Thursday, November 22, 2007

Antónia Lage: 30 anos ao serviço da beleza feminina



“Não sei desenhar mas sei criar”: é assim que se apresenta. Ela orgulha-se das suas inúmeras clientes, mas ao fim de duas horas de animada conversa, estas bem se podem derreter de vaidade por terem escolhido Antónia Laje como conselheira de bem vestir. Até o jornalista que escreve estas humildes linhas recebeu umas valiosas instruções para a sua ‘toillete’, sem estar à espera...

É assim a Antónia Lage, desprendida, disponível mas com um bom gosto sofisticado que encaixa perfeitamente na actualidade das tendências da moda, apesar de andar nestas idas e vindas ao “coração da moda que é Paris” há mais de trinta anos.
Olhar para o cabelo, o tom de pele, o corpo e sua estatura, descortinar a personalidade da mulher e saber o que ela era capaz de vestir constituem os talentos de Antónia Lage, na sua relação com as clientes.

Depois, há que escolher peças com movimento para fluir a feminilidade, com tecidos muitos bons e caros. Depois, acrescenta, “pego no morto, um manequim, e mostro à cliente para ver se é isso que ela deseja. Após sucessivas provas e sugestões minhas e da cliente, porque os pormenores são essenciais”, a alegria contagia cliente e estilista.

“Gostava muito da moda, mas a sua juventude foi vivida como funcionária bancária, no Banco de Fomento em Paris. Era e é o centro da moda, da criação, nos anos 70. Os estilistas e criadores de Paris eram muito ricos em tudo” – recorda António Lage.
Nota-se no olhar uma certa nostalgia daqueles tempos: “ a moda era tudo para ela, quando se tratava de gastar dinheiro...”

Esta filha do antigo presidente da Junta de Freguesia de S. Lázaro, Antónia Lage, regressou de Paris há 32 anos. Ao chegar a Braga, onde nasceu e viveu a sua adolescência, “comecei logo a trabalhar na moda e vendia para Lojas em Braga e no Porto, sempre as melhores “griffes” de Paris. Ainda me ofereceram trabalho num banco em Braga, logo a seguir ao 25 de Abril, mas eu recusei porque pagavam muito pouco” – recorda a nossa interlocutora que nos recebe no seu atelier, na Travessa Machado Vilela, onde se instalou há 30 anos, bem perto da loja que possui no Centro Comercial Santa Tecla.

Antes de Paris, estudou em Londres e “já então gostava imenso de moda e todos os tostões que juntava eram para roupa”. “Sempre aceitei a moda na sua irreverência” – destaca, de imediato, dando a conhecer um pouco da sua personalidade.
Hoje, diz-nos, considera que estes trinta anos de sucesso se “cosem” com uma fidelização de clientes que é notável “porque começaram por ser as avós, vieram as filhas e hoje são as netas que são minhas clientes”.

“Também escolho para elas como se escolhesse para mim, pois sei do que elas gostam e do que lhes fica bem. Sabe que numa colecção há sempre cinco tendências, mas nós escolhemos aquelas que se adaptam melhor à mulher portuguesa” – acrescenta Antónia Laje ao tentar explicar-nos tão grande fidelidade das suas clientes. Mas, acima de tudo, “a honestidade e seriedade com as clientes é o nosso maior trunfo. O meu sucesso depende disso”.

Assim, prossegue, “neste momento só trabalhamos com marcas italianas de alta-costura, ou directamente ou através dos importadores. São dezassete marcas que disponibilizamos de roupa de senhora. Já tivemos de homem mas deixamos esse segmento”.

Antónia Lage compra um ano antes, por isso ela já não se lembrava bem das tendências da moda para este Outono e Inverno, porque já está a pensar – “com muita ansiedade” – nas compras para o Outono de 2008.

Instada a definir a sua clientela, Antónia Lage escolhe duas palavras “requintada e de gosto afinado”. Neste momento da conversa, entra a herdeira do atelier e da actividade, a filha Alexandra, que define as clientes como oriundas de um “estatuto social elevado com simplicidade”.

Antónia Lage recebe as suas clientes por marcação, com atendimento personalizado onde elas se sentem à vontade para escolher os tamanhos, cores e estilos. Tudo o que está exposto é uma escolha própria da estilistas mas “as clientes também nos ensinam muito”,

Associada hoje a uma “toillete” que “é sinónimo de qualidade”, Antónia Lage define-se como “perfeccionista” que oferece a quem a procura um serviço de qualidade e preço equivalente. Não olhar para o preço foi sempre o meu lema. Nunca tive medo dos preços. É muito raro equacionar o binómio preço/qualidade. Eu olho para o interior das peças, percebo muito de tecidos, de corte e depois explico à cliente a dificuldade de corte e a qualidade da peça”.

O segredo do seu sucesso, explica Antónia Lage, é, em primeiro lugar, a exigência nas compras: “se comprarmos mal, não vendemos bem. Temos de comprar quase sempre cem peças de cada colecção”.

Em segundo lugar, o segredo assenta “na vertente criativa. Conseguir perceber o que a pessoa quer, ou mostrar-lhe o que a cliente quer, porque já a conhecemos”.
Com “clientes de todo o país, desde o Minho ao Algarve, passando por Lisboa”, esta senhora que não sabe desenhar mas sabe criar conta com o apoio de três costureiras com uma categoria que “é muito difícil encontrar no mercado”.

Sobre o futuro, diz-nos que vai manter o seu actual atelier muito falado recentemente por ali ter sido confeccionado um vestido de noiva, qual “deusa grega”, de Isabel Figueiras. No entanto, o seu sonho era “algo para cortar e criar, moldar”.

TENDÊNCIAS
DESTE ANO

Para este ano, as linhas dominantes das tendências da moda andam à volta das jóias, carteira, meias, sapatos e cabelos (muito curtos ou compridos).

Das suas quatro viagens ao estrangeiro, em cada ano, percebe que os acessórios são o elemento distintivo deste Outono e Inverno, mas, cuidado, “porque os acessórios mal escolhidos matam um vestido perfeito”.

Os acessórios, “as peles, muito luxo, moda muito feminina, muito pormenor, mangas e vestidos com balão” constituem algumas das características da moda para a estação que começou, aqui e ali ponteada com elementos tradicionais da Índia e da China.

No que se refere a cores, o eterno preto e o branco, são acompanhados este ano de muito cinza e de púrpura (que é muito forte em todas as tendências” porque o “vermelho do Valentino já desapareceu do mercado”.

Antónia Lage adverte as mulheres que “nem sempre as tendências da moda são as mais elegantes”, antes de dar conta do predomínio dos botins até ao tornozelo”. Este botim surge por causa da calça ‘cigarrete’ “para dar uma silhueta muito interessante e elegante à mulher”. O botim também fica muito bem com saia e as “meias baças são quase obrigatórias”. Em alternativa, há o “sapato de cordão e salto altíssimo” e os jeans que nunca saem de moda. São como o preto eterno, os leopardos e animais “que ninguém tira do guarda-vestidos”.

Outra imagem forte da moda deste ano, além é a carteira: “é fundamental e este ano é o hit” num conjunto em que “foram buscar elementos de vários quadrantes com peças mais ricas e muito femininas”.
É o caso do casaco de malha acima do joelho ou a luva que este ano também é muito importante, para além dos “ombros largos para afinar o resto da silhueta”.

No que se refere às jóias, “o ouro volta a destacar-se e os próximos cinco anos vão ser de muito luxo”.

A nossa interlocutora desfaz também alguns mitos, quando afirma que “a moda nunca foi sexy porque quando aposta num decote grande tapa as pernas, por exemplo”.

Antónia Lage destaca também que “as portuguesas entram muito depressa na moda. A mulher portuguesa, em geral, veste-se melhor que a mulher lá fora. A mulher portuguesa é muito limpa, muito clean”.

Esta postura encaixa num “Inverno sofisticado que se adivinha para o próximo ano. É que de todas as épocas, a moda de 2008 tirou tudo os que as mulheres mais gostam de vestir, com tecidos elásticos. Será uma moda cara mas muito bonita e simples”.
Quanto ao próximo Verão, adianta Antónia Lage, “vai tudo andar de preto, aqui e além com uma pela vermelha e as cores brilham nos acessórios”.

No pret-à-porter, o vinil (verniz), apesar de ser um tecido pouco nobre porque não deixa respirar, será muito forte, além de muitas caxemiras.

Antónia Lage descreve 2008 como um ano “de tecidos muito nobres, das rendas, dos dourados, dos vestidos com malha de seda e algodão, das peles, cabelos muito curtos ou compridos, com chapéus, boinas, gorros, bonés com palas pequeninas e luvas.

“Elegância e luxo marcam o futuro da moda nos próximos cinco anos. Coisas boas é o que as mulheres querem e a moda vai corresponder-lhes”, conclui a senhora que mantém uma loja há 15 anos, com peças de roupa exclusiva para Braga.

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