Thursday, November 22, 2007

Oficina da Poesia: para que serve em tempos de penúria?


Mais de 130 poetas e artistas plásticos (de Portugal e do mundo) procuram dar resposta à pergunta — “para que servem poetas/em tempos de penúria? — formulada pela poetisa Adília Lopes na abertura da revista “Oficina da Poesia” que assinala dez anos de existência.

Editada teimosa e carinhosamente pela Palimage — A Imagem e a Palavra, “Oficina da Poesia” está na segunda série e apresenta-nos agora um fascículo duplo para assinalar uma década, sob direcção de Graça Capinha, coajuvada por Jorge Fragoso, “alma mater” da editora viseense, com delegação em Braga.

Apoiada pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, através do seu Conselho Directivo, e pelo Centro de Estudos Sociais da mesma escola, “Oficina da Poesia” mantém-se fiel à matriz fundadora de “revista da palavra e da imagem” que aloja “muitas dezenas de jovens poetas, muitas leituras e muitos exercícios de escrita muito poéticas, muitas discussões tremendas, muitas noites que (nos?) tiravam o sono” ¬— lembra a Directora no seu editorial.

Dez anos depois, “sobrevivemos — prossegue Graça Capinha. E fortes laços de respeito e amizade foram criando raiz, assumindo a sua transindividualidade poética e/ou discursiva. Alguns/mas poetas daquela primeira ‘turma’ ainda hoje participam no seminário semanal. Outros/as a viver longe mantêm contacto e ainda enviam material para publicação como acontece neste número especial”.

“Oficina da Poesia” começou por ser uma revista annual, passou a semestral e é “culpada” do lançamento de vários primeiros livros e à sua sombra — ou à luz deste candelabro que alumia todos os que estão em casa?— se estimularam várias participações em outras revistas e antologias de poesia nacionais e internacionais, prémios literários nacionais e internacionais.

Se ainda não se respondeu à pergunta inicial, manda a verdade escrever que “Oficina da Poesia” se assume como uma “militante intervenção poética na comunidade através de leituras públicas e acções de rua” e os que nela participaram já perceberam para que servem os poetas em tempos de penúria.

É que a poesia “só tem sentidos na comunidade, no meio do ruído imenso produzido pelo embate semore violento entre os vários poderes dos vários discurso presentes na sociedade e na história”.

Sendo assim entendida, a poesia “serve o que não é”, na sua radicalidade “social e política” constitui um momento (ou tantos momentos) de procura (de tantos encontros) do infinito, entendido como “dádiva generosa” que não espera o retorno do “muito obrigado”.

A poesia só se agradece com muitos poemas e é isso que explica que a editora Palimage, com a mesma idade da Oficina, teime em manter este filho primogénito, “pedra sobre pedra”.

Ou, como escreve Alfredo Pérez Alencart, porque Jorge Fragoso pode confortar-se dizendo “tengo llave de la casa ancestral/y mapas de la tierra prometida”, essa terra em que “la clave del secreto es un salmo/que lava las heridas del éxodo”.

A edição deste fascículo duplo — 200 páginas de textos e imagens — de “Oficina da Poesia” é a melhor garantia de que “não porá fim à vida,/em legítima defesa”.

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