Saturday, March 24, 2007

Um candelabro do humanismo

Morreu na semana passada em Coimbra o Prof. Doutor Miguel Baptista Pereira, sacerdote de Braga, distanciado há longuíssimos anos das suas terras de origem.
O acontecimento — como a sua vida distante dos salões — passou despercebido mas a envergadura deste homem de Igreja não merece este limbo informativo.

Quem o conheceu sabe do seu distanciamento de faustos sociais, sobre os quais ironizava em aberto desrespeito…
Nunca pôde aceitar a troca da investigação e do magistério por salões e mundanismos. Não foram poucos os que não compreenderam o seu afastamento de mesas redondas, congressos, e das reuniões de estirpe, onde há mais lazer que saber partilhado.

A sua preferência pela vida intelectual, a que sempre se devotou, e de que é voz o mundo de escritos legado, não se coadunava, com o que avaliava ser o desrespeito pelo “santuário” do pensar — como acetuava D. Januário Torgal em artigo publicado na agencia Ecclesia e do qual respigamos alguns apontamentos.

A articulação do pendor aristotélico-tomista com as reflexões de correntes contemporâneas; a interpretação de autores, de convicção cristã e da maior nomeada, que trilhavam essa mesma refundação; a abertura a temáticas da maior oportunidade (como fundamentalismo e religiões monoteístas, ecologia, cibernética, ciências do homem, linguística, questões do ambiente, etc) em confronto com a meditação filosófica; as visões do pensamento grego; a secularização e o iluminismo, etc., mereceram-lhe sempre, à luz do pensamento alemão, que tanto o marcou, o mais constante interesse e respeito.

Um dia nascerão teses de doutoramento deste chão a pisar, esperando-se a publicação integral da sua obra pela Fundação Calouste Gulbenkian, da qual era cooperador.

Nesta altura, em que se discute (e decide…) em Portugal a “sobrevivência” da Filosofia, parece irónico deixar-se morrer quem dela foi inspirador, pela coragem e liberdade, longe de mimetismos livrescos e de argumentos de autoridade.

Ele não se esgotou nas bibliotecas porque era um padre e investigador atento ao homem concreto, à vida e à sociedade; foi sempre “um combatente pela liberdade, de pensamento e de acção”.

Quem se bate pela Luz, pela Luz é iluminado mesmo que muitos o queiram esconder para que não sejam iluminadas as suas infuciências!

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