Thursday, February 15, 2007

Lanhoso: Paixão Bastos — um escritor ignorado




José da Paixão de Carvalho Bastos faleceu há 60 anos e a sua vida de escritor — que publicou há cem anos a monografia “No Coração do Minho: a Póvoa de Lanhoso histórica e ilustrada” — acaba de sair da penumbra em que os povoenses injustamente mergulharam.

O ‘culpado’ desta dupla efeméride é o jornalista e escritor povoense José Abílio Coelho e a edição é da responsabilidade do jornal “Terras de Lanhoso” que assim nos disponibilizam os momentos que marcaram a vida discreta deste jornalista, historiador, escritor, comerciante, solicitador e escrivão de direito.

O livro serve também para “pagar” uma dívida da Póvoa de Lanhoso para com este “lutador incansável pelas causas públicas da terra onde nasceu”, numa altura em que a vila da Póvoa de Lanhoso não passava de uma “mão-cheia de casas de granito e barro distribuídas por dois largos e mais meia dúzia de ruelas”.

Paixão Bastos, nascido em 1870, foi um grande apaixonado pela terra onde nasceu, um “excelente escritor e jornalista, um povoense preocupado com os problemas do seu concelho que jamais se furtou a opinar e a defender as ideias em que acreditava” mesmo quando teve de ficar sozinho contra todos.

Era intenção do autor deste biografia de Paixão Bastos, reeditar a monografia publicada há cem anos, uma vez que é uma obra “esgotadíssima e quase desconhecida dos povoenses de hoje”.
No entanto, o autor verificou que a monografia estava “desactualizadíssima” e merecia uma re-publicação com dignidade, o que vai ser feito com a colaboração do historiador Paulo Freitas, que a vai enriquecer com notas complementares e de actualização.

Quanto à vida e obra de Paixão Bastos, apenas se sabia que a data de nascimento e morte e que era o autor de dois livros “No Coração do Minho” e “Maria Luísa Balaio”, para além de ter criado alguns jornais. Afinal, deixou-nos seis obras, entre elas um “Cancioneiro”.

Acresce que os familiares pouca documentação possuíam sobre Paixão Bastos que evitava ser fotografado porque “se achava muito feio”. Idênticas dificuldades foram encontradas por José Abílio Coelho nos arquivos públicos ao ponto de causar-lhe profunda estranheza que nenhum dos seus livros — a não ser “No coração do Minho” que mereceu uma apreciação no semanário “Maria da Fonte” — teve eco nos jornais povoenses, nem mesmo no que era dirigido por um irmão, “O Castelo de Lanhoso”.

O autor possibilita assim ao leitor uma viagem até ao fim do século XIX, conhecer esses tempos, escassos trinta anos após a revolução da Maria da Fonte que fez tombar o governo de Costa Cabral.
Paixão Bastos era filho de um comerciante abastado e o terceiro de cinco irmãos, situação que lhe permitiu estudar em Braga, onde participa activamente na vida académica, ao ponto de se esquecer do que foi fazer para Braga: estudar.

Os primeiros escritos nos jornais aparecem só aos 23 anos, num jornal assumidamente republicano, ano em que regresssa à terra natal, sem concluir os estudos preparatórios.
Começa a publicar poemas em jornais de concelhos vizinhos, pois o Maria da Fonte estava suspenso devido a uma guerra com o magistrado local por causa da publicidade…

Assim, aparace um jornal meio clandestino “O chicote” que se extingue com o reaparecimento triunfante do “Maria da Fonte”, onde Paixão Bastos passa a ser um dos seus mais assíduos colaboradores.
Casas-se três anos após o regresso à Póvoa de lanhoso mas a morte da esposa, seis anos depois mergulha-o numa profunda crise existencial, de que dá conta num texto publicado num jornal do Rio de Janeiro, em 1903.

Dois anos depois sai o seu primeiro livro “Beijos e Abraços”. Face ao bom acolhimento deste, publica um livro de poemas “Alma em lágrimas”, enquanto se dedicava à publicação da sua obra mais valiosa, a monografia “No coração do Mnho”.
A Póvoa vivia agora o seu período áureo, com os melhoramentos construídos por António Lopes, possibilitando actividades culturais e recreativas que seduzem Paixão Bastos, agora a desempenhar a tarefa de solicitador.

Sem sorte na vida, aos 76 anos publica a vida da Maria da Fonte — “Maria Luísa Balaio”. No ano seguinte, a 13 de Dezembro de 1947 faleceu o “homem de letras” e “valoroso cidadão” que é colocado pelo jornal “Maria da Fonte” na galeria dos homens ilustres.

O livro — com 110 páginas — inclui uma boa série de fotografias e documentos alusivos a Paixão Bastos, bem como uma breve antologia de textos da sua autoria respigados dos seus seis livros.
Marcado pelo “ferrete da desgraça”, Paixão Bastos teve de viver sempre longe da terra, da família e dos amigos para ganhar o pão e um pouco de paz para observar os amores perfeitos do jardim público da sua Póvoa.

Quanto a José Abílio Coelho, dinamizador da Editora Ave Rara/Terras de Lanhoso, este é o quinto livro publicado, depois de “Rascunhos da História”, “Caminhos de terra batida”, “Trapos”, “O Homem que apanhava almas”.
Este escritor e jornalista prepara agora a edição de uma biografia do grande benemérito da Póvoa de Lanhoso, António Ferreira Lopes, cujas obras marcaram as três primeiras décadas do século passado da vila da Póvoa de Lanhoso.

1 comment:

Anonymous said...

boa «malha»!