita a sua casa, os alunos recolheram donativos suficientes — quase três mil euros — para lhe oferecer um cabaz de natal e setecentos euros para consultas de terapia da fala.

A adesão dos alunos foi, em muitos casos, fantástica, o que permitiu recolher quase três mil euros para realizar o sonho da Odete, ajudar a família comum cabaz de Natal e juntar algumdinheiro para as consultas de terapia da fala.

O dinheiro foi confiado ao pároco da freguesia, Padre Nuno Duarte Campos, revelou o padre Cândido Azevedo Sá, director da escola. A escolha desta jovem ficou a dever-se a uma indicação do Serviço Social do Hospital de S. Marcos a quem os alunos recorreram para encontrar objectivos para a campanha solidária, conforme explicou o director do Colégio D. Diogo de Sousa.



MÃE DE ODETE
SURPREENDIDA

Após a entrega do computador e do cabaz de Natal, num momento de grande emoção e ternura, o padre Nuno Duarte Campos não escondeu a sua alegria pelo gesto dos jovens alunos do Colégio D. Diogo de Sousa.

Por sua vez a mãe da Odete disse que não contava com tanto e que esta dádiva foi uma linda surpresa para ela: “estes jovens são maravilhosos e nunca pensamos em tanto” — afirmou Filomena Silva.

A próxima acção solidária concretiza-se na próxima semana com a ajuda a uma menina que sofre da doença de Creutzfeldt-Jakob, em Famalicão. É uma situação dramática: a mãe teve de deixar o emprego para cuidar dela e o pai sofreu há semanas um acidente de trabalho em Espanha.

PÁROCO TESTEMUNHA ALEGRIA

O pároco do Mosteiro, Padre Nuno Duarte Campos, deu conta à rádio Antena Minho da grande alegria vivida pela Maria Odete Silva “porque este era um dos seus sonhos”.

Os alunos do Colégio D. Diogo de Sousa souberam deste sonho da menina e “em boa hora quiseram torná-lo realidade. Para nós, para a família e para mim, como pároco, foi um gsto que me tocou e tocará a comunidade do Mosteiro. Reflecte um pouco o espírito da quadra que estamos a viver e que este sentimento de solidariedade ainda está vivo nos alunos e creio que é fundamental na sociedade de hoje”.

O Padre Nuno Duarte revelou também que vai continuar a dar apoio à família e espera que a comunidade de cristãos do Mosteiro assuma “este projecto como seu, dando todo o apoio possível e necessário à Odete”.

Há umas consultas que a Odete tem em Braga — mas para vir têm de alugar táxi — o que se torna difícil para a família e “nós vamos procurar ajudar na medida do possível esta família”.

O pároco de Mosteiro e arcipreste de Vieira do Minho sensibilizou já o presidente da Câmara de Vieira do Minho para esta situação de modo a encontrar uma forma de apoio a esta jovem e à sua família.

O presidente do Município, Albino Carneiro, já se mostrou receptivo a encontrar uma forma para poiar esta jovem que s exprime apenas por monossílabos para pode evoluir um pouco mais ao nível da comunicação com os outros com ajuda médica e terapêutica para a qual a mãe não tem meios.

O padre Nuno Duarte Campos foi alertado para esta situação — cuja gravidade desconhecia — quando foi contactado pelos alunos do Colégio Dom Diogo de Sousa.

O caso da Maria Odete Silva foi indicado pelos Serviços Sociais do Hospital de S. Marcos em Braga.

Os alunos visitaram a Odete Silva, em sua casa, em Vieira do Minho, conversaram com ela, recolheram imagens e sons para um pequeno documentário que foi apresentado sexta-feira no auditório do Colégio, antes da entrega do computador, do cabaz de Natal e do dinheiro sobrante para consultas. Foi um momento de rara beleza e emoção que encheu a sala.


SESSENTA ANOS
EM CELEBRAÇÃO

A semana do Colégio Dom Diogo de Sousa foi animada ao longo de todas as tardes com as festas de Natal protagonizadas pelo milhar e meio de alunos, desde o pré-primário até ao décimo segundo ano.
No entanto, a manhã de sexta-feira foi especial, com a entrega de um computador à jovem Odete Silva,18 anos mas com corpo de criança, pelos alunos do 11.º e 12,º anos.

O padre Cândido Azevedo de Sá, director do Colégio, descreveu os passos seguidos até ao momento da entrega do computador e cabaz de Natal à jovem de Vieira do Minho.

O colégio faz todos os anosuma campanha de solidariedade para “educar os nossos alunos para esse valor que é muito importante. Este ano quisemos fazer diferente, para uma causa concreta e pedimos ao Serviço Social do Hospital de S. Marcos que nos indicou esta menina de Vieira do Minho que sofre de distrofia miotónica congénita”.

Depois, prossegue o Director, “pusemos os alunos a trabalhar este caso para realizar o grande sonho da Odete que era ter um computador e tentar fazer com que o Natal da sua família seja melhor”.

A compra destes bens agora oferecidos resulta de uma campanha em que foi “explicado aos alunos o seu objectivo e as turmas do 5.º e 6.º anos e do 10.º ao 12.º anos quotizaram-se para arranjar as verbas para o computador, Além disso, a generosidade dos alunos foi grande, conseguiram dinheiro para consultas da terapia da fala e vamos colaborar com o serviço de Pediatria oferecendo umas cadeiras específicas que o Hospital precisa” — explicou o padre Cândido.

Mas há outras. “Todos os ciclos de ensino têm uma campanha. No caso do pré-escolar estão a fazer a campanha a favor de uma menina de 14 anos, de Famalicão, com a doença de Creutzfeldt-Jakob. É uma família com muitos problemas e muitas dificuldades que vai ser ajudada pelos meninos do pré-escolar” — adianta o nosso interlocutor.

Os alunos do primeiro ciclo e do 7.º a 9.º anos vão ajudar famílias com necessidades na fregusia de Godinhaços, em Vila Verde, além de famílias de Adaúfe, S. Vítor e S. Vicente.

Apesar do colégio estar a lançar as comemorações dos 60 anos da sua fundação, o padre Cândido Azevedo Sá sublinha que “fazemos todos os anos estas campanhas. É uma forma dos alunos consolidarem também esse valor que é essencial na sociedade de hoje: estar atentos às necessidades dos outros”.

Quanto às celebrações, o Director levanta um pouco o véu do programa que uma equipa do Conselho Pedagógico, Professores e Direcção está a preparar.

Vamos ter uma série de exposições sobre a história do Colégio, os vultos , os fundadores e um encontro de antigos alunos que é incontornável. Vamos procurar fazer palestras sobre temas relevantes da pedagogia e pessoas importantes ligadas à vida e história do Colégio, além de outras acções que temos em mente e que oportunamente serão anunciadas” — conclui o Padre Cândido Azevedo Sá.

Saturday, December 13, 2008

Oiçam o sapateiro de Braga!

Os empresários do Minho estão ansiosos por saber se o Governo, o Parlamento e o Presidente da República vão ser tão rápidos a ajudá-los nesta conjuntura como o foram para acudir ao sufoco que a ganância financeira causou no sistema bancário português.

Muito deles estão crucificados no calvário da ganância bancária que obscenamente se vangloria de lucrar seis milhões de euros por dia em Portugal no primeiro semestre deste ano.

À operação legislativa mais rápida que há memória em Portugal, por iniciativa do Governo com beneplácito do Parlamento e do Presidente que, mais uma vez, não teve dúvidas sucede o marcar passo de medidas eficazes para relançar as empresas portuguesas no limiar da extinção.

Daí que tenha toda a razão de ser — até porque é feito por quem está bem enfarinhado nos assuntos — o apelo do presidente da Associação Industrial do Minho ao acusar a banca de “continuar a levantar cada vez mais obstáculos às empresas”.

António Marques, pediu um puxão de orelhas do Governo aos bancos — a quem acaba de avaliar a sua viabilidade — porque continuam a recusar empréstimos e a negociar taxas de ‘spread’ muito altas.

É a autoridade do Governo que está a ser posta em causa pelos magnatas das finanças que fazem “gato sapato” de um Estado que disponibilizou garantias financeiras para apoiar a economia do país.

Porque é que umas empresas — os bancos — são discriminados positivamente pelo Estado que somos todos nós, empresários que pagam os seus impostos, incluídos, enquanto as outras empresas são esquecidas ou não existe a mesma rapidez do Governo ou uma palavra do Presidente da República?

É legítimo também que os empresários se questionem sobre alguma utilidade que possam ter organismos como o IAPMEI ou a Agência para o Comércio externo de Portugal.

Porque é que, por exemplo, não se uniformiza o pagamento do IVA, como foi efectuado para as transportadoras: o imposto só é pago quando a factura é liquidada. Onde radica esta desigualdade de tratamento fiscal entre as emopresas do mesmo país?

Como pode explicar o Governo que trata todos por igual se aprova umas medidas de apoio ao sector automóvel e esquece os outros ramos da actividade industrial portuguesa?

Como o sapateiro de Braga, os empresários do Minho não percebem esta moralidade onde não comem todos e só alguns engordam, como acontece com o sistema bancário, enquanto os governantes (presidente da República incluído) andam a ver navios.

Oxalá, os empresários do Minho não baixem os braços e o Governo oiça os seus apelos de justiça e equidade para que não seja recebido com trabalhadores a empunhar as bandeiras negras da fome. É disso que se trata.

S. Adrião: 25 anos de dedicação com qualidade




A cereja no topo do bolo dos 25 anos de vida do Centro Social, Recreativo e Cultural de Santo Adrião é o complexo desportivo a construir em terrenos cedidos pela Câmara Municipal de Braga, para servir todas as pessoas de todas as idades. O bolo de aniversário foi a recepção do certificado de qualidade nos serviços sociais prestados à infância, juventude e idosos.

A dimensão social constitui a marca distintiva do Centro Social de Santo Adrião, visível na exposição que mostrou o nascimento e crescimento até à sua consolidação e certificação.

Os coros e os gruopos de teatro iniciais, um torneio de futebol de salão e a estreia do Hino do Centro, constituíram outros momentos marcantes do programa que culmina sexta-feira com uma sessão solene.

A grande família do Centro Social e Cultural agrega quase quatro mil sócios que dão força a uma instituição que apoia a infância, dinamiza a Juventude e melhora a qualidade de vida dos idosos.

Fomentar o desporto e apoiar a juventude sempre numa óptica de promoção social, federado sim, mas sem nunca esquecer os objectivos sociais são os resultados mais esperados pelos responsáveis do Centro de S. Adrião.

Diariamente por ali passam e vivem 300 crianças e140 idosos (ou seja quase 500 utentes diários).

Mas à quantidade, responde o Centro Social e Cultural de Santo Adrião com outro desafio gigantesco: ser a primeira IPSS de Braga certificada em todas as áreas e valências, cujo certificado foi entregue na passada sexta-feira, dia 12 de Dezembro.

De facto, o Centro Social de Santo Adrião envolve mais de duas mil crianças e jovens em actividades desportivas, em modalidades que começam na ginástica de manutenção e prosseguem com o futsal, kickboxing, ténis, danças de salão, actividades radicais e passam pelos campos de férias, sem esquecer as actividades do grupo Synergia que desenvolve a música hip pop, skate e DJ’s, dinamizando tempos livres de jovens nas escolas.

A natação para a terceira idade é uma das modalidades a reforçar com a construção do complexo desportivo que, na primeira fase inclui a construção de um pavilhão gimnodesportivo (no valor de 500 mil euros), seguindo-se uma piscina de ar livre e outras áreas de serviço aberto à comunidade.

João Sousa — que praticamente abandonou a escola onde exercia a profissão — e seus companheiros nesta aventura solidária merecem o apoio do estado para concretizarem os seus sonhos.
Eles só pedem ao Estado que não atrapalhe.
Vontade de fazer bem aos outros têm de sobra.

Wednesday, December 10, 2008

Pensador feminino com H grande

Foi a sepultar ontem o escritor português cuja vida foi marcada pelo lado feminino, «o dos afectos», alimentados pela sua passagem pelo Minho na sua juventude.

Em pequeno, as tias, as velhas criadas, mimaram o menino e definiram a sua forma de encarar o mundo. Essa herança, em paralelo com a distância autoritária do pai, foi o primeiro passo para preferir a companhia das mulheres.

«Existe uma maior percentagem de mulheres interessadas naquilo por que eu me interesso do que de homens», explicava Alçada Baptista.

Para qexplicar-se melhor, dá-nos um exemplo fabuloso quanto actual. «Num jantar de homenagem, ao meu lado sentou-se uma escritora minha amiga. À frente, um banqueiro. A escritora falou-me do neto, do livro que ia escrever e de assuntos similares. O banqueiro interrompia-nos de vez em quando para contar «anedotas de aviário» sem piada nenhuma. Ali tive consciência nítida da diferença entre o masculino e o feminino».

Em contraponto aos grandes heróis, que detinham muito poder — Napoleão Bonaparte, Alexandre, o Grande, ou Afonso de Albuquerque, Alçada Baptista prefere outros heróis que impuseram a cultura de cortesia como S. Francisco de Assis e Dante, como Jesus Cristo ou Ghandi:, eles aproximaram-se das pessoas e do mundo sem usarem o poder.

Por isso, para Alçada Baptista não era da discussão que nascia a luz. A luz nasce muito mais da cooperação, da comunhão, do afecto e só a mulher tem esta capacidade.

Se no colégio dos Jesuítas, em Santo Tirso, aprendeu «que tinha de salvar o mundo e os pobres, o que de mais importante aconteceu na sua vida foi a entrada da mulher na história, num tempo em que, quando uma mulher passava a conduzir, se dizia: “Olha uma mulher a guiar!”.

No futuro, o escritor considera que os homens se devem feminizar, ou seja, assumir sem vergonha o mundo dos afectos. As pessoas têm muito mais poder, de muitas naturezas, a nível individual, e não através do poder apenas.

Nesse novo poder, destaca-se a importância que as mulheres estão a dar ao diferente e que a natureza do poder se vai modificando à medida que as mulheres tomam consciência da sua natureza e das capacidades que possuem.

Alçada Baptista deixou-nos uma nova maneira de encarar o mundo, o poder, o ser humano, o saber, Deus e os outros, na linha de Emmanuel Mounier ou Teilhard de Chardin. Foi bom tê-lo connosco, mas será melhor se lermos as suas obras, especialmente "Peregrinação Interior".

Saturday, December 6, 2008

Uma boa companhia "Em horas de solidão"


Domingos da Silva Araújo acaba de lançar mais um livro, intitulado “Em horas de solidão” cuja leitura constitui uma boa companhia para “esses dias”, nem que seja um só poema de cada vez.

Este volume surge no mesmo ano em que foi lançado “Livro das Horas”, com quase duzentas páginas, um título há muito anunciado na sequência de “Refúgio” e de “Vivências do Natal”.

Na apresentação do “Livro das Horas”, Domingos da Silva Araújo justificava que os seus poemas eram a “expressão do meu sentir e do meu relacionamento com Deus. Não sei viver sem Ele e sem conversar com Ele”.

Tal como em “Livro das Horas” o autor recolhia poemas que tinham sido escritos entre 1954 e a actualidade, também neste “Em horas de solidão”, o antigo director do jornal Diário do Minho partilha um dos “dois quartos” do seu coração (a dor e o prazer), na perspectiva definida por Antero de Quental.

Neste volume, Silva Araújo coloca à nossa disposição os escritos referentes ao primeiro quarto, “da dor física e da dor moral”, desde os seus 18 anos até 2008, destacando aqueles dias em que se viu “ferido, roto e ensanguentado” ou, então, “exausto e desanimado”.

São pedaços daqueles momentos da vida de cada um de nós em que “a única saída — escreve o autor — me pareceu ser o desabafar com o papel, transferindo para ele os sentimentos da minha angústia, da minha revolta, do meu inconformismo, da minha insatisfação, das minhas limitações, das tentações do desânimo”.

Valeu a pena, porque estes desabafos para o papel transferiram “mais vontade de viver” e vontade de ultrapassar as contrariedades para saborear a “indesmentível fidelidade de familiares e amigos” bem como “um sem número de consolações”.

E quais são as contrariedades que Silva Araújo partilha connosco para nos ensinar e ajudar a ultrapassar? São, entre outras, as “desilusões provocadas por pessoas em quem tinha posto uma ilimitada confiança; o lavar de mãos de quem me devia ter apoiado e cobardemente não o fez; a crueza de quem de mim se serviu e me tratou mais como objecto do que como pessoa”.

Folhear com olhos gulosos estas seis dezenas de poemas de Silva Araújo é entrar numa “gaiola vazia” onde nos sentimos “estrangeiros no mundo”, embora possamos aqui e ali vislumbrar o “jardim da Esperança” que dá colorido ao cinzento-e-preto do “anoitecer” quando chega o momento do “porquê” que nos ensina a “ser e querer” para “esgotar o cálice da amargura que (nos) fora destinado”.

Só quem sabe e balbucia no “Credo” que “Deus existe” — como quem pede que “deixem dormir o menino” que há em nós — pode entender um “poema de inverno” que nos leva a passear até “ao mar de sargaços e de areias/que trago no meu peito a cachoar”!

Ora, quem, como o autor, anda pelo “cais da vida”, “nesta escalada íngreme da vida, cheia de precipícios e surpresas” pode perscrutar pelo postigo das “trevas” que a dor também tem uma porta de saída? O leitor.

Para além deste livro, o autor também merece porque começou a sua aventura literária em 1961 com “Poemas da hora que passa” e tem dedicado grande parte da sua vida à divulgação de temas como o jornalismo, política, literatura portuguesa, religião, além de ter colaborado em várias colectâneas.

Em preparação, este vimaranense, actual Reitor da Basílica dos Congregados, tem mais alguns livros de versos e prosas diversas.

Thursday, December 4, 2008

Até quando um concelho anão?



Antes de mais nada, devo confessar que sinto pena daquelas pessoas que me catalogam de inteligente e simpático — só para me agradarem — e, passados uns dias ou meses, agem como se eu fosse destituído, cego, surdo e anão de circo.
Não sabem quanto me enojam.

Escrito isto, sublinhamos que até amanhã, está a decorrer a III Semana do Desporto adaptado ou para pessoas com deficiências.

É intenção da Câmara Municipal de Braga quebrar muros, unir energias e motivar os clubes para que a expressão “igualdade de oportunidades” saia dos dicionários e seja realidade concreta todos os dias.

Concursos, exposições com trabalhos — que Mesquita Machado reconhece como notáveis — foram feitos pelas crianças dos ensino básico.

Esta semana incluiu um desfile de atletas prejudicado pelo mau tempo e frio que se fez sentir em Braga, para além de vários torneios como de Basquetebol, Boccia, Goalbal, futebol, além de uma corrida de atletismo, amanhã e uma peça de teatro com que fecha a semana.

É verdade que a Câmara Municipal de Braga leva a dianteira no trabalho de sensibilização para esta minoria que representa pouco mais de sete por cento da população do concelho.

A criação do Fórum Municipal da Pessoa com Deficiência testemunha o pioneirismo que a gestão socialista tem mostrado em outras áreas.

No entanto, é tempo da sociedade civil dar a sua resposta afectiva, efectiva e eficaz, após o trabalho de sensibilização que tem sido feito nos últimos anos, de que é expoente máximo a semana do desporto adaptado.

Como fez em outras áreas, também aqui a maioria que gere o município pode mostrar o seu pioneirismo e dar novo contributo para a efectiva igualdade de oportunidades na prática do desporto.

Os bracarenses, através dos seus impostos, desembolsam dezenas e desenas de milhares de euros para apoio a colectividades desportivas do concelho, com resultados competitivos que não interessa agora avaliar.

No panorama do excelente trabalho que tem sido feito com atletas deficientes e face aos maravilhosos resultados que são obtidos, verifica-se que apenas as IPSS estão a assumir o seu dever e responsabilidade.

Os clubes desportivos primam pela ausência nesta area mas são quem recebe dinheiros públicos para a dinamização e a formação desportiva.

A começar já no próximo ano, a Câmara Municipal devia exigir, numa das alíneas dos contratos programas que vai celebrar que cerca de sete por cento da verba disponibilizada para os clubes devia ficar cativa para o desenvolvimento do desporto para estas pessoas especiais que são os deficientes.


Haja coragem política para o fazer já no próximo orçamento do município para que não se possa continuar a escrever que, em Braga, os clubes desportivos estão cegos porque não vêem a sua obrigação de contribuir para o direito de todos à prática do desporto.

Surdos são os clubes que vivem sempre apressados para o trabalho dos resultados, embrulhados em chicotadas psicológicas, e se esquecem dos direitos das pessoas especiais.

Mudos são os autarcas que não conseguem impor o que dizem ser notável mas depois se escondem por trás da máscara da não interferência na vida dos clubes.

Braga tem aqui uma excelente oportunidade de deixar de ser um concelho anão que não sabe deixar crescer e promover a igualdade das pessoas.

Se nada disto for avante, as pessoas deficientes confessarão pena das pessoas que as catalogam de inteligentes e notáveis — só para agradarem num só dia — e passados umas semanas ou meses agem, todos os dias, como se elas fossem destituídas, cegas, surdas e anãs de circo.
Não sabem quanto as enojam.

Wednesday, December 3, 2008

A (des)ilusão do luxo do lixo



No meio da actual crise que nos foi dada como presente pelos grandes grupos financeiros neste final de 2008, façamos o exercício de folhear um daqueles suplementos de artigos de luxo que os nossos semanários teimam em impingir-nos pelos olhos dentro.

Ficamos tão desconcertados como curiosos, com aquela modelo loura que se cobre de peles e tem um cachorrito nos braços.

O cachorro desafia-nos com olhos arregaladitos como a dizer-nos que está ali contrafeito. A única pobreza naquela foto deve ser a do fotógrafo que não se vê e da modelo que não tem direito a mostrar a cara.

De resto, luxo não falta no cenário que nos é proposto ao olhar, desde as malas de pele de todos os feitios e tamanhos, sobre a relva, aos pés da beldade. Um Mercedes descapotável e desportivo tem como cenário uma mansão para onde olha a dama.

Depois de nos fixarmos neste quadro durante alguns momentos, somos despertados para a pobreza, a tal realidade que, por mais que se oculte, não nos sai da memória de ontem e de hoje.

Os mesmos jornais que nos mostram a opulência do luxo para uma minoria são os mesmos que chamam a imensa maioria a dar de si nas campanhas de solidariedade, porque é politicamente correcto associar-se a estas iniciativas.

À medida que avançamos no suplemento e nos descrevem os luxos de outras marcas, vamos descobrindo que até o luxo é uma mentira, tendo em conta a multidão de artigos contrafeitos que aparecem no mercado.

Afinal, agora, nestas semanas que antecedem o Natal, não existe outra verdade que não seja a pobreza.

A pobreza daqueles que apenas têm o luxo de apreciar suplementos com artigos inacessíveis mas possuem a riqueza de se prontificarem a dar alguma coisa aos pobres, de entre o pouco que possuem.

A miséria daqueles que falsificam artigos de luxo e a pobreza daqueles que compram artigos falsos para ostentarem luxo falso contribuem, cada um a seu modo, para o empobrecimento da imensa maioria que mastiga a mágoa em silêncio e seca as lágrimas com as mãos calejadas de trabalhar de sol a sol... para confeccionar esses artigos com salários miseráveis.

Neste tempo de inverno, a maioria dos portugueses é convidada a fazer como o urso que, nos invernos, não tem que comer nem que caçar.

Todavia, até o urso tem mais sorte que a maioria de nós: pode hibernar e nós não. Ele espera que o Inverno passe. Nós não sabemos se a crise tem fim.

Terras de Bouro: "Um poema é uma flor..."


Ser poeta é ser maior, uma vez que não se limita à imitação (mimesis) mas é autor da criação (Poiesis): esta foi a ideia máxima que marcou a apresentação do livro "Um poema, uma flor", sábado no auditório municipal de Terras de Bouro.
Costa Guimarães falava na sessão de apresentação da obra mais recente de João Luís Dias, escritor e presidente do Clube de Autores Galaico-Minhotos (Calidum), que encheu aquela sala com pessoas, poemas, sabores e canções, ao longo de duas horas.

O jornalista bracarense lembrou Teixeira de Pascoaes para quem a poesia é a "mais profunda e etérea manifestação da nossa alma" e o que "dá o sentido mais perfeito e harmónico da vida".

No seu entender, a poesia aperfeiçoa o ser humano, aproximando-o do "antropos" e, enraizando-se nos conceitos gregos (poiesis e mimesis), o jornalista Costa Guimarães partilhou a dimensão do poeta ao longo das várias épocas e civilizações, como alguém que cria a linguagem e o objecto que entusiasma e inspira, ao ponto de possuir o sentido do divino, como defendia Platão.

Se na Bíblia, o poeta era equiparado a profeta, a voz de Deus, no sentido profético e de ser aquele que fala em nome dEle, no hinduísmo, a poesia integrava a contemplação do sábio.

A ideia de uma ser humano privilegiado pelo talento é comprovada ao longo dos tempos na Europa com a protecção que reis e príncipes prestavam aos poetas e trovadores, até aos tempos em que Rimbaud promoveu a quebra desta mordomias assumindo a poesia como confissão, contestação e denúncia que não vive de temas como o amor, a morte, a saudade e o mar.

Costa Guimarães destacou a parceria entre o fundador e presidente do Calidum — Clube de Autores Minhoto/Galaicos — com Sun Lam, de Pequim, directora do Instituto Confúcio, da Universidade do Minho, autora das fotografias a cores que enriquecem o livro com 35 poemas.

Além dos olhares de Sun Lam, plasmados em fotos de flores, o livro de poemas é também um conjunto de "olhares" que soletram "cada palavra rasgada à garganta" para desfazer no leitor "o glaciar de silêncio"

Com 110 páginas, a mais recente obra deste funcionário do Instituto de Registos e Notariado, tem prefácio do músico e cantor Pedro Barroso que lhe chama "o poeta da montanha" que descreve com "mãos talhadas de cetim" neste livro em que "cada poema é uma flor e cada flor é um poema" — como definiu o próprio autor.

Citando Pablo Neruda, Costa Guimarães disse que este livro — com poemas e fotos de flores — corporiza a poesia como uma "acção passageira ou solene em que entram em doses medidas a solidão e a solidariedade, o sentimento e a acção, a intimidade da própria pessoa, a intimidade do homem e a revelação secreta da natureza".

O jornalista encerrou a sua apresentação convidando todos os presentes a recitarem em coro um dos 35 poemas de "Um poema, um flor" porque a poesia não vive de adeptos, precisa de amantes.

No final, João Luís Dias agradeceu a presença do presidente do município terrabourense, António Ferreira Afonso, e do alcaide de Lobios, José Lamela, e com patrocínio da empresa bracarense Arlindo Correia & Filhos.

O presidente da Câmara de Terras de Bouro destacou a dupla faceta de João Luís Dias, enquanto escritor que revela todo o talento na poesia deste livro e enquanto editor e promotor da divulgação de autores minhotos e galegos, através do Calidum.
João Luís Dias publicou há 20 anos "Ecos do silêncio", "Sonho em hora de ponta" (1992) e reuniu crónicas em "Antes que o tinteiro entorne" (2003.

O grupo da Calidum encerrou esta tarde cultural com a interpretação de canções de Pedro Barroso e de poemas de João Luís Dias, musicados por Manuel Afonso, nas vozes de Bárbara Passos, Luís Pinho e Nuno Queirós.

S. Vítor investe... devagarinho



Uma das dificuldades da acção reside na falta de espaços para a dinamização de outras actividades pastorais, especialmente na Quinta da Armada e junto à Igreja Paroquial. Os projectos, tendo em conta os tempos que se vivem, “exigem que se vá devagarinho” — assegura o padre Sérgio Torres.

De acordo com um dos párocos de S. Vítor, o terreno pra o Centro da Quinta da Armada foi comprado mas neste momento “não temos meios para isso. Queremos acabar de pagar o terreno e depois a prioridade absoluta é construir o Centro Pastoral na Quinta da Armada. Temos cerca de 300 crianças na catequese, mais os escuteiros, as guias e jovens. É muita gente que ali trabalha semanalmente. Foi apresentada uma candidatura na CCDRN que prescreveu e agora teve de reapresentar-se a candidatura que depende muito de vontades políticas. Só podemos fazer obras em S. Vítor quando tivermos um sítio para deslocar as pessoas que aqui estão, durante um ano ou dois” — assegura o Padre Sérgio.

Para S. Vítor, depois de construído o Centro Pastoral da Quinta da Armada, “já fizemos o concurso de ideias. Apareceram 12 propostas e estamos a trabalhar a proposta vencedora mas temos de ter prudência e perceber um pouco o que pode ser necessário em termos de rede de apoio infantil”.

O nosso objectivo é dar novas instalações à creche que já temos e ampliar esse serviço da creche”, bem como a construção do centro pastoral para catequese e construir três capelas mortuárias porque a actual é muito pequenina. Queremos dar condições para que as pessoas possa ter outra tranquilidade quando estão a velar e rezar pelos seus mortos”.

A paróquia de S. Vítor vive num momento de compasso de espera dos grandes investimentos para dotar esta comunidade das infra-estruturas de apoio às actividades sociais e pastorais. São os Centros pastorais de Quinta da Armada e em S. Vítor que aguardam por melhores dias e exigem maior reflexão antes de lançar as obras

Mas há também muitas alegrias nesta comunidade cristã, como a capacidade de as pessoas da “paróquia se encontrem uma vez que somos uma paróquia muito dispersa” — sublinha o padre Sérgio Torres.

As distâncias são curtas mas as pessoas tem formas de estar e de viver diferentes. Nós temos tentado trabalhar dentro desta pluralidade que as pessoas trabalhem junts e haja uma certa unidade naquilo que fazemos, juntando os catequistas, as crianças de catequese, os grupos de jovens, apesar das várias polaridades”.

Juntamente com o padre José Carlos Azevedo, o padre Sérgio Torres da conta de terem conseguido reunir, para a visita pastoral do Arcebispo os padres todos que prestam serviço para um momento de reunião e convívio, à semelhança do que foi feito com a catequese, os escuteiros, os jovens que animam os três centros (Montariol, Armada e S. Vítor).

No que se refere às dificuldades com que se debate esta dupla de sacerdotes, Sérgio Torres destaca “a resposta que a Igreja vai dando às pessoas”.

Ou seja, quem vem aqui à Missa gosta, diz que as missas são bonitas, a parte ritual é bem feita bem como a catequese também é bem feita. Mas, é só isto que as pessoas que vivem na nossa paróquia, esperam? Que imagem nós damos de Igreja. As pessoas só querem missas bem cantadas e bem rezadas, catequese bem organizada e atraente ou querem mais qualquer coisa da Igreja? Será que estamos a responder às expectativas das pessoas?

As questões económicas e sociais, as famílias divorciadas ou as uniões de facto e outras devem preocupar a Igreja. O Padre Sérgio Torres revelou que há dois anos dos 220 baptizados, cerca de 80 eram de pessoas que não estavam casadas pela Igreja. É um dado que nos deve fazer pensar e ir ao encontro das pessoas. Neste momento não temos essa capacidade. Temos mais capacidade para estar em casa e receber as pessoas e isso temos tentado fazer bem.

A minha preocupação nesta paróquia, por exemplo, uma vez que temos cerca de 130 funerais por ano, era ter uma equipa que possa ir ao encontro das pessoas numa hora de dificuldade para elas. Que possam fazer o acompanhamento das pessoas”.

Se reparar bem, nós acompanhamos as pessoas que vêm ao nosso encontro, no baptismo, na catequese, no casamento, temos resposta. Mas quando passa destes momentos, não damos resposta a ninguém. Só nestes momentos conseguimos o contacto com as famílias. É a nossa dificuldade em construir uma comunidade onde haja mais solidariedade, comunhão, mas seremos capazes de conseguir se mostrarmos às pessoas que a nossa missão deve ir para além do ritual. As nossas missas têm que despertar mais qualquer coisa para termos uma Igreja que tenha uma presença diferente na nossa sociedade”.

É uma marca que se deixa mas “não devemos entrar em desespero e ficar sem fazer nada” — conclui o padre Sérgio Torres.

S. Geraldo: 900 anos após a sua morte (fim)



Amanhã, dia 5 de Dezembro de 2008, precisamente, cumprem-se 900 anos da morte do grande Arcebispo e padroeiro de Braga, S. Geraldo, a quem se deve o resgate da primazia sobre Compostela e Toledo (no Concílio de Palência, em Dezembro de 1100).

Mais uma vez o altar da capela com o seu nome vai recuperar a antiga tradição de ser ornamentado com fruta — que há décadas atrás era oferecida pelas vendedoras de fruta do mercado municipal.

Os fiéis recorrem a ele para se protegerem as cefaleias, asma, chagas, tumores e paralisia dos membros e males que afectam a cabeça. Braga passa por esta data como "a raposa pela ramada vindimada", indiferente como sempre, ingrata como é desde há algumas décadas ou como sempre foi?

Diogo Geraldo, assim se chamava, assumiu a Diocese de Braga após a obscura destituição de Dom Pedro e cinco anos de sede vacante. Encontrou a cidade “ainda em grande ruína e os serviços eclesiásticos um pouco anarquizados

Desorganizada a administração eclesiástica após a conquista muçulmana de 711, a diocese de Braga só volta a ser restaurada em 1070, por acção do Bispo D. Pedro (cujo episcopado está bem retratado no cartulário “Liber Fidei”), antecessor de S. Geraldo, que professara na abadia de Moissac e vivia em Toledo.

Chega a Braga, após escolha de D. Afonso e do Conde D. Henrique, a 26 de Abril de 1096, iniciando de imediato a reestruturação da Escola da Catedral que D. Pedro havia fundado, sem esquecer as obras na Sé iniciadas pelo antecessor.

A recuperação dos bens usurpados a Braga durante o exílio dos bispos bracarenses em Lugo (entre 710 e 1170), a reforma da Liturgia romana e um Sínodo para disciplinar os costumes e os clérigos foram outras acções estratégicas que marcaram o seu episcopado.

Sempre perto das populações, iniciou um plano de visitas às paróquias mesmo a smais recônditas, como aquela onde morreu, nos contrafortes das serra de Bornes.
Teve ainda tempo para ir a Roma duas vezes reivindicar a primazia de Braga sobre Astorga, Lugo, Mondonhedo, Orense, Tui, Porto, Coimbra, Lamego e Viseu.

S. Geraldo está sepultado na capela com o seu nome, na Sé, devidamente restaurada há oito anos. Nesta capela são visíveis sete quadros com pinturas que retratam os momentos essenciais da sua vida.

Diogo Geraldo, assim se chamava, assumiu a Diocese de Braga após a obscura destituição de Dom Pedro e cinco anos de sede vacante. Foi durante o seu episcopado que aconteceu o pio latrocínio protagonizado pelo bispo de Compostela, Diego Gelmirez.

S. Geraldo recebeu Gelmirez no próprio Paço, este pela calada da noite levou para Compostela as relíquias de S. Vítor, S. Frutuoso, Santa Susana, S. Silvestre e S. Cucufate, retiradas de várias igrejas de Braga.
Esta acção do grande arcebispo faz com que desapareçam de Braga os surtos heréticos ou tentativas heterodoxas de afirmação da fé cristã.

Com o virar do novo milénio surge uma nova ordem — a feudalidade associada a uma imensa expectativa do milenarismo: o fim do mundo.

Só no século XII vamos assistir a novo surto de heterodoxia: passados os medos do milénio e com a transformação da sociedade rural em sociedade urbana. O predomínio rural cedeu lugar à troca de produtos, ao comércio e à primazia doo lucro.

O clero começou a ser criticado pela sua opulência e os fiéis empobrecidos reivindicam o direito de pregar a palavra de Deus, originando movimentos de espiritualidade for a da hierarquia como são exemplos os valdenses, os cátaros e os cultos dualistas.

Os abusos dos comerciantes e do clero levam as populações a ressuscitar antigos cultos, através de superstições. Baqueavam as conquistas resultantes do grande esforço desenvolvido por S. Martinho de Dume que procurou extirpar através da pregação, da destruição dos templos e ídolos pagãos.

De facto, algumas superstições que ressurgem nos séculos XII e XIII remetem para formas de culto cujas origens se perdem no tempo, como é o caso das missas realizadas for a dos templos, nos montes, campos e outros “lugares desonestos” — como descreve o “Tratado da confissom”, de Martim Perez, quando alude “às mulheres que saem de noite, andam pelos ares e pelas terras, que entram nos buracos e comem e sugam as criaturas” (espécie de bruxas arraçadas de vampiras).

As recomendações dos Sínodos de Braga e não só para que a eucaristia e os santos óleos fiquem bem fechados e para que a pia baptismal seja devidamente guardada revelam o medo que o seu uso fosse desviado para fins menos cristãos.
O Sínodo de Braga de 1281 condenava os clérigos e leigos que consultassem agoureiros e feiticeiros e praticassem estas magias.

S. Geraldo: 900 anos da sua morte (6)

Não foi fácil o encontro da Cristandade do Norte, influenciada pela França, com os moçárabes, especialmente em Braga, após a desorganização de 711.
Para trás ficam escassos ecos da reorganização do império romano levada a cabo por Diocledciano, até 388, a qual substitui a de Augusto (27 a.C.) que dividia a Península em três províncias: Bética, Tarraconense e Lusitânia.

Com Diocleciano surge a Galécia, ao lado da Lusitânia, e assim se manteve apesar das inavsões suévicas e islâmicas.
Nos concílios de Braga (561 e 572) são referidas novas dioceses do reino Suevo que chegava da Galiza até ao Douro, com algumas províncias da Lusitânia. O Bispo de Braga dirigia as dioceses de Lamego, Viseu, Conimbriga e Idanha.

No “Parochial Suevorum” — documento único em todo o seu género no ocidente —, em 582, encontramos a lista das paróquias da Província Eclesiástica de Braga. Se não podemos falar de uma rede de paróquias, é legítimo falar de uma constelação de paróquias rurais e urbanas.

É ao bispo Dom Pedro, por volta de 1070, que cabe a tarefa de reorganizar a administração eclesiástica de Braga, para a qual contribui a extinção da dinastia das Astúrias-Leão. Os reis de Oviedo favoreceram a manutenção de Braga sob tutela de Lugo (até século X) e depois de Compostela. Cerca de 1070, D. Pedro, primeiro Bispo de Braga, reorganiza a Diocese, conhecendo a cidade e a área envolvente um clima de franco fortalecimento das suas estruturas fundamentais.

O bispo D. Pedro (r. 1071-1091) ordenou a construção da Catedral, que foi concluída em 1089. Desde então, os bispos de Braga foram verdadeiros governadores.

Prosseguindo o trabalho de D. pedro, é no tempo de S. Geraldo que começam a fixar-se as funções da paróquia e a constituição de uma rede, com a introdução de algumas normas de direito deixado pelos romanos. Era o momento de agregar as paróquias em rede, depois da desunião registada com a invasão árabe e a fuga dos bispos e clérigos.

A estreita cooperação entre Igreja e príncipes, condes e reis fidelíssimos a Roma foi decisiva para esta reorganização. Com a reconquista, foram restauradas dioceses e recuperados mosteiros de tradição visigótica à luz do espírito reformador das abadias de Cluny (de onde há-de vir S. Geraldo para Braga) e Cister.

O Conde D. Henrique e seu filho encarregaram-se em colaboração com os bispos de Braga (D. Pedro, Dom João Peculiar e depois S. Geraldo) da restauração das dioceses por esta ordem cronológica: Braga (arquidiocese), Coimbra, Porto, Lamego, Viseu, Lisboa, Évora, Silves e Guarda. Os Cartulários são um fabuloso manancial de informações sobre este tempo.

Isto implicava a substituição do rito moçárabe pelo romano, dando origem a um longo e conflituoso processo de introdução do rito romano na Península Ibérica. Depois de dominada por romanos e árabes, a França ocupava lentamente o lugar daqueles.

Apesar disso, foi impressionante o movimento de reconversão monástica que acompanha a formação do Condado Portucalense. Os mosteiros de tradição visigótica, masculinos ou femininos trocam a regra de S. Frutuoso (Regula Communis) pela regra de Cluny. Depois segue-se a troca, a partir de 1143, em Alcobaça, pela regra de Cister.

A invasão árabe provoca um fenómeno singular na península, mais visível no território que futuramente será o reino português: a necessidade de união contra um inimigo faz unir os povos da Lusitânia numa só crença e numa só Língua.

Essa união de forças faz com que desapareçam os surtos heréticos ou tentativas heterodoxas de afirmação da fé cristã. Com o virar do novo milénio surge uma nova ordem — a feudalidade associada a uma imensa expectativa do milenarismo: o fim do mundo.

Só no século XII vamos assistir a novo surto de heterodoxia: passados os medos do milénio e com a transformação da sociedade rural em sociedade urbana. O predomínio rural cedeu lugar à troca de produtos, ao comércio e à primazia doo lucro.

O clero começou a ser criticado pela sua opulência e os fiéis empobrecidos reivindicam o direito de pregar a palavra de Deus, originando movimentos de espiritualidade for a da hierarquia como são exemplos os valdenses, os cátaros e os cultos dualistas.

Os abusos dos comerciantes e do clero levam as populações a ressuscitar amtigos cultos, através de superstições. Baqueavam as conquistas resultantes do grande esforço desenvolvido por S. Martinho de Dume que procurou extirpar através da pregação, da destruição dos templos e ídolos pagãos.

De facto, algumas superstições que ressurgem nos séculos XII e XIII remetem para formas de culto cujas origens se perdem no tempo, como é o caso das missas realizadas for a dos templos, nos montes, campos e outros “lugares desonesos” — como descreve o “Tratado da confissom”, de Martim Perez, quando alude “às mulheres que saem de noite, andam pelos ares e pelas terras, que entram nos buracos e comem e sugam as cristuras” (espécie de bruxas arraçadas de vampiras).

As recomendações dos Sínodos de Braga e não só para que a eucaristia e os santos óleos fiquem bem fechados e para que a pia baptismal seja devidamente guardada revelam o medo que o seu uso fosse desviado para fins menos cristãos.
O Sínodo de Braga de 1281 condenava os clérigos e leigos que consultassem agoureiros e feiticeiros e praticassem estas magias.

Thursday, November 13, 2008

Um deserto à beira mar plantado



O primeiro-ministro, José Sócrates, vangloriou-se ontem do encerramento, nos últimos três anos, de mais de 3.000 escolas primárias com menos de 10 alunos definindo este fecho como uma das bandeiras da aposta do actual Governo na Educação.
O primeiro-ministro falava em Ponte de Lima, no decorrer da inauguração de duas escolas que permitiram o encerramento de 16 naquele concelho do Alto Minho.

O primeiro ministro contrapôs a universalização do Inglês a todos os alunos do primeiro ciclo e a aposta nas novas tecnologias, esta traduzida nos computadores "Magalhães".

Com a distribuição de mais 4.000 'Magalhães' em algumas escolas do País", José Sócrates aponta o computador como um "instrumento vital" para a aprendizagem.

Está por contabilizar os efeitos de desertificação que este fecho de escolas pode provocar quando sabemos que os pais procuram deslocar-se para perto dos locais ou freguesias que possuem escola, de modo a evitar maiores despesas, viagens longas e sacrifícios para os seus filhos.

De entro de alguns anos vamos saber, mas o que já sabemos é dos efeitos da desertificação das nossas aldeias por falta de emprego.

Para isso este Governo não tem medidas tão eficazes como a generalização do inglês e dos computadores porque cresce o número dos minhotos que segue as pisadas de Fernão de Magalhães: sai do país em procura de mundos melhores.
Há dias era notícia que a falta de emprego em Guimarães leva os filhos da terra a abandonarem o país em busca de melhores condições de vida.

Mais de metade da população de Santa Cristina de Longos, a quarta maior freguesia do concelho vimaranense, emigrou para França, Mónaco, Guiné e Angola.

Santa Cristina de Longos registou, no último censo, dois mil habitantes, sendo 1.400 eleitores. Actualmente, na freguesia não vivem mais que oitocentas pessoas.

É preciso dar mais exemplos para que quem manda neste país faça alguma coisa por aqueles que não sabem nem estão em idade de aprender a falar ingles nem mexer num computador?

A continuarmos assim, o nosso interior está condenado a ser uma reserva natural para inglês ver, sem alma, sem vida, sem tradições, sem identidade porque para quem lá vive a pátria é madrasta.

Wednesday, November 12, 2008

Braga: seminários mostram-se em Cabeceiras



O grande objectivo da Semana Nacional dos Seminários “é rezar ao senhor da Messe e semear com toda a esperança” face aos números dramáticos da redução de padres — garante o Reitor do Seminário Conciliar de S. Pedro e S. Paulo, em Braga.
A Semana dos Seminários é uma oportunidade de oração pelos seminários, porque “acreditamos que pedindo ao Senhor da Messe ele concede o dom da vocação àqueles jovens que freqüentam os seminários”.

Ao mesmo tempo, o padre Vitor Novais, apostado em transformar o Seminário num companheiro (antes, durante e depois) de cada sacerdote, refere que esta semana pretende contribuir para “cultivar esta dimensão da esperança”.
Falar dos seminários, em cada deste tempo, “é para quem acredita e reza, é tempo de ter a esperança. Pedir ao Senhor da Messe que envie os trabalhadores necessários em cada tempo para a Messe”.

Uma terceira dimensão desta semana é a sensibilização porque “no passado estiveram outros, hoje estão estes seminaristas, amanhã esperamos ter outros, sensibilizar os jovens para se abrirem a este Dom da vocação”.

A programação nacional coube aos seminários de Braga e esta semana é preenchida com uma série de actividades, a começar com uma participação no programa “Ecclesia” na RTP 2 e a continuar hoje com a celebração da Eucaristia, às 11 horas, que é transmitida pela TVI, a partir da Igreja de S. Paulo.

É o lançamento deste tema da Semana dos Seminários “Quem semeia com generosidade assim colherá”.
Na próxima sexta-feira, às 21,30 horas, realiza-se no mesmo local uma vigília aberta a toda a dioceses, contando com a colaboração das paróquias da cidade.

A Pedido do Arciprestado de Cabeceiras de Basto, escolhemos este concelho para dinamização directa na catequese para a infância, a adolescência e juventude. Esta actividade será realizada pelos seminaristas, com a colaboração dos padres formadores e também aí teremos celebração da Eucaristia com exercício dos ministérios litúrgicos pelos seminaristas que vão dar testemunho da sua vocação.

Haverá também — diz o padre Vitor Novais — a celebração de uma vigília vocacional em Refojos no próximo sábado, às 21 horas, na Igreja do Mosteiro para todo o arciprestado.

Ao longo do sábado e domingo, padres formadores e seminaristas vão estar com as comunidades de Outeiro, Cavez, Refojos, Arcos de Baúlhe, Faia, Rio douro e S. Nicolau, Santa Senhorinha e Painzela, onde “procuramos fazer essa animação vocacional”.
A pedido dos professores de Educação Moral e religiosa Católica, os Diáconos e seminaristas vão fazer sessões vocacionais no Colégio Didálvi em Barcelos, ao longo de toda a semana, aos cerca de 1400 alunos.

O grande momento será a abertura solene dos seminários para a qual foram convidados os Bispos, os párocos e as famílias dos seminaristas, no Domingo, dia 16, a partir das 18 horas. Depois da sessão solene, no Salão S. Frutuoso, há eucaristia e um jantar de convívio “para todos aqueles que participaram neste evento solene”.

A quantidade de seminaristas tem vindo a diminuir mas “nós estamos esperançados que a tendência se pode inverter nos próximos anos. Sabemos que o Senhor da Messe chama a cada tempo operários necessários para a Messe”.

A pastoral nunca pode ter a preocupação da quantidade porque ela “faz-se com pessoas onde não queremos excluir ninguém mas onde temos de lhes pedir que abracem a causa. A Pastoral trabalha para que muitos façam a experiência, muitos são os chamados e só alguns são escolhidos e penso que é bom saber o que Seminário faz para que os jovens de hoje se sintam atraídos na vivencia de uma especial consagração".

EXPOSIÇÃO DE PINTURA

Esta redução tem permitido edificar um seminário com valores muito positivos, onde é possível à equipa formadora um acompanhamento mais personalizado, um ambiente de família onde todos nos conhecemos e não um ambiente de anonimato, o desenvolvimento de relações e dinâmicas nas relações humanas que não são possíveis com grandes grupos.

Quanto os números, a nossa situação “é um desafio dramático mas comum dramatismo que não nos perturba o espírito mas nos leva a encara-lo com a renovada esperança a partir de uma nova cultura da Pastoral vocacional”.

Quanto a projectos, o Seminário Conciliar de S. Pedro e S. Paulo está a concluir a visita a todos os arciprestados da Diocese — faltam dois ou três — a sensibilizar o clero e levar a todas as famílias a inquietação vocacional junto dos seus membros.

Além do renovado jornal ”Voz da Esperança”, outras actividades são desenvolvidas na animação vocacional e no pós-seminário para que o neo-presbítero não fique desvinculado do seminário durante os primeiros dez anos, com acções de formação e reflexão.

Neste ano paulino, este projecto não esquece que o Seminário se chama de S. Pedro e S. Paulo. “É um momento de graça para a comunidade cristã e para o seminário”. Motivar a arquidiocese a rezar e sensibilizar-se pelos seminários é o objectivo da exposição de pintura da artista Ilda David. Será uma exposição ligada ao corpus paulino e a partir daí outras dinâmicas da pastoral vocacional.

Viana: desinteresse público



O concelho de Viana do Castelo fica arredado da distribuição de dezenas de milhões de euros que o QREN tem previsto para o distrito. É um caso exemplar de subjugação dos interesses públicos aos desejos incoerentes de um autarca.

O Governo já reafirmou que as únicas entidades que procederão à gestão descentralizada do quadro comunitário são as associações de municípios. Viana do Castelo excluiu-se da Comunidade Intermunicipal do Alto Minho e arrasta-se num referendo cuja pergunta foi chumbada no Tribunal Constitucional.

Desenvolvimento económico, educação, cultura, património e turismo, acção social, desporto, ambiente e saneamento básico são algumas das áreas de intervenção que as autarquias elegeram como prioritárias na candidatura ao QREN, avaliada em mais de 400 milhões de euros.

Apesar de uma posição de princípio que é válida (o voto de Viana não pode equiparar-se ao de outros concelhos, devido ao número de eleitores), o presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo está a alimentar uma posição de teimosia arrogante e incoerente que leva a sua Princesa do Lima ficar de fora da nova organização composta por nove dos dez concelhos do distrito.

Mesmo os mais indiferentes face aos destinos e ao desenvolvimento de Viana do Castelo devem ficar sinceramente preocupados com Viana, que está a isolar-se em termos políticos e a desperdiçar lugares de decisão e de diálogo privilegiado com o Governo, sem qualquer razão que o justifique.

Para avaliar da "absurdez" a posição assumida pelo socialista Defensor Moura, bastaria dizer que é a única do país a contestar a nova lei do associativismo municipal proposta pelo Governo PS.

A posição de Viana do Castelo no que respeita à nova lei do associativismo municipal é um caso único no universo nacional de 308 municípios e revela falta de humildade democrática.

Além de absurda, a posição de Defensor Moura leva a um beco sem saída quando se fala de coerência.
Porque é que o autarca socialista não aceita esta fórmula de associativismo intermunicipal quando conviveu com ela na comunidade intermunicipal do Vale do Lima, durante vários anos?

Há uma razão para isto: Defensor Moura coloca os seus caprichos pessoais acima dos interesses dos vianenses. Desta forma, assume-se como o principal responsável pela travão ao desenvolvimento e investimentos na sua terra.

Monday, November 10, 2008

Crise: e se o futuro é hoje e cruel?



A Galiza, além de ser a região mais próxima do Minho, permite-nos por força da sua vizinhança estar atentos ao que vem aí, com a crise económica e financeira que grassa pelo mundo desenvolvido.

Até agora, da Galiza têm vindo bons casamentos para milhares e milhares de trabalhadores do Minho que ali encontraram, nos últimos anos, o sustento para as suas famílias.

Mas agora, da Galiza sopram ventos que devem servir de alerta poderoso ao que nos pode vir a acontecer se não nos prepararmos para a tempestade económica que se faz sentir para lá do rio Minho.

As vendas das empresas galegas cairam mais de oito por cento nos primeiros oito meses deste ano e as vendas de tecidos, por exemplo, baixaram quase 40 por cento. Esta crise faz com que as empresas galegas – importante mercado das empresas portuguesas — tenham comprado menos sete por cento.

As quedas de produção das empresas da Galiza situam-se entre os sete e meio e os doze e meio por cento, com destaque para as empresas têxteis cuja produção baixou mais de 36 por cento.

Dada a proximidade com a Galiza, outros números nos devem inquietar de forma a prepararmos serenamente respostas para o futuro que é já hoje. Um dos índices é o crescimento das importações de tecidos chineses a uma média de três por cento.

Este crescimento — da ordem dos 200 milhões de euros contra 80 milhões em 2004 — acontece mesmo com as medidas tomadas pela União Europeia, há três anos, para evitar o desaparecimento da indústria têxtil europeia.

A indústria têxtil galega está a perder uma média de trinta milhões de euros por ano: mais 221 por cento em vestidos e quase 200 por cento em malhas.

Quanto a Portugal, reina a opacidade. Não sabemos sequer a quantas andamos. Os números estão no segredo dos deuses mas — se olharmos para os postos de trabalho já perdidos este ano — os números não devem ser diferentes.

Valham-nos os números negros da Galiza para que, aqui, no Minho, nos preparemos para o pior que está para vir. É verdade que são muitos números mas são cruéis.

Quem nos avisa, nosso amigo é. A Galiza está a sofrer mas o seu sofrimento é um aviso que devemos escutar seria e eficazmente.

Um homem prevenido vale por dois e, se de Espanha não vêm bons ventos, vem pelo menos o alerta da Galiza que nos pode ajudar a combater males maiores.

A apatia que (me) incomoda



Em 1453, durante a tomada de Constantinopla, na Turquia, as autoridades cristãs estavam reunidas num concílio. Entre os diversos assuntos das acaloradas discussões, os clérigos debatiam sobre o facto de os anjos terem ou não sexo.
O imperador foi morto durante a defesa da capital, juntamente com milhares de cristãos.

O Império Bizantino desmoronou-se e o concílio não chegou a conclusão nenhuma sobre o sexo dos anjos.

Há palavras que nos despertam da nossa preguiça mental e nos fazem pensar.

Há palavras que deviam mercer mais destaque nas primeiras páginas dos nossos jornais.

Há palavras que não deviam ficar esquecidas entre os milhões de imagens com que nos bombardeiam todos os dias.
É o caso das palavras ditas pelo Arcebispo de Braga, há uns dias atrás, numa entrevista à agência Ecclesia, e que não tiveram grande divulgação, vá-se lá saber porquê.

Talvez a explicação esteja mesmo nas suas palavras. Então que disse ele?

Dissse apenas isto: “o grande problema da sociedade portuguesa está na alergia em participar.
As pessoas habituaram-se e estão de olhos fechados. Em certas conversas e ocasiões abordam os problemas concretos, mas depois continuam com os mesmos hábitos e rotinas.

Não são capazes de participar activamente na sociedade para que o país seja diferente.
Fala-se do desemprego, do encerram
ento de empresas, dos assaltos que proliferam todos os dias, todavia ficam passivas.
A apatia sobre a realidade incomoda-me”.

Não nos cabe a tarefa de ser pessimistas nem alarmistas, mas tomar consciência dessa realidade e alertar as consciências de quem nos ouve.

Devemos fazer alguma coisa por nós. Temos de fazer alguma coisa pelos outros — esses dois milhões de herdeiros de Camões — que estão em grandes dificuldades de sobrevivência e lutam, cada dia, em vão, pela dignidade humana a que eles e os seus filhos têm direito.
Nesta hora e neste momento é urgente que os alguns partidos se concentrassem a encontrar soluções que merecemos e não a fazer um frete ao Governo distraindo-nos dos reais problemas com discussões de ‘lana caprina’ ou o sexo dos anjos.

Como Charles de Gaule, eu sei e tu sabes que “a igreja é o único lugar onde alguém fala comigo (e contigo) e não tenho (não tens) de responder.”
Vá lá, responde.
Levanta-te e faz alguma coisa.

Thursday, November 6, 2008

Alimentar-se do pão dos mortos



Malcolm Lowry no seu livro "Debaixo do vulcão" — Relógio d'Artes Editores — descreve-nos de forma ímpar uma herança cultural do México, consagrada já como Património Oral e imaterial da Humanidade.

Construídos com caixas de cartão ou madeira, decorados com folhas de papel negro e amarelo (a simbolizar a união entre vida e morte), com flores brancas e amarelas (flor dos mortos), os altares possuem quatro candeias sobre um açafate de flores aromáticas que representam os quatro pontos cardeais, uma lâmpada de incenso para purificar o ar, as abóboras (como as de Halloween) e um arco a simbolizar a entrada no mundo dos mortos, um alguidar de água fresca, uma cruz ou retrato do defunto.

No meio deste espectáculo lindo para os olhos dos vivos, estes regalam-se com os alimentos oferecidos aos defuntos que são saboreados pelos vivos, especialmente o "pão dos mortos", um pão de milho ou de trigo com formas humanas ou em forma de rosca (regueifa), adornado com açúcar vermelho (cor de sangue) e recheado de frutos secos
ou réplicas de ossos humanos.

À volta destes altares fazem-se bailes e entoam-se canções em que a visita da Catrina (a morte) é alvo de chacota e a morte — com o passar dos séculos — inspirou um ritual de festas, um carnaval de cores, odores, sabores e amores, através dos quais vivos e mortos convivem durante uns dias.

Como estão a ver, é coisa de de pouco valor ou interesse para quem só pensa em dinheiro, poder e relevância social e título académico (que inveja a quem o tem realmente) e que não olha a meios para atingir os fins, através da humilhação dos vivos.

É esta uma herança acerca dos mortos e os mortos não contam para as estatísticas apesar da hipocrisia engravatada os mandar dedicar um mês — Novembro — para terem mais um pretexto a justificar a crapulice com os vivos.

Para os mexicanos, ainda hoje, a morte não é o fim da existência humana mas um caminho de passagem para algo melhor. Por isso, no dia 2 de Novembro concede-se ao morto a licença para visitar os seres mais queridos do seu mundo terreno. Nesta tradição, o morto é o hóspede mais ilustre que se deve agasalhar e homenagear, iluminando-o com todo o tipo de atenções.

É uma festa divinal para aqueles que já tivemos entre nós, traduzida em magníficas obras da arte popular. É uma das tradições mais vivas dos mexicanos: estes altares de oferendas aos mortos podem ser apreciados em qualquer sítio, desde uma Faculdade de Filosofia a restaurantes, mercados, praças e aeroporto da capital.

Esta relação festiva com a morte só é possível quando as consciências se mostram tranquilas — conclui Malcolm Lowry.
Quando isso não acontece, tentamos esconder a morte debaixo do vulcão, com medo que os mortos apareçam a acusar-nos daquilo que fazemos aos vivos, a nosso lado, em casa, no lazer, no trabalho, na escola, na oficina e na nossa rua ou aldeia.

Hoje, neste mês de Novembro dedicado aos defuntos, seja mexicano: alimente-se com o pão dos mortos e não viva debaixo do vulcão a devorar o pão a que os vivos têm direito.

O nosso tempo pede que o vivo seja o hóspede mais ilustre que se deve agasalhar e homenagear, mimando-o com todo o tipo de atenções.

Vivamos o dia de hoje como se tivéssemos a certeza que vamos morrer amanhã pra termos direito a um altar onde a nossa imagem é inspiradora de festa e alegria e os nossos não se envergonhem de nós.

Tuesday, November 4, 2008

Grão de areia na praia da indiferença



No dia em que foi inaugurado um serviço de apoio aos surdos para facilitar tarefas simples e importantes do dia-a-dia, outra linda notícia nos chega de Fafe.

É um grão de areia na gigantesca praia da indiferença desta sociedade onde contam apenas os cifrões, mas o mundo está melhor para centenas de deficientes e suas famílias.

Trinta anos após a sua fundação, a Cooperativa de Educação e Reabilitação de Crianças Inadaptadas de Fafe (Cercifaf), assume-se como um farol da integração na sociedade de jovens com deficiência em Portugal.

Nos últimos 20 anos, a valência de formação e emprego da Cercifaf já integrou no mercado de trabalho 201 jovens que hoje pertencem à faixa da população activa do país.

Este número é significativo já que representa 77% do total de pessoas que passaram por este centro de formação, muito acima da média nacional de 21%.

Todo este trabalho é impossível se não contar com a colaboração das empresas e essa é a outra boa notícia. Em Fafe, mais 18 empresários foram galardoados pela Cercifaf por colaborarem na integração de jovens deficientes.
Esta dúzia e meia de empresas junta-se aos mais de 80 que aproveitaram o esforço da Cercifaf e têm acolhido jovens deficientes nas suas fábricas.

Quanto aos outros empresários que podem e duvidam da mais valia, fica o testemunho de uma das empresárias de Fafe. Fernanda Fidalgo, destacou "o bom desempenho profissional, excelente pontualidade e assiduidade" e "interesse em contribuir com ideias para o melhor funcionamento da empresa".

Por isso, aqueles que ainda não acreditam nas faculdades destes seres humanos especiais, não sabem o que estão a perder, quanto mais não seja, cumprirem a dimensão social, para além de se apresentarem à comunidade com uma imagem de carinho, compreensão, tolerância e solidariedade.

Aqueles empresários que ainda não acreditam na mais valia destes seres humanos especiais continuam a perder uma excelente oportunidade dar um pequeno contributo às instituições cujos dirigentes tudo dão de si para que as crianças e jovens com deficiência possam encontrar as melhores condições para viverem a esperança de um projecto de vida a que têm direito.

Aqueles empresários que ainda não acreditam na riqueza destes seres humanos especiais estão a deitar pela janela fora a especial oportunidade do exercício da cidadania, do respeito pelos inalienáveis direitos à não discriminação, à igualdade de oportunidades no acesso à educação, à formação profissional, ao emprego, à habitação ao desporto e lazer.

S. Geraldo: 900 anos após a sua morte (5)

Assinalámos na última crónica que, apesar das pressões, a comunidade moçárabe resistiu e sobreviveu religiosa, linguística e culturalmente em todo o Norte de Portugal.

É que por trás da aparente serenidade com que aceitaram a humilhação invasora, despejados na periferia das cidades e nos campos, os moçárabes alimentaram pacientemente, ao longo de gerações, o anseio de libertação e levantavam-se em armas sempre que as conjunturas políticas permitiam.

Os custos de ordem religiosa e social foram pesados mas os prejuízos económicos não ficam atrás: obrigados a trabalhar nas suas antigas terras, mas em proveito dos novos donos, ainda tinham de pagar pesados impostos. Havia um imposto que devia ser pago por cada cristão ao fim de cada mês lunar (Jízia) para lhes garantir a liberdade religiosa. Até o seu pagamento era um ritual de humilhação: o cristão era agarrado pelo pescoço e o funcionário muçulmano gritava “o inimigo de Allá paga a jízia”.

A este imposto acresciam outros fixados pelos romanos de que os árabes mantiveram, como o Caraje, um imposto de 20% sobre os rendimentos.

No que se refere à liberdade religiosa, aos cristãos da Galécia e Norte de Espanha, o pacto impedia as cruzes nas igrejas, o toque dos sinos, rezar em voz alta mesmo nos funerais e os defuntos cristãos tinham de ser sepultados de cara tapada.

Mercê destas limitações, os bispos de Braga tiveram de se refugiar nas Astúrias até á reconquista por Fernando Magno. Os mosteiros foram arrasados e só no começo do século IX se revitalizaram em alguns locais, como Guimarães, Vairão, Lorvão, entre outros.

Uma das mais importantes manifestações da vitalidade religiosa dos moçárabes foi o culto dos santos de origem local, apesar de não poderem construir novos templos dentro das cidades, especialmente no território que viria ser Portugal.

Braga possui um exemplo emblemático desse culto, com a capela de S. Frutuoso, um dos poucos templos moçárabes do país, construído no século VI e reconstruído quatro séculos depois. Os Lisboetas concentraram-se em S. Vicente.

Se é verdade que a conquista da Península Ibérica pelos muçulmanos estancou a florescente cultura cristã implantada (numa confluência da cultura romana com a suévica e visigótica) caldeadas pela mensagem cristã, a islamização só acontece no IX e não chega a convencer o Norte da Península.

A arabização coincide com os primeiros passos da reconquista, de modo que a língua e cultura moçárabes mantiveram sempre ligações directas ao Latim, de tal forma que hoje ninguém duvida que os moçárabes detinham uma cultura mais elevada que os invasores.

A Reconquista surge como movimento de sobrevivência de uma cultura quando se apertava a islamização. Na arrancada militar, Afonso I (das Astúrias e Leão) arrasou o território que separava o rio Douro do rio Minho, como espaço barreira contra os muçulmanos. No século IX, a Galiza ficava dividida em duas zonas: a Galiza e Portucale. Portucale assume maior protagonismo no início do século X.

Apesar da islamização empreendida por Abderramão II (822-853), os mosteiros e as suas escolas foram as melhores cidadelas da cultura cristã, onde eram ensinadas as ciências, as artes liberais e a teologia.

No processo da Reconquista, foram os moçárabes quem estabeleceu laços étnicos, culturais e religiosos dos novos reinos com o passado romano-visigótico comum, com alguns matizes islâmicos.

A intolerância islâmica cresceu no século X, com os almorávidas e os mosteiros do Sul de Portugal começam a fechar, refugiando-se os monges no Norte cristão.

Começava o repovoamento das cidades como Braga, Viseu e Porto, quando D. Afonso VI entrega este território entre Douro e Minho ao Conde D. Henrique, no século XI, quando S. Geraldo chega a Braga, oriundo do Sul de França.

Saturday, October 25, 2008

S. Geraldo: 900 anos após a sua morte (4)

Terminávamos a última crónica a falar da heresia do origenismo que terá chegado à Galécia pelas mãos de um peregrino de Braga, Avito, após uma viagem à Terra Santa, como escreve o historiador bracarense Paulo Orósio na sua obra dedicada a Santo Agostinho, Commonitorum, onde fala não só os priscilianistas e dos origenistas, bem como do pelagianismo.

Aliás, estas tendências religiosas da gnose e misticismo vão atravessar os séculos de presença dos árabes na Península Ibérica, como foi o caso do século VIII em que surge uma corrente religiosa anti-trindade, como foi a inspirada por Migécio para quem a Trindade era constituída assim: o Pai, David; o filho, era Jesus Cristo; e o Espírito Santo, era S. Paulo.

Depois surge o adopcionismo, segundo o qual Jesus Cristo era apenas Filho adoptivo de Deus, e filho de Maria.
É neste contexto de fragilidade que chegam os muçulmanos e começa a ficar completo o retrato da região que S. Geraldo vai encontrar quando chega a Braga.

A invasão e conquista muçulmanas da Península Ibérica foram fulminantes. A rapidez das operações (menos de cinco anos) deixou atónitos os hispano-romanos e os visigodos desorientados e quase paralisados. Apenas escaparam ao controlo dos berberes-árabes umas franjas dos Picos da Europa, nas Astúrias (onde se refugiaram os bispos de Braga), e a envolvente dos Pirinéus.

Esta conquista deve-se ao dinamismo religioso da Jihad mas só um apoio muito comprometido de forças no seio da comunidade ibérica romana e visigoda pode ajudar a compreender um colapso tão estrondoso como rápido.

Entre essas causas, os historiadores destacam o “exagerado compromisso entre a Igreja e o poder político que tornou cada um solidário das fraquezas do outro” levando a que eclesiásticos e nobres se colocassem ao lado dos invasosres.

A débil implantação do cristianismo facilitou a adesão dos nativos à nova religião também ela monoteísta e do Livro, acrescendo ainda o descontentamento generalizado do povo vergado pelo peso de impostos. Quem o castigasse menos era bem vindo. Depois, havia uma terceira força acorrentada ao longo de séculos por medidas adversas que ansiava pela libertação. Estamos a falar dos judeus a que se aliaram os escravos e servos, após os nobres debandarem em fuga deixando as cidades sem estruturas organizativas capazes de oferecer resistência aos invasosres.

Pelos anos 741 em diante, os estratos mais baixos da população, explorados pela dominação romana e visigótica, adaptaram-se depressa à nova situação.

Assim se compreende que trinta mil invasores — ou 200 mil, na hipótese mmais exagerada — tivessem tomado de assalto um imenso território com população muito superior.

Os conquistadores não impunham o islamismo aos povos que consideravam detentores da revelação divina (gentes do livro ou Ahl al-Kitáb). Assim, os judeus e cristãos podiam continuar a sua prática e crença religiosas, mediante alguns condições.
A população hispânica divide-se então em três grandes grupos.

De um lado, temos os que aceitam converter-se ao islamismo, proposto antes do ataque, permitindo-lhes ter acesso a altos cargos do poder. O segundo grupo era constituído pelos cristãos que não aceitam o convite da conversão a Maomé. Foram submetidos pela força mas puderam continuar a cuidar das terras como arrendatários, na contingência de serem expulsos.

O terceiro grupo é constituído pelos que negociaram a liberdade, sujeitando-se à dominação islâmica, com certa autonomia religiosa e jurídica. Foi o que aconteceu a Norte, em grande parte.

São os chamados moçárabes, tantas vezes vítimas de humilhação por causa dos pactos celebrados. Os cristãos não podiam andar a cavalo, por exemplo, só podiam andar de burro ou mula, com os dois pés pendentes para o mesmo lado do animal. Não podiam usar espada nem fabricar ou usar armas, para além de terem de acolher nas suas igrejas os viajantes muçulmanos.

Saturday, October 18, 2008

Braga: fazer obras é prioridade gasta




Desde o ano lectivo 2006 até agora, já encerraram no concelho de Braga oito escolas do 1.º ciclo do ensino básico. O jornal Correio do Minho, através da jornalista Paula Maia, está a mostrar-nos como estão a ser aproveitadas as estruturas destes estabelecimentos de ensino, alguns sujeitos a obras de intervenção pouco antes de encerrarem portas.

No que se refere à escola de Macada, em Vimieiro, já está decidido que acolhe o Grupo Folclórico. Foi uma das primeiras escolas do concelho de Braga a encerrar por falta de alunos, após ter sofrido obras de requalificação.

A Escola da Bela Vista, em S. Pedro d’Este, encerrada no passado ano lectivo, será destinada para fins sociais.
Composta por duas salas de aula, refeitório e uma sala que outrora serviu de mediateca, também sofreu avultadas obras em 2005 que a dotara de “muito boas condições”.

Também a Escola dos Pardieiros, em Penso S. Estêvão, foi uma das primeiras escolas a encerrar em Braga, após requalificação que custou 125 mil euros. Agora vai gastar-se mais dinheiro para adaptar a antiga escola a Centro de Dia.
Estamos perante consequências de dois factos negativos: o primeiro consiste na falta de alunos tem ditado o encerramento de escolas no 1.º ciclo do ensino básico em todo o país.

O segundo facto negativo é a comprovada falta de planeamento dos investimentos: gastaram-se várias centenas de milhares de euros em obras que permitiram a construção de refeitórios, cozinhas, espaços desportivos para fechar um ou dois anos depois, quando a tendência de alunos evidenciava a sua vertiginosa queda.

Depois de tantos colóquios, de tantos alertas antes de começarem os mandatos nos programas eleitorais, os nossos autarcas continuam a dar prioridade a obras, quando lhes pediram para dar prioridade às pessoas.

As necessidades de recreio, de cultura, de desporto, de lazer, de apoio solidário dependem de obras mas satisfazem-se sobretudo quando os autarcas perceberem a necessidade de congregar vontades, dinamizar associações e mobilizar os cidadãos.

É um trabalho mais difícil que dar trabalho aos empreiteiros? É, mas é mais rentável para a qualidade de vida das pessoas.
Investir em obras nas escolas condenadas a fechar pode ter sido o primeiro passo da sua condenação política se não ressuscitarem novos modelos de intervenção pública que dêem vida aos recintos culturais, desportivos e equipamentos de lazer, quanto deles fechados, inactivos e abandonados.

Tantas vezes alertamos para este mofo que invade centros culturais, para ervas e arbustos em campos de futebol e piscinas e polivalentes sem actividade.

É urgente instituir outras "comissões" que dinamizem actividades para a comunidade. Só se fará se abandonarmos a prioridade às comissões de obras. Ainda estão a tempo de recuperar estes anos de espera de modo a evitar mais uma oportunidade perdida.

Manuel Valença: bracarense, missionário e notável compositor



Hoje, 19 de Outubro, a Igreja Católica celebra o Dia Mundial das Missões, uma data ímpar da igreja portuguesa e bracarense que possui entre os seus crentes alguns dos mais notáveis missionários. Um deles é o padre Manuel Valença, nascido em S. Vítor há 92 anos.

Filho de comerciante e uma artesã de bordados, na Senhora-a-Branca, em Braga, Manuel Valença é um compositor com centenas de peças musicais para coro, orquestra aclamadas um pouco por todo o mundo (especialmente África e América do Norte) e simples cânticos que o nosso povo entoa nas suas festas sem saber quem é o autor.

Nascido em1917, foi baptizado na igreja de S. Vítor, fez a escola primária poucos anos porque o pai “me ensinou quase tudo antes de ir para a escola primária, No primeiro dia estive a ser interrogado pela professora e no dia seguinte fui para a terceira classe porque estava preparado para isso. Em seguida, o meu padrinho, que era franciscano e era o síndico desta Casa de Montariol, sugeriu que eu viesse para aqui.. Era para ir para Espanha, onde tínhamos um colégio, em Tuy, mas nesse ano mudamos para aqui. As aulas começaram mais tarde, porque este edifício não existia. Nós vivíamos na Igreja que tinha sido uma cavalariça das tropas que se estabeleceram aqui. Iamos comer lá abaixo a outra casa onde está um a tipografia. Fazíamos isto duas vezes por dia. Estudávamos no coro e tínhamos ali as aulas. Os professores eram muito competentes e amigos. Quando entramos éramos 50 mas doze anos , após a Filosofia e a Teologia, depois ficamos doze. Os outros abandonaram, cada um com as suas razões".


Depois, o nosso anfitrião, que nos recebe na esplendorosa biblioteca de Montariol, vai para Espanha, onde estuda durante três anos em que o país vizinho vivia em Guerra Civil. Eram tempos de enorme dificuldade: “alguém vinha a Portugal buscar alimentos para nós sobrevivermos no outro lado e sustentar o colégio de S. António de Tuy” — recorda o padre Manuel Valença.
Quanto à música, o padre Manuel Valença teve um bom professor de piano até aos dez nos, “depois estudei por mim, todos os dias, enquanto os meus colegas brincavam, os exercícios do Czerny, etc”.

Depois de concluída a licenciatura de Teologia em Varatojo, esteve no Porto, durante um ano, e “fui chamado pra ensinar em Montariol. Comecei ensinar literatura e quando o professor de inglês saiu comecei a dar lições de inglês durante sete anos. Isso preparou-me para o resto da vida. Quando fui para as missões, 16 anos depois, veio a independência de Moçambique e resolvi sair para a África do Sul onde estive três anos. Em Pretória havia musicologias na Universidade e recebi grau de doutor. O inglês ajudou-me muito".

A MÚSICA
COMO INSTRUMENTO
DE EVANGELIZAÇÃO

Sobre a sua ida para Moçambique, onde esteve 16 anos em missão, perto de Maputo, Polana, Manuel Valença foi substituir um colega que passou para outro colégio. Esteve 16 anos a ensinar no Colégio António Enes e dedicava-se à evangelização através... da música. “Elevar a cultura das pessoas. Começamos com concertos de órgão, depois criamos um grupo coral aberto a todos e ainda agora estive a ouvir uma gravação dos primeiros concertos. Isso deu brado e começamos a ter uma orquestra do Rádio Clube. Fizemos concertos de Haendel para orquestra e órgão com mais de três mil pessoas as assistir.”

Construída uma Igreja e um fantástico centro pastoral, chega a independência e o regime não via com bons olhos a presença da Igreja Católica. O padre Manuel Valença opta por seguir para África do Sul, dando um concerto numa igreja protestante de Joanesburgo e na Catedral Católica, por três vezes. "Fui convidado para dar aulas na British University com lições sobre a música portuguesa, especialmente o cravista Carlos Seixas. Orquestrei umas peças de Carlos Seixas e esse concerto foi realizado na Universidade de Joanesburgo, com enorme sucesso registado nos jornais".

A música, em Lourenço Marques, atraiu muitas crianças e atrás delas os pais e milhares de pessoas. “O primeiro concerto que nós fizemos, tinha três mil pessoas. É uma coisa tremenda a força da música” — lembra.

Quanto ao seu talento musical, Manuel Valença explica: “a minha mãe cantava e ensinou-me a cantar. Tinha bom ouvido. Aqui, um professor pôs-me a tocar uma peça a quatro mãos com um colega... saí-me bem. Tudo começou por aí, depois estudei nos conservatórios de Porto e Lisboa" (oito anos).

Uma das suas centenas de obras que não esquece... é a “Missa Totta Pulchra, para coro a 3 vozes e orquestra. Foi cantada no Rádio Clube de Lourenço Marques por uma escola de africanos que estudavam para professores das missões. Fui ensaiá-los e apresentamos essa obra e ainda a tenho gravada”.

Infelizmente, Manuel Valença tem poucos registos das suas obras musicais e o que existe está em fita magnética ou vinil.
Johan Sebastião Bach — porque “há músicas que nos tocam mais”, adverte —, Chopin, Mendelssohn e Beethoven são os seus compositores preferidos.

Quando lhe perguntamos pelas suas obras — ele não sabe quantas são — a mais importante foi “uma composição sobre temas do Carlos Seixas para quarteto de cordas e orquestra de câmara”.
No Verão, procura passar férias nos Estados Unidos, aproveitando para maravilhar os americanos com os seus concertos ao ar livre e em igrejas.

Saturday, October 11, 2008

Polícias aos papéis ou polícias de papel...

Depois de várias denúncias, os assaltos a gasóleo prosseguem aos camiões estacionados em sítios de grande visibilidade e no centro urbano bracarense.

Muitos camionistas e proprietários de frotas estão indignados com a ineficácia das forças de segurança e torna-se inexplicável para o cidadão comum que estas situações se eternizem.

Ninguém entende que em locais tão próximos do centro da cidade, como seja o parque de estacionamento de camiões unto aos quartel dos sapadores Bombeiros de Braga, em S. Vicente ou em Lamaçães, se repitam estes atentados aos bem alheio.

Não estamos a falar de lugares recônditos e pouco populosos nem de operações que demoram um ou dois minutos a concretizar. Não se esvazia um depósito com centenas de litros de gasóleo em dois minutos.
Os bracarenses não podem ficar sossegados quando a PSP, através do seu comando, se limita a reconhecer a sua incapacidade face às queixas que lhes são apresentadas pelos lesados.

Dizer aos queixosos — como dava conta um deles ontem na rádio de Braga Antena Minho — que não tem meios é uma resposta que não satisfaz o cidadão comum que é confrontado tantas vezes com meios a mais para outras tarefas mais rentáveis para os cofres do Estado.

É daquelas respostas que não se podem dar e melhor seria que estivessem calados e procurassem distribuir melhor os meios que têm pelas missões prioritárias para que foram criadas as forças de segurança.

Cresce a sensação nos portugueses e nos bracarenses que quando mais elementos entram para as forças da autoridade, menos qualidade tem esse bem precioso que é a segurança de pessoas e bens.

E que dizer dos locais que se tornaram mercado de receptação e venda destes bens roubados, sem que haja qualquer visita de surpresa por parte das forças policiais.

Os cidadãos merecem que os comandantes das forças de segurança não sejam os promotores do sentimento de insegurança. A promoção da insegurança começa quando se justificam com a falta de meios. Digam isso a quem já foi assaltado ou vítima de furto e percebam a reacção das pessoas.

Para quem teve esse azar é evidente que há papéis a mais, perda de tempo para nada e pouca acção ou presença a menos. Melhor seria perder menos tempo com papéis que nos fazem perder tempo e não nos devolvem o que nos roubaram.

Não permitam aos bracarenses que eles venham a pensar que as polícias só preenchem papéis inúteis e os polícias só são eficazes como caçadores de multas.