Monday, February 19, 2007

Basto: “Um buraco no Inferno" e a Graça... da Senhora



Através da leitura de 260 páginas, António Ribeiro propõe-nos no livro “Um buraco no Inferno”, uma viagem à segunda metade do século XVIII — com cenários da Inquisição extinta dois séculos antes — até ao Vale de Bouro, a meio caminho entre Celorico e Mondim de Basto.

É aí onde existe uma grande devoção “às Senhoras da Graça, da Hora, da Guia e das Necessidades, todas irmãs”, mas a “Senhora da Graça era mãe delas todas” (cf. p. 79).

Estamos diante de uma laboriosa, atenta e inovadora reconstrução do percurso singular de um lavrador de aldeia que arquitectou, em meados do século XIII uma nova forma de pensar o mundo e do seu fim extraordinário.
Este lançamento da Palimage Editores (www.palimage.pt) inclui-se na colecção “Raiz do tempo” que conta já com mais dez volumes e vai agradar com toda a certeza àqueles que admiram a capacidade da imaginação humana.

Antes de mais, é obrigatório dizermos que este livro merece ser lido — ou não se passasse ele numa freguesia da arquidiocese de Braga de então — e anuncia um novo e promissor historiador”.

O livro permite-nos reconstruir a teia complexa de relações humanas numa remota aldeia de Portugal de Setecentos onde ainda não tinha chegado a “re-cristianização dos campos” empreendida pela Igreja após o Concílio de Trento.

António Ribeiro propõe-se fornecer ao leitor “aspectos do quotidiano que frequentemente são negligenciados por uma historiografia demasiado estrutural” que despreza pequenos factos que “não deixam de constituir traços de toda uma forma de pensar e viver”.

Conforme escreve José Pedro Paiva, no prefácio da obra, Este “Padre Eterno” construiu uma crença baseada nos textos cristãos que incluía um dilúvio de areia que vai consumir o mundo e uma reforma que propunha o fim do inferno, através de um buraco aberto no seu cume, através do qual a Senhora da Graça libertava os condenados.

Uma história irrepetível

João Pinto, o lavrador desta história irrepetível (como de resto são as histórias individuais), vive num meio rural onde se crê que o espírito dos mortos visita frequentementte o mundo dos vivos para os humilhar.
O herói desta novela histórica constrói um novo mundo a partir das leituras que fazia e do que ouvia, quer aos padres quer aos leigos do seu tempo.

Acresce que ele não vive só neste livro, uma vez que este autodidacta consegue reunir à sua volta um grupo de adeptos, fascinados pelos conhecimentos que exibia e pelas suas ideias e vivia na esperança de encontrar tesouros, ou não fosse o nosso lavrador heresiarca exímio — com fama e proveito — nos exorcismos que anteviam uma vida melhor. Para fazer nascer uma seita, João Pinto possuía todos os atributos neste livro que nasce de uma dissertação de Mestrado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Aliava a estes ‘dogmas’ a fama de ser um excelente feiticeiro, o que nos atira para o célebre moleiro Menocchio perseguido pela Inquisição e celebrizado por Carlo Ginsburg.

Ou seja, “parte-se do nome e de uma história individual para a colocar em contexto e procurar uma reconstrução da arqueologia das crenças que gerou, sobretudo a partir de livros que se sabe que João Pinto — um humilde lavrador de espírito bem vivo e sagaz — leu”.

Um jovem
nazareno

António Ribeiro nasceu na Nazaré em Janeiro de 1974 e licenciou-se em Historia pela Universidade de Coimbra, concluindo há quatro anos o Mestrado em História Moderna, com a dissertação que dá titulo a este livro “Um buraco no Inferno”.
Actualmente, prepara o doutoramento em História Moderna na mesma universidade, desenvolvendo uma investigação acerca do imaginário místico português, nas vertentes erudita e popular.

O arquivo inquisitorial (sobre visões, aparições e fenômenos análogos) constitui o seu ponto de partida, nos séculos XVI a XIX.
A capa de “Um buraco no Inferno” é a belíssima representação do Purgatório pintada por Josefa de Óbidos, existente no Convento de Cós, Alcobaça.

PS: dois anos de esperança

O PS faz aamanhã. dia 20, dois anos que conquistou a sua primeira maioria absoluta em eleições legislativas, e continua em alta nas sondagens, apesar da política de consolidação orçamental do seu Governo enfrentar elevada contestação social.
Numa campanha eleitoral praticamente sem erros, José Sócrates, defendeu um "choque tecnológico" para modernizar a economia portuguesa e três promessas: crescer mais de três por cento e recuperar 150 mil postos de trabalho até 2009; e colocar o défice do Estado abaixo dos três por cento.

No plano social, Sócrates avançou apenas com uma promessa emblemática: o pagamento do complemento solidário, abrangendo até ao final da legislatura os idosos com 65 anos e com rendimento inferior a 300 euros mensais.
No que respeita ao complemento social para idosos este ano já pode receber esta prestação os cidadãos com mais de 70 anos.

Já em relação à promessa de recuperar 150 mil postos de trabalho e colocar Portugal com uma taxa de crescimento de três por cento até ao final da legislatura, o cenário continua em aberto, mas o seu cumprimento será muito difícil
Ao contrário de anos anteriores em que a consolidação financeira se fez pelas receitas extraordinárias, a meta depende agora da redução das despesas, sobretudo através da Reestruturação da Administração Central do Estado.

Para cumprir o Programa de Estabilidade e Crescimento acordado com Bruxelas em 2005, o Governo tem seguido políticas de aperto orçamental que motivam forte contestação social, entre os trabalhadores da administração pública, autarcas e utentes de serviços de saúde e de educação.

Ao nível do emprego, não se vê a luz no fundo do túnel e as previsões para este ano e 2008 mantêm o desemprego entre os 7,5 e os oito por cento.

Como se está a ver, o Governo e o PS não têm razões para fazer festa amanhã, embora seja honesto afirmar que a esperança continua em alta.

A ética também obriga a que o balanço se faça no fim do mandato e não a meio, mas o espaço de manobra dos socialistas e está na proporção inversa do aperto que os portugueses sentem.

Thursday, February 15, 2007

Pedro II, o testamento do Juiz Alberto Campinho




“Pedro II, o último Papa” é talvez a última obra escrita ppelo Juiz Desembargador Alberto Campinho, a não ser que os seus herdeiros nos venham a deliciar com a edição de alguns manuscritos deixados por este antigo colaborador do Correio do Minho.

Corajoso e desassombrado, com a violência bíblica que é justificada aos pobres do Reino, Alberto Campinho dedica esta obra a João Paulo I, o Papa do sorriso que governou a Igreja Católica durante escassas semanas e morreu em circunstâncias que não abonam em favor da credibilidade da Sé de Pedro.

“E nele, a todos quantos tombaram na luta por um ideal — ver o “rosto de Cristo”” como O viram os cristãos das primeiras comunidades dos três primeiros séculos do cristianismo (uma κοινωνια) uma comunhão de pessoas que vivem neste mundo, mas como fermento... que se difunde para levedar a massa...

Para Alberto Campinho, esta κοινωνια era fiel ao “espírito do Amor, onde ninguém chama seu ao que lhe pertence, porque tudo é de todos” para transformar “o mundo das pessoas que não amam” sem recorrer a “dogmatismos, fundamentalismos, códigos nem anátemas”.

Este livro constitui uma portentosa apologia do Amor, como o “do samaritano que vai ao encontro do tombado na berma, que opta voluntariamente por se colocar na sua rota, sem indagar da sua identidade, raça, sexo, posição social ou convicções religiosas — libertação total de toda a miséria humana”.

Este espectacular regresso de Alberto Campinho às origens do Cristianismo — com toda a fundamentação cultural, histórica e humanística de que ele tantas provas de competência e eloquência nos ofereceu nas páginas do Correio do Minho e nos seus livros — corporiza-se numa deliciosa ficção, cientificamente contextualizada.

Alberto Campinho começa por nos falar de “Pedro do Rio, cardeal brasileiro, que é aclamado como o novo Papa depois de várias tentativas frustradas em conclave. Surpreendentemente, escolhe o nome de Pedro II. Porque na linha directa de Pedro I, Pedro II vai terminar com todos os negócios obscuros do Vaticano, devolvendo-o à maior pureza. Ninguém acredita que isto possa acontecer, excepto Alberto Campinho, autor do livro e os seus leitores, no fim das 216 páginas e do enredo dos sete — tinham de ser sete — capítulos que encerram com uma nova visão do mundo, depois deste enorme sonho.

É um sonho em que leitor é levado pela pena do autor a confrontar-se com uma severa condenação dos poderes que dominam o Ocidente, especialmente os do Norte, sim, os dos Descobrimentos, esses que “tinham força e engenho, mas tinham também o espírito das trevas que os fizeram predadores dos povos do Sul. Levaram tudo”.

De tal modo assim foi que os “anawim” — os simples — eram “objecto de desprezo e continuamente espezinhados pelas botas cardadas dos apalhaçados generais que os do Norte lá colocavam com os seus capatazes”.
Confrontando a verdade da autoridade com a autoridade da Verdade, o autor provoca um dialogo entre Pedro I, o primeiro Papa, e o seu homônimo II, passando em revista todos os erros cometidos pela Igreja ou as patranhas abençoadas por Ela, bem como a sua própria hilariante eleição.

Uma longa preparação e explanação das medidas que Pedro II queria introduzir no funcionamento e na relação da Igreja com o mundo precipitaram as manobras de bastidores para a sua morte, sem antes desabafar para si mesmo, face aos obstáculos internos que encontrava: “a grande prostituta desfez a Babilónia”.



Um libelo
de combate
ao individualismo
grosseiro

“Pedro II, o último Papa” constitui um libelo contra o “individualismo grosseiro em que se afunda o mundo” e o Vaticano que “retira despudoradamente desses negócios satânicos chorudos rendimentos”.

Estamos perante a última obra deste Juiz Desembargador que durante muitos anos foi colaborador do jornal Correio do Minho. Que se saiba é também a sua primeira incursão no universo da ficção em prosa que acaba de ser lançado pela Editorial Magnólia.

Uma das suas últimas obras primas tinha sido mostrada na Biblioteca Pública de Braga em colaboração com a sua querida UNICEF, no átrio do Salão Medieval: uma exposição fotográfica intitulada Pôr do sol - quatro estações. Sob este título, Alberto Campinho (Juiz Desembargador Jubilado) apresentava mais de duas centenas de fotografias a cor no Sameiro (Braga).

Nos anos 2002 e 2003 foram anos de intensa pluviosidade no Outono e no Inverno, com alguns dias (Janeiro de 2003), de temperaturas muito baixas, naquela montanha bracarense, que o autor subia quase diariamente, sempre acompanhado da sua máquina fotográfica. Eram os anos de uma vida por causas que marcaram os últimos trinta anos de Alberto Campinho em Braga.

O Estatuto do Tribunal de Contas foi outras das suas obras, editada em 1998, enquanto mas Alberto Campinho deixou-nos outras obras como “A lei do celibato eclesiástico (ensaio sobre o clero, classe social)”, “Regime jurídico do contrato de trabalho de menores : história, legislação, anotações, convenções”, editado pelo Correio do Minho em 1995, que também deu à estampa “Justiça em Portugal; hoje... o quê?, em 1988.

Natural de Barcelos, Alberto Campinho fez os seus estudos nos seminários de Braga, exercendo posteriormente docência em Braga, Cabo Verde e Lisboa. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra (1975), ingressando a seguir no Ministério Público.

Depois de frequentar o Centro de Estudos Judiciários (1980), transitou para a Magistratura Judicial, sendo juiz de Direito em diversas comarcas do Minho. Promovido por mérito à 2ª instância, foi juiz desembargador no tribunal de Relação de Évora, do qual recentemente se aposentou.

Este seu novo livro “não pretende ser um tratado teológico sobre a Igreja ou um compêndio de história eclesiástica”. É mais “um trabalho de investigação jornalística (de opinião)” sobre um tema candente e polémico, “na busca e sugestão de soluções para problemas que se colocam, desde há séculos, à Igreja Católica”.

Crianças em risco – tantas - nao sao riscadas em S. Adriao

Desde 1994 que as crianças em risco não são riscadas do programa de acção do Centro Cultural e Social de S. Adrião. Primeiro foi o PAC – Programa de Apoio à Criança – e depois surgiu o CACF – Centro de Apoio à Criança e à Família que se dividiu em duas vertentes, a do acolhimento temporário (no máximo um ano) de crianças que são enviadas pelos Tribunais de Menores e Família, e a das Actividades de Tempos Livres para crianças que vivem em bairros degradados ou famílias desestruturadas (CATL).

O CATL possui dois centros de animação, um em Santa Tecla e outro no Bairro Nogueira da Silva (na sede do Patrimonense). Esta valência é coordenada pela incansável e sempre disponível Cristina Faria, a quem estas crianças retiraram o direito a horários de trabalho certinhos.
O CAT – que recebe crianças retiradas aos pais em resultado de decisões judiciais – tem capacidade para 12 crianças e adolescentes.

O CATL acolhe e dinamiza os tempos livres de 45 crianças. Muitas das actividades são feitas em conjunto, embora as do CAT tenham um tratamento e ocupação dos tempos de vida de forma específica, dado o regime de internato.
Os meninos do CAT têm ali a possibilidade de receber afectos dos utentes das 17 valências que dão vida ao Centro Cultural e Social S. Adrião e constituem a menina dos olhos de João Sousa, presidente e fundador desta instituição.

A estes meninos e jovens, o Centro de S. Adrião disponibiliza uma psicóloga como directora técnica, uma educadora social, cinco ajudantes de acção educativa e os restantes serviços da instituição.
Desde 1999 já passaram pelo CAT 72 crianças e “conseguimos 49% de regressos a casa, afinal o objectivo do CAT”, sublinha Cristina Faria.

A maioria não regressam, mas “damos-lhes apoios aos estudos nos CATL’s, individualizado, procuramos estar muito próximos, saber das dificuldades e procuramos dialogar com as escolas”- acrescenta Cristina Faria, satisfeita porque "raramente os nosso meninos dão problemas na escola e assimilam muito bem o novo ambiente em que foram obrigados a viver”.

Depois das aulas, estes meninos desenvolvem actividades lúdicas, recreativas, conversa e têm sempre os tempos ocupados com lazer.
Como partilham uma experiência de internato, são educados para determinadas tarefas: “fazer a cama, levantar o parto e talheres da mesa, ajudar a pôr a mesa, manter o armário arrumado, educando-os assim para “alguma responsabilidade” que passa pelo cumprimento de horários, explica Cristina Faria.

O espaço do CAT possui boas condições e dispõe de TV, vídeo, leitor de Cd’s, uma playstation mas o seu uso tem de respeitar a “opinião da maioria”.
Os jovens do CAT – com idades entre os cinco e os 18 anos – estão ali durante um ano, no máximo, mas o Tribunal pode prolongar o período de acolhimento.


Bairros Nogueira da Silva
e Santa Tecla mais dignos

Quanto ao CATL, esta valência funciona entre as 9,30 e as 18,30 horas, com apoio de uma educadora social em cada centro de Animação (Santa Tecla e Bairro Nogueira da Silva), bem como um ajudante de ocupação e auxiliares.
Este trabalho de animação dos tempos livres das crianças “é feito em colaboração com as famílias, uma vez que aos sábados se realizam sessões com os pais sobre temas variados, como o emprego, a saúde, drogas, etc.

O objectivo deste programa, refere Cristina Faria, “é incutir nestas crianças projectos de vida saudáveis, através do apoio ao estudo e sensibilização para uma vida saudável” com apoio de enfermagem e psicologia.
Além disso, desenvolvem-se actividades recreativas e lúdicas direccionadas para estes temas da higiene básica, alimentação, etc., através de futsal, capoeira, ténis, mediateca, sempre gratuitas.

Estas actividades são tão atractivas que alguns dos adolescentes acabam por ficar por lá. É o caso do Márcio. “Foi nosso menino no CATL, até aos 18 anos, e é um voluntário que nos ajuda a trabalhar com os outros meninos e adolescentes” – lembra Cristina Faria.

Cristina Faria não esconde um brilho nos olhos quando fala dos “meninos do PAC” que agora “nos vêm visitar com os seus bebés pedir ajuda e ensinamentos”. A Cristina Faria é madrinha de casamento e de um filho de um dos “meninos” do CATL, o que comprova bem o apreço que estas crianças têm pelo trabalho que é desenvolvido por estas técnicas do Centro Cultural e Social S. Adrião cujo objectivo central é tudo fazer para que cumpram o sexto ano de escolaridade – “é uma grande vitória quando isso acontece” e cursos para lhes proporcionar o interesse por mais estudos e continuar na escola.

Lanhoso: Paixão Bastos — um escritor ignorado




José da Paixão de Carvalho Bastos faleceu há 60 anos e a sua vida de escritor — que publicou há cem anos a monografia “No Coração do Minho: a Póvoa de Lanhoso histórica e ilustrada” — acaba de sair da penumbra em que os povoenses injustamente mergulharam.

O ‘culpado’ desta dupla efeméride é o jornalista e escritor povoense José Abílio Coelho e a edição é da responsabilidade do jornal “Terras de Lanhoso” que assim nos disponibilizam os momentos que marcaram a vida discreta deste jornalista, historiador, escritor, comerciante, solicitador e escrivão de direito.

O livro serve também para “pagar” uma dívida da Póvoa de Lanhoso para com este “lutador incansável pelas causas públicas da terra onde nasceu”, numa altura em que a vila da Póvoa de Lanhoso não passava de uma “mão-cheia de casas de granito e barro distribuídas por dois largos e mais meia dúzia de ruelas”.

Paixão Bastos, nascido em 1870, foi um grande apaixonado pela terra onde nasceu, um “excelente escritor e jornalista, um povoense preocupado com os problemas do seu concelho que jamais se furtou a opinar e a defender as ideias em que acreditava” mesmo quando teve de ficar sozinho contra todos.

Era intenção do autor deste biografia de Paixão Bastos, reeditar a monografia publicada há cem anos, uma vez que é uma obra “esgotadíssima e quase desconhecida dos povoenses de hoje”.
No entanto, o autor verificou que a monografia estava “desactualizadíssima” e merecia uma re-publicação com dignidade, o que vai ser feito com a colaboração do historiador Paulo Freitas, que a vai enriquecer com notas complementares e de actualização.

Quanto à vida e obra de Paixão Bastos, apenas se sabia que a data de nascimento e morte e que era o autor de dois livros “No Coração do Minho” e “Maria Luísa Balaio”, para além de ter criado alguns jornais. Afinal, deixou-nos seis obras, entre elas um “Cancioneiro”.

Acresce que os familiares pouca documentação possuíam sobre Paixão Bastos que evitava ser fotografado porque “se achava muito feio”. Idênticas dificuldades foram encontradas por José Abílio Coelho nos arquivos públicos ao ponto de causar-lhe profunda estranheza que nenhum dos seus livros — a não ser “No coração do Minho” que mereceu uma apreciação no semanário “Maria da Fonte” — teve eco nos jornais povoenses, nem mesmo no que era dirigido por um irmão, “O Castelo de Lanhoso”.

O autor possibilita assim ao leitor uma viagem até ao fim do século XIX, conhecer esses tempos, escassos trinta anos após a revolução da Maria da Fonte que fez tombar o governo de Costa Cabral.
Paixão Bastos era filho de um comerciante abastado e o terceiro de cinco irmãos, situação que lhe permitiu estudar em Braga, onde participa activamente na vida académica, ao ponto de se esquecer do que foi fazer para Braga: estudar.

Os primeiros escritos nos jornais aparecem só aos 23 anos, num jornal assumidamente republicano, ano em que regresssa à terra natal, sem concluir os estudos preparatórios.
Começa a publicar poemas em jornais de concelhos vizinhos, pois o Maria da Fonte estava suspenso devido a uma guerra com o magistrado local por causa da publicidade…

Assim, aparace um jornal meio clandestino “O chicote” que se extingue com o reaparecimento triunfante do “Maria da Fonte”, onde Paixão Bastos passa a ser um dos seus mais assíduos colaboradores.
Casas-se três anos após o regresso à Póvoa de lanhoso mas a morte da esposa, seis anos depois mergulha-o numa profunda crise existencial, de que dá conta num texto publicado num jornal do Rio de Janeiro, em 1903.

Dois anos depois sai o seu primeiro livro “Beijos e Abraços”. Face ao bom acolhimento deste, publica um livro de poemas “Alma em lágrimas”, enquanto se dedicava à publicação da sua obra mais valiosa, a monografia “No coração do Mnho”.
A Póvoa vivia agora o seu período áureo, com os melhoramentos construídos por António Lopes, possibilitando actividades culturais e recreativas que seduzem Paixão Bastos, agora a desempenhar a tarefa de solicitador.

Sem sorte na vida, aos 76 anos publica a vida da Maria da Fonte — “Maria Luísa Balaio”. No ano seguinte, a 13 de Dezembro de 1947 faleceu o “homem de letras” e “valoroso cidadão” que é colocado pelo jornal “Maria da Fonte” na galeria dos homens ilustres.

O livro — com 110 páginas — inclui uma boa série de fotografias e documentos alusivos a Paixão Bastos, bem como uma breve antologia de textos da sua autoria respigados dos seus seis livros.
Marcado pelo “ferrete da desgraça”, Paixão Bastos teve de viver sempre longe da terra, da família e dos amigos para ganhar o pão e um pouco de paz para observar os amores perfeitos do jardim público da sua Póvoa.

Quanto a José Abílio Coelho, dinamizador da Editora Ave Rara/Terras de Lanhoso, este é o quinto livro publicado, depois de “Rascunhos da História”, “Caminhos de terra batida”, “Trapos”, “O Homem que apanhava almas”.
Este escritor e jornalista prepara agora a edição de uma biografia do grande benemérito da Póvoa de Lanhoso, António Ferreira Lopes, cujas obras marcaram as três primeiras décadas do século passado da vila da Póvoa de Lanhoso.

Celeiros: as grandes obras fazem-se com dinheiro dos pobres





Falar da paróquia de Celeirós e não investir algum tempo a conversar com ele, é deixar o trabalho incompleto. É um católico incontornável e é consensual o seu nome quando se procura alguém para falar do passado e presente do dinamismo que se respira na paróquia de Celeirós. Estamos a falar de um professor de Educação visual e tecnológica aposentado, desenhador e director de obras nas horas livres que ainda teve tempo e paciência para ser presidente de Junta de Freguesia durante treze anos (eleito pela primeira vez em 1976).

É o prof. Manuel Gomes Marques, 64 anos, nascido em Trandeiras, um dos mais ilustres filhos adoptivos de Celeirós, desde há 42 anos.

A ele se deve a dinamização de um grande grupo de habitantes de Celeirós para a construção da nova Igreja, um sonho ainda inacabado, bem como a dinâmica do Conselho Económico e agora o lançamento da Associação dos Amigos da Igreja, cujas primeiras eleições se efectuam no dia 24 deste mês.

Desde muito jovem, já em Trandeiras, esteve muito ligado às actividades religiosas, na senda dos pais. “Sempre estive muito ligado como praticante, quer em Trandeiras, quer em Figueiredo ou na Aveleda onde vivi antes de assentar em Celeirós, quando casei”.

Recusa de imediato que o consideremos o motor das transformações verificadas em Celeirós na década de oitenta e seguintes. “Não resulta só de mim. Há um conjunto de pessoas muito grande que começou a trabalhar já no tempo do padre Vaz Pinto, que arrastou consigo muitas outras. Foram elas que me impulsionaram para uma maior envolvência, depois com a presença do padre Sílvio Couto que impulsionou a vida paroquial. O Padre Fernando, honra lhe seja feita, pela confiança que deposita em nós, deixou-nos trabalhar”.

“Por isso, como lhe digo, é muita gente e a obra só foi possível porque houve um grupo de muitas pessoas que se envolveram para que nós conseguíssemos as receitas necessárias, cerca de um milhão e duzentos e cinquenta mil euros. Está tudo pago” – prossegue Manuel Marques.

Impressionante é o facto de “termos conseguido esse dinheiro todo dentro da freguesia. Não fomos pedir fora. Criámos as comissões de angariação que abrangiam todos os lugares da freguesia e cada um encarregava-se de mensalmente fazer a recolha dos donativos. Não havia um mínimo instituído. Cada um dava o que podia”.

O PROJECTO É MEU

Mas o projecto da nova Igreja é da sua autoria? Interrompemos.
“Sim, explica Manuel Marques. O projecto é meu, Colhi opiniões junto dos outros membros da Comissão mas o mais importante foi o empenho desta comissão no seu trabalho mensal”.

Explicando-se melhor, acrescenta: “o projecto da Igreja não era assim. Atendendo à actual situação, teríamos outra diferente, mas naquela altura apenas tínhamos aquele espaço disponível. Se existisse mais terreno, talvez tivéssemos conservado a Igreja velha toda”.
Quanto aos elementos decorativos, recorda, “foram apenas para enriquecer uma obra toda em betão, com uma traça própria. Os elementos não têm a ver com a parte velha, visavam chamar a atenção, dar maior dignidade a um edifício que é uma igreja. O problema é que ainda não está concluído o projecto. Nós prevíamos umas plataformas a enriquecer com imagens escultóricas que ainda não estão colocadas”.

Ainda nãos e sabe bem quais são as imagens a colocar mas não andaremos longe dos propósitos dos paroquianos se dissermos que uma será do padroeiro, S. Lourenço, outra de Cristo-Rei, dia da bênção da Igreja, e outra de Nossa Senhora.
No que se refere à entrada principal, prevê-se ainda a colocação de uma cruz com quatro metros de altura, apoiada numa estrutura a definir.

UMA ‘BRINCADEIRA’
DE CARNAVAL

Manuel Marques ainda se lembra bem quando começou esta longa aventura: no dia 16 de Fevereiro, de 1988. “Era dia de Carnaval e passamos esse dia a substituir o soalho da Igreja velha e esse foi o ponto de partida da ideia de uma nova Igreja” – recorda.

Dava-se assim o primeiro passo para uma obra com 1600 metros quadrados de área coberta (Igreja, salão paroquial e Centro Social) e o dobro em volume de construção.
Se atrás escrevemos que a Comissão não angariou fundos fora da freguesia, também é notável sublinhar que a Igreja nova foi construída com a colaboração de empresas da freguesia. Nada foi construído com materiais ou recursos de empresas exteriores a Celeirós.

“As grandes obras são feitas com o dinheiro dos pobres mas não podemos menosprezar a ajuda de alguns empresários da freguesia. Só para lhe dar um exemplo, todo o granito da Igreja e do centro Social foi oferecido por uma empresa, enquanto outra pagou toda a caixilharia e uma outra pagou as portas todas.

Assim se explica que o Padre Fernando Apolinário tenha chamado este e outros homens que se envolveram neste gigantesco investimento para constituírem o Conselho Económico (com 28 pessoas). Manuel Marques é o secretário e Domingos da Silva Oliveira é o tesoureiro. Os outros elementos do Conselho são outros benfeitores da paróquia, como Abílio Madureira, José Carvalho Moreira, Manuel Luís (que o ofereceu toda a instalação eléctrica para a nova Igreja), Manuel Pinto Lopes Cruz, Manuel Dias Rodrigues, Mário Ferreira Pinto e outros.

É uma tarefa difícil que foi confiada a estes homens porque o Conselho Económico é fortemente deficitário. As receitas das esmolas cobrem pouco mais de vinte por cento das despesas que rondam os cem mil euros anuais.
As freguesias, quanto maiores mais problemas têm. Com as igrejas é igual. A manutenção dos nossos espaços (1600 metros quadrados de área coberta) é muito dispendiosa e as esmolas dos ofertórios “são uma gota no oceano das despesas que temos. Conservar tem muitos custos e de dez em dez anos tem de se fazer intervenções de fundo”.

O Conselho Económico tem como missão “gerir os bens da paróquia” e “a nossa actividade, para além das obras de conservação e conclusão da Igreja, com as imagens, o fecho do telhado com algerozes e capacetes apoiados nas platibandas, pintura final, passa também pela recuperação da Igreja velha”.
Na Igreja velha, o soalho foi polido e “estamos a restaurar os altares que há 65 anos não sofriam qualquer intervenção. Vamos ver se está tudo pronto por altura dos Passos” – promete Manuel Gomes Marques.

AMIGOS
DA IGREJA
E DOS MAIS
POBRES

Sendo assim, as “receitas não chegam para os encargos correntes”. “Todos os anos temos de recorrer a donativos especiais de muita gente” e é por isso que “lançamos mãos de uma ideia: a criação de uma Associação dos Amigos da Igreja, em 2004”. Tem funcionado em regime de comissão instaladora, com 340 associados que pagam uma quota mínima de dois euros e meio mensais, mas no dia 24 deste mês vão ser eleitos os primeiros corpos gerentes.

Trata-se de uma associação “sem fins lucrativos que pretende gerar receitas extraordinárias para apoiar a Igreja quando esta não tiver as receitas necessárias”.
Mas a ideia é mais ambiciosa: “vãos tentar ter recursos para acorrer a situações de emergência. Quem passa aqui, pensa que não há pobreza. Há. E nós sabemos onde estão essas situações de miséria e queremos minimizar essas situações” – adianta Manuel Marques.

É que, prossegue, “ficamos tristes porque não temos recursos para minimizar essas situações de estrema pobreza. Com a Associação, e partindo do pressuposto que as pessoas vão aderir, pois esperamos chegar aos mil associados, podemos ter condições para minimizar esses casos”.
Acresce que a associação dos Amigos da Igreja tem estatutos que permitem bater à porta de instituições e organismos que têm a missão de ajudar nesse combate, para além de promover convívios e festas para unir as pessoas”.

Ainda há mentes brilhantes

O mundo das vedetas — do espectáculo ou do desporto — aparece-nos muitas vezes retratado como sendo um universo constituído por gente de cabeça oca de inteligência ou de valores humanos.
Não, não é assim.

Trazemos aqui dois casos que nos levam a ter esperança e a ficar felizes porque há vedetas lindíssimas por dentro.

Uma é a tenista Maria Sharapova e a outra é a actriz e cantora Jennifer Lopez.

A tenista entregou ontem ao Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas para Chernobyl vinte mil contos.

É um contributo para os esforços internacionais de combate à pobreza. Este gesto faz da jovem tenista uma nova embaixadora da Boa vontade.

Sendo uma jovem russa, esta tenista não assobia para o ar, diante de um drama que continua a matar milhares de pessoas, vinte e um anos depois do acidente.

A segunda mulher linda é a actriz e cantora Jennifer Lopez. Ela recebeu anteontem, no Festival de cinema de Berlim, o prémio "Artistas para a Amnistia" das mãos do primeiro-ministro timorense, José ramos-Horta.

O galardão foi atribuído pela organização Amnistia Internacional e é o reconhecimento do empenho desta cantora e actriz “numa campanha contra a violência sobre as mulheres.

O discurso e a entrega do prémio foram efectuados pelo primeiro-ministro de timorense e Prémio Nobel da Paz, José Ramos-Horta, que elogiou o filme "Bordertown", que Jennifer Lopez co-produziu, sobre uma jornalista que pesquisa desaparecimentos e assassínios em série de operárias das fábricas da cidade mexicana de Juarez.

A beleza e a riqueza interior destas duas mulheres deve levar-nos a todos a resistir, mesmo quando todos parecem ter desistido, Sharapova e Jennifer Lopez são a prova de que nem todos desistiram de lutar por um mundo melhor, com menos injustiça e mais direitos das pessoas.

Como no caso do matemático John Forbes Nash, que nunca deixou de acreditar e suportou provas que muitos não seriam capazes de agüentar, Maria Sharapova e Jennifer Lopepz merecem o estatuto de mentes brilhantes e corações lindos.

É dramático assistir à agonia da Esperança.
Essa é, muitas vezes, a sensação que atravessa a nossa vida em determinados momentos ou dias.
Não é o caso de hoje. E se não ficarmos apenas a bater palmas, não será o caso nunca.