Thursday, February 15, 2007

Pedro II, o testamento do Juiz Alberto Campinho




“Pedro II, o último Papa” é talvez a última obra escrita ppelo Juiz Desembargador Alberto Campinho, a não ser que os seus herdeiros nos venham a deliciar com a edição de alguns manuscritos deixados por este antigo colaborador do Correio do Minho.

Corajoso e desassombrado, com a violência bíblica que é justificada aos pobres do Reino, Alberto Campinho dedica esta obra a João Paulo I, o Papa do sorriso que governou a Igreja Católica durante escassas semanas e morreu em circunstâncias que não abonam em favor da credibilidade da Sé de Pedro.

“E nele, a todos quantos tombaram na luta por um ideal — ver o “rosto de Cristo”” como O viram os cristãos das primeiras comunidades dos três primeiros séculos do cristianismo (uma κοινωνια) uma comunhão de pessoas que vivem neste mundo, mas como fermento... que se difunde para levedar a massa...

Para Alberto Campinho, esta κοινωνια era fiel ao “espírito do Amor, onde ninguém chama seu ao que lhe pertence, porque tudo é de todos” para transformar “o mundo das pessoas que não amam” sem recorrer a “dogmatismos, fundamentalismos, códigos nem anátemas”.

Este livro constitui uma portentosa apologia do Amor, como o “do samaritano que vai ao encontro do tombado na berma, que opta voluntariamente por se colocar na sua rota, sem indagar da sua identidade, raça, sexo, posição social ou convicções religiosas — libertação total de toda a miséria humana”.

Este espectacular regresso de Alberto Campinho às origens do Cristianismo — com toda a fundamentação cultural, histórica e humanística de que ele tantas provas de competência e eloquência nos ofereceu nas páginas do Correio do Minho e nos seus livros — corporiza-se numa deliciosa ficção, cientificamente contextualizada.

Alberto Campinho começa por nos falar de “Pedro do Rio, cardeal brasileiro, que é aclamado como o novo Papa depois de várias tentativas frustradas em conclave. Surpreendentemente, escolhe o nome de Pedro II. Porque na linha directa de Pedro I, Pedro II vai terminar com todos os negócios obscuros do Vaticano, devolvendo-o à maior pureza. Ninguém acredita que isto possa acontecer, excepto Alberto Campinho, autor do livro e os seus leitores, no fim das 216 páginas e do enredo dos sete — tinham de ser sete — capítulos que encerram com uma nova visão do mundo, depois deste enorme sonho.

É um sonho em que leitor é levado pela pena do autor a confrontar-se com uma severa condenação dos poderes que dominam o Ocidente, especialmente os do Norte, sim, os dos Descobrimentos, esses que “tinham força e engenho, mas tinham também o espírito das trevas que os fizeram predadores dos povos do Sul. Levaram tudo”.

De tal modo assim foi que os “anawim” — os simples — eram “objecto de desprezo e continuamente espezinhados pelas botas cardadas dos apalhaçados generais que os do Norte lá colocavam com os seus capatazes”.
Confrontando a verdade da autoridade com a autoridade da Verdade, o autor provoca um dialogo entre Pedro I, o primeiro Papa, e o seu homônimo II, passando em revista todos os erros cometidos pela Igreja ou as patranhas abençoadas por Ela, bem como a sua própria hilariante eleição.

Uma longa preparação e explanação das medidas que Pedro II queria introduzir no funcionamento e na relação da Igreja com o mundo precipitaram as manobras de bastidores para a sua morte, sem antes desabafar para si mesmo, face aos obstáculos internos que encontrava: “a grande prostituta desfez a Babilónia”.



Um libelo
de combate
ao individualismo
grosseiro

“Pedro II, o último Papa” constitui um libelo contra o “individualismo grosseiro em que se afunda o mundo” e o Vaticano que “retira despudoradamente desses negócios satânicos chorudos rendimentos”.

Estamos perante a última obra deste Juiz Desembargador que durante muitos anos foi colaborador do jornal Correio do Minho. Que se saiba é também a sua primeira incursão no universo da ficção em prosa que acaba de ser lançado pela Editorial Magnólia.

Uma das suas últimas obras primas tinha sido mostrada na Biblioteca Pública de Braga em colaboração com a sua querida UNICEF, no átrio do Salão Medieval: uma exposição fotográfica intitulada Pôr do sol - quatro estações. Sob este título, Alberto Campinho (Juiz Desembargador Jubilado) apresentava mais de duas centenas de fotografias a cor no Sameiro (Braga).

Nos anos 2002 e 2003 foram anos de intensa pluviosidade no Outono e no Inverno, com alguns dias (Janeiro de 2003), de temperaturas muito baixas, naquela montanha bracarense, que o autor subia quase diariamente, sempre acompanhado da sua máquina fotográfica. Eram os anos de uma vida por causas que marcaram os últimos trinta anos de Alberto Campinho em Braga.

O Estatuto do Tribunal de Contas foi outras das suas obras, editada em 1998, enquanto mas Alberto Campinho deixou-nos outras obras como “A lei do celibato eclesiástico (ensaio sobre o clero, classe social)”, “Regime jurídico do contrato de trabalho de menores : história, legislação, anotações, convenções”, editado pelo Correio do Minho em 1995, que também deu à estampa “Justiça em Portugal; hoje... o quê?, em 1988.

Natural de Barcelos, Alberto Campinho fez os seus estudos nos seminários de Braga, exercendo posteriormente docência em Braga, Cabo Verde e Lisboa. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra (1975), ingressando a seguir no Ministério Público.

Depois de frequentar o Centro de Estudos Judiciários (1980), transitou para a Magistratura Judicial, sendo juiz de Direito em diversas comarcas do Minho. Promovido por mérito à 2ª instância, foi juiz desembargador no tribunal de Relação de Évora, do qual recentemente se aposentou.

Este seu novo livro “não pretende ser um tratado teológico sobre a Igreja ou um compêndio de história eclesiástica”. É mais “um trabalho de investigação jornalística (de opinião)” sobre um tema candente e polémico, “na busca e sugestão de soluções para problemas que se colocam, desde há séculos, à Igreja Católica”.

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